sexta-feira, janeiro 20, 2012

ALBERTO JOÃO!

Podem-se-lhe imputar diatribes e atitudes espúrias, ditos grotescos e perversos cálculos, mas aí está a figura dum resistente! Contra os desígnios dum governo que quer reduzir o seu povo à indigência e ao descalabro moral, que verga os sindicalistas pelo medo e os trabalhadores pelo espectro da fome – força, força Companheiro Jardim!

terça-feira, janeiro 10, 2012

segunda-feira, janeiro 09, 2012

A RIQUEZA DAS NAÇÕES

A memória mais antiga que tenho de um merceeiro, é a do Sr. João, um comerciante simpático que tinha o seu negócio numa loja escura ao fundo da rua da minha infância. Desconheço-lhe o apelido e a biografia completa, mas fiquei com a ideia de que teria descido das Beiras ou do Minho, no princípio dos anos cinquenta, em demanda duma vida melhor. Era, portanto, um emigrante, aquilo que, nos tempos que correm, qualquer um de nós está habilitado a ser.
Ainda me recordo da sua loja, cuja peça mais extraordinária era a gaveta do dinheiro a que se acoplava um pequeno guizo. Ninguém, empregado ou familiar, podia abrir aquela gaveta sem que de tal se apercebesse o prudente comerciante.
O negócio do merceeiro corria, como se pode imaginar, sem grandes sobressaltos. O rendimento dos consumidores era parco, comprava-se uma quarta de feijão, meio litro de azeite, uma posta de bacalhau demolhado, lá de vez em quando um garrafão de vinho Sanguinhal ou Camillo Alves, mas tudo corria sem crédito da banca, não havia preocupações com o escudo, que era uma moeda forte, e o marçano-infantil-de-cesto-às-costas trabalhava pelo que comia mais uma nota de vinte escudos que mensalmente era enviada para os pais em Arcos de Valdevez .
O Sr. João tinha uma vida modesta e absolutamente normal. Não gozava férias, pagava as suas contribuições, fazia filhos à mulher, dava bodo aos pobres pelo Natal, votava como chefe de família para a Junta de Freguesia, e, julgo eu, nunca pensou expandir a actividade para além daquela viela e daquela loja escura onde ganhava o suficiente para si e para a sua prole.
Hoje, o negócio de mercearias transfigurou-se. Os merceeiros são gente fina, que dá entrevistas à televisão e tem artes de abalar qualquer governo democraticamente eleito. As lojas são amplas e bem iluminadas, expandem-se em rede por todo o país com agressivas campanhas de imagem e sensibilização dos consumidores. Recurso publicitário de efeitos garantidos é dizer-se que se aposta nos produtos nacionais, o-que é-nacional-é-bom, mesmo bom, mas dito a sério, não como na campanha daquele poeta-publicitário dos anos sessenta que quis convencer os consumidores de que “Bosch é brom”, felizmente que havia censura e não deixou passar o despautério.
Os merceeiros de hoje é vê-los de fatinho e gravata, engalanados como em dia de festa, criando esse-gê-pê-esses, trabalhando com o dinheiro dos bancos e dos fornecedores, abrindo lojas no leste da Europa, no Estreito de Magalhães ou no deserto da Namíbia, porque, conforme se diz, o capital merceeiro não tem fronteiras, conhece os corredores das bolsas, não há pê-esse-i-vinte que lhe resista.
Porém, nem tudo é fácil. Há as incertezas do euro, essa espécie de moeda que os governos insistem em dizer que é para continuar, mas de que os merceeiros desconfiam como Maomé desconfiava do toucinho e da entremeada. Há os impostos, coisas lixadas para qualquer merceeiro que se preze. Felizmente que o mundo é vasto e os caminhos fáceis de percorrer. Há paraísos que acolhem as drogas leves e despenalizam os capitais estrangeiros. Há ilhas caimão, aligátor, jacaré e gavial. Há montes de possibilidades para quem aposta na internacionalização.
Como nada percebo de economia e negócios, pouco mais sei dizer. Só sei que tenho saudades de mercearias como a do Sr. João, onde ninguém ia ao engano, onde todos sabíamos o que comprávamos: uma lata de sardinhas era uma lata de sardinhas, um chouriço era um chouriço, um quilo de batatas era um quilo de batatas. Hoje vamos a uma mercearia moderna e arriscamo-nos a comprar a queda do governo, a ruína da moeda única ou a derrapagem da nossa consolidação orçamental.
Por mim, estava-me marimbando para estes negócios de mercearias finas e deixava-os ir à vida na paz do Senhor. É certo que poderíamos perder alguns benefícios da internacionalização, como o salmão fumado da Noruega, as tâmaras não sei de onde ou os chocolates da Ferrero Rocher. Paciência. Continuaríamos bem servidos com a sardinha de Peniche, a broa de Avintes, o vinho tinto do Cartaxo e o porco preto alentejano.
Merceeiros há muitos, meu amigos, o que é preciso é conhecê-los, amá-los, e, depois… (aqui entraria uma palavra feia a que o escrevente não se atreve ). Houve um inglês que em tempos que já lá vão se pôs a discorrer sobre a riqueza das nações. Eu digo que a riqueza das nações, pelo menos a da nossa, não é nada disso. É, nesta situação de estarmos a ser lixados todos os dias, ainda sermos capazes de resistir pelo riso e por algo mais, como cruzar o braço com o punho, à Bordalo, para as caras gordas dos figurões. Ora tomem!

sábado, janeiro 07, 2012

FANTASIAS NOCTURNAS

Scarlett Johansson

Já não podia ver aquela cara barbada no topo do blogue. Assim está bem melhor.

sexta-feira, janeiro 06, 2012

BREVE APONTAMENTO SOBRE ECONOMIA E FISCALIDADE

Este rapazinho barbado, deputado do CDS, é um patriota! Indignado pela conduta do Sr. Alexandre Soares dos Santos, sugeriu no Parlamento que os consumidores podem (ou devem?) tirar consequências da decisão de deslocalização do seu grupo empresarial.
Por mim, já aderi. Nas mercearias do tal Alexandre, nem uma caixa de fósforos!
O Rei Mago é que não diz nada. Nem o Álvaro. Nem o Primeiro. Tanto têm defendido a emigração das pessoas, como podem estar agora contra a emigração das empresas?

quinta-feira, dezembro 22, 2011

CEMITÉRIO DA VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DE S. FRANCISCO DE VILA DO CONDE





EPITÁFIO PARA UM POETA

As asas não lhe cabem no caixão!
A farpela de luto não condiz
Com seu ar grave, mas, enfim, feliz;
A gravata e o calçado também não.
Ponham-no fora e dispam-lhe a farpela!
Descalcem-lhe os sapatos de verniz!
Não vêem que ele, nu, faz mais figura,
Como uma pedra, ou uma estrela?
Pois atirem-no assim à terra dura,
Ser-lhe-á conforto:
Deixem-no respirar ao menos morto!


JOSÉ RÉGIO, Filho do Homem (1961)

sábado, dezembro 03, 2011

"A ARTE E A REVOLUÇÃO"

Com a docilidade que a caracteriza, a pretendida arte soviética fez deste mito burocrático um dos seus temas predilectos. Sverdlov, Derjinsky, Uritsky e Bubnov são representados nas pinturas ou esculturas, sentados ou de pé em torno de Estaline, escutando os seus discursos com extrema atenção. (…) Que se pode esperar ou exigir de artistas obrigados a borrar com os seu pincéis os rasgos grosseiros de uma falsificação histórica evidente para eles mesmos?

LEON TROTSKY, Sobre arte y cultura, Madrid, Alianza Editorial, 1974, pp.205 e 206.

sexta-feira, dezembro 02, 2011

OS TRÁGICOS AFECTOS

Fotografias do arquivo privado de Frida Kahlo (Coyoacán, México, 1907 - Coyoacán, México, 1954) em exposição no MUSEU DA CIDADE.

Leon Trotsky, no México, com o pintor muralista Diego Rivera.

A pintora Frida Kahlo - uma obra caracterizada por André Breton como de um "surrealismo espontâneo, surgido do insconsciente".

A explicação dos afectos.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

PRIMEIRO DE DEZEMBRO

Hoje, na nobre cidade de Alverca do Ribatejo, a fanfarra da Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense percorrendo as ruas com os acordes do Hino da Restauração. Avante! Avante! Pela defenestração do novo Miguel de Vasconcelos!

quinta-feira, novembro 24, 2011

O FADO

Agora que o fado se candidata a património imaterial da humanidade, vale a pena ler este texto escrito por José Régio há mais de setenta anos:


Várias são as modalidades do fado, conforme o meio em que se desenvolve: Assim, há o fado dos lupanares, das tabernas, das alfurjas; o fado de salão, de palco, de retiro, de coreto de rancho popular estilizado; o fado das alfamas e mourarias de Lisboa; dos luares do Mondego e becos da Alta Coimbra; das revistas chulas do Porto ou dos cegos das feiras dos subúrbios. Assim, há o fado que arrota e o que põe água de cheiro, o que soluça e o que satiriza, o que pode refrescar a literatura e o que a envilece, o que vai barra fora em terceira classe, guardado numa caixa de guitarra como no coração dum búzio saudoso, e o que se embarca em discos ou navega em ondas sonoras enviadas pelas emissoras. Assim há o fado às vezes execrável e o fado às vezes tocante, – um e outro característicos através das suas várias modalidades. Mas seja como for, entre muitas manifestações da nossa alta literatura culta e essa manifestação primária que é o fado (tão primária nas suas formas mais espontâneas como no risível pedantismo ingénuo das mais aperaltadas) – não há nenhum abismo senão o da expressão artística e mentalidade do autor. A fonte de inspiração é a mesma; e muitas vezes os motivos são os mesmos: paixão do solo pátrio, vontade de aventuras, desgosto das injustiças sociais, exibicionismo da desgraça, amor filial e amor maternal, sede de piedade, “saudades de tudo” [verso de António Nobre], penas de amor de toda a casta.

JOSÉ RÉGIO, no ensaio António Botto e o Amor, 1938.

quarta-feira, novembro 23, 2011

"A CATÁSTROFE" - Eça de Queirós

A situação descrita no texto de Eça de Queirós não está longe da que hoje se vive no nosso país. De quem é a culpa? Há seis meses era, segundo a maioria dos portugueses, de um mau governo e de excessos por ele cometidos. O mau governo foi-se embora, mas os sacrifícios exagerados que o mesmo pedia – e que, recorde-se, foram recusados por todos os partidos da oposição, do CDS ao BE – são hoje maiores e de mais desigual incidência do que aqueles que então pretendiam impor-nos.
A hipocrisia política refugia-se agora na crise internacional, na acção dos mercados e na necessidade de o governo implementar reformas para salvar o país, ou seja, cumprir as regras severas que nos foram ditadas com vista não a garantir o desenvolvimento económico ou a retoma do emprego, mas para que os credores possam ter o seu dinheiro de volta, com juros, dentro do prazo combinado.
Penso não haver dúvida de que estamos sob ocupação estrangeira – daí ter chamado Eça e A Catástrofe à colação –, governados por um ministério colaboracionista, de certa forma semelhante ao de Vichy em França durante a Grande Guerra.
É o estado de necessidade, dirão, como na França de 1940. É verdade, mas não foi por isso que deixou de aparecer De Gaulle e a luta da Resistência. Então era o poder militar alemão, agora é o poder económico dos mercados e, de novo, o poder da Alemanha, já não militar, simplesmente económico e político, querendo manter uma moeda forte e uma liderança acéfala contra os interesses da maioria dos povos da Europa.
As medidas que estão a ser tomadas e as que ainda acabarão por chegar configuram a catástrofe queirosiana. O país perdeu a independência e não creio que a retome tão cedo, a não ser que haja um golpe de conjurados como o de 1640.
É por isso que sou pela greve geral de amanhã. Sei que no imediato não vai resolver nada e, provavelmente, até agravará os sacrifícios por que estão a passar as classes mais desfavorecidas. Compreendo que muitos irão trabalhar com medo de represálias ou por não poderem dar-se ao luxo de perder um dia de salário. Compreendo isso e também a posição dos que, apesar de tudo, não deixarão calar a revolta . Quando se dá um murro de desagravo na cara de alguém há sempre o risco de se partir os dedos. Porém, não é por tão pouco que se deve ficar de mãos nos bolsos.

sábado, novembro 19, 2011

AS GARÇAS

Hoje, ao fim do dia, no relvado da praceta. Vieram cedo, este ano.

DESCOBRIMENTO DA ILHA DA MADEIRA, ANO 2011

Eminentes os oiteiros, & profundos os valles, em sua desproporção, guardavão arquitectura rigorosa & agradavel; (...).

D. Francisco Manuel de Melo, Epanaphoras, "Descobrimento da Ilha da Madeira, Anno 1420"

quinta-feira, novembro 03, 2011

UM POSTAL DE BRUGES

Recebido hoje.

VOU LENDO

Efectivamente, aquele chá parecera a Swann algo de precioso, tal como a ela, e o amor tem tanta necessidade de encontrar uma justificação para si mesmo, uma garantia de duração, em prazeres que, pelo contrário, sem ele o não seriam e com ele terminam, que, quando saíra às sete horas para ir a casa vestir-se, durante todo o trajecto que fez no seu coupé, não podendo conter a alegria que aquela tarde lhe causara, repetia para si mesmo: “Seria muito agradável ter assim uma pessoazinha, em casa de quem se pudesse achar essa coisa tão rara que é um bom chá.” Uma hora depois recebeu um bilhete de Odette e reconheceu logo aquela grande letra, em que um fingimento de rigidez britânica impunha uma aparência de disciplina aos caracteres informes que porventura teriam significado para olhos menos prevenidos a desordem do pensamento, a insuficiência da educação, a falta de franqueza e de vontade. Swann esquecera-se da cigarreira em casa de Odette. “Se se tivesse esquecido também do coração, não deixaria que o recuperasse.”

MARCEL PROUST, Em Busca do Tempo Perdido, volume I, Do Lado de Swann, tradução de Pedro Tamen, Lisboa, Círculo de Leitores, 2003, p. 236.

segunda-feira, outubro 24, 2011

O "JONGLEUR" DE ESTRELAS E O SEU JOGO

Já me desgostei da poesia de José Régio, chegando mesmo a crer que só no teatro e na ensaística, quiçá em alguma das suas ficções curtas, se manifestava o génio artístico do seu perfil de “contemporâneo capital”, como lhe chamou Eduardo Lourenço. Se é nos Poemas de Deus e do Diabo e em Biografia que melhor me encontro com a sua lírica, há sempre alguns poemas, fora daquelas obras, que não deixam de me entusiasmar. Este é um deles, e adivinhe-se porquê:

O jongleur de estrelas tem os pés de barro,
Tem as mãos de cinza…

Sobre os pés de barro salta no infinito,
Com as mãos de cinza movimenta os astros.

O jongleur de estrelas tem os olhos fixos,
Mas em todo o corpo nervos dinamistas.

Seus nervos dispersos dão um acorde único…
Não! seus olhos fixos é que olham mil pistas.

O jongleur de estrelas é mentira!: mente
Na retina fosca dos que julgam vê-lo.

O jongleur de estrelas não se vê de fora,
Por ser de mais belo!

Ora um dia, o dedo do Senhor, clemente,
Tocar-lhe-á, misericordiamente.

E o jongleur de estrelas há-de desfazer-se
Sobre os pés de barro, sobre as mãos de cinza…

Do jongleur de estrelas restam as estrelas,
E outros brincarão com elas!

JOSÉ RÉGIO, Livro Terceiro de As Encruzilhadas de Deus

terça-feira, outubro 18, 2011

A OLIVEIRA DE SARAMAGO

Fotografia tirada em 15/10/2011

Agora que está aí um romance inédito de Saramago, atrevo-me a dizer que a oliveira centenária sob a qual repousam as suas cinzas está a secar. Ou serei eu que não percebo nada de árvores?

domingo, outubro 16, 2011

O CÃO GREGO

Em Atenas, há poucas semanas

Em Lisboa, ontem


Encontrei-o na Alexandre Herculano, a preparar-se para entrar na manifestação, ainda os indignados não tinham chegado à sede do Partido Socialista e lançado contra a fachada rosa do edifício aquele clamoroso coro de assobiadelas. Vi-o depois, caninamente surpreendido com o pacifismo dos portugueses, junto à casa de D. Amália, em plena descida da Rua de S. Bento. O pessoal ia embalado, gritando palavras de ordem lixadas, dessas que dizem cobras e lagartos de governantes que trabalham esforçadamente para a salvação do país, e o canídeo abanava o rabo de contentamento.
– Mas este é o cão grego das manifestações! – disse uma rapariga morena, por sinal nada má, que ia à minha frente na manifestação, integrada num grupo Free Hugs. Aproveitou para me dar um forte abraço e tive de aceitar a carinhosa demonstração de mais duas jovens, esquivando-me a tais afectos quando se encaminhava para mim, com igual propósito, um rapaz magro e barbado que vestia uma t-shirt com uma gravura do Che Guevara.
Uma senhora da UMAR, já adiantada nos anos, deu uma bolacha ao animal e fez-lhe uma festa na cabeça. O bicho estranhou, como se visse o Partenon erguer-se de súbito em plena Rua de S. Bento. Habituado que estava a cargas policiais e ao gás lacrimogéneo de Atenas, devia custar-lhe a compreender aquelas demonstrações de afecto dos portugueses. E soltou um ladrido rouco, arrastado, gemente de indignação.
Disseram-me depois que tinha sido o primeiro a ultrapassar as barreiras da polícia e a instalar-se na escadaria do edifício do Parlamento. Pelas dez da noite ainda lá estava, segundo o meu informante, ladrando e abanando o rabo a cada medida aprovada pela assembleia popular. Parece que foi afastado pelo cordão policial, não sem que antes tenha lançado o dente à bota de um pobre polícia que acabara de perder os subsídios de Natal e de férias dos próximos anos.
Acham isto extraordinário? Eu não! Há tantos cães sentados nas bancadas do parlamento e nos cadeirões do governo, a lamberem as botas da troika e do seu títere Vítor Gaspar, que a atitude deste rafeiro é a coisa mais verosímil do mundo.
Acabo esta crónica à pressa. Estou de saída para a assembleia popular das 7 horas. Pelo sim, pelo não, vou levar um agasalho: pode ser que fique para a acampada.

sexta-feira, outubro 14, 2011

15 DE OUTUBRO

Lá estarei, até que a madrugada venha. É o exercício do meu direito à utopia!

"VOCÊ SABE LÁ O QUE É A VIDA" - Jerónimo de Sousa para Passos Coelho

A interpelação de Jerónimo de Sousa a Passos Coelho, hoje, no Parlamento, comoveu-me. Acho que só sabe o que é a vida quem anda todos os meses a contar os tostões, a ver se o dinheiro chega para a alimentação, para a escola das crianças, para a renda de casa ou para a amortização do crédito à habitação. Atrevo-me a dizer que eu não sei o que é vida. Passos Coelho, no entanto, diz que sabe, conforme resposta dada ao líder comunista.
Já tivemos vários mentirosos a chefiar o governo. Este é mais um.

sexta-feira, outubro 07, 2011

AS GARÇAS

Por enquanto só os melros, as rolas e os pardais se avistam sobre o espaço verde da praceta. Mas já não falta muito para que as garças apareçam de novo. Brancas e luminosas, com o seu porte belíssimo, atravessam os espaços entre prédios como se voassem nas larguezas da lezíria. Será preciso que chegue Dezembro, ou Janeiro, quando o rio sobe e os campos naturalmente se alagam.
Espero por elas como quem acredita no dia que vem.

quarta-feira, outubro 05, 2011

DISCURSOS


“Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.”
– Em 9 de Março de 2011, discurso de tomada de posse para o segundo mandato, na vigência do governo de José Sócrates.

“Estamos todos confrontados com uma situação que exige vários sacrifícios. Provavelmente, os maiores sacrifícios que esta geração teve de fazer.”
– Em 5 de Outubro de 2011, discurso de comemoração da implantação da República, na vigência do governo de Passos Coelho.

terça-feira, outubro 04, 2011

RÉGIO E "OS THIBAULT"

Será que José Régio não leu Os Thibault de Roger Martin du Gard com a profundidade que a obra em princípio reclamaria?
Numa entrada de 13 de Dezembro de 1958 do seu diário, encontramos o seguinte:
Diz-me um rapaz de Lisboa que o José Gomes Ferreira dizia de A Velha Casa: “Mas aquilo é Os Thibault…”.
Se A Velha Casa é ou não Os Thibault vou tentar agora tirar a limpo. Entre ontem e hoje já avancei em cinquenta páginas do primeiro volume, e não me parece obra para se deixar de lado.
Régio, no entanto, diz-nos:
Comecei (…) Les Thibault; e também os pus de parte, sem chegar a concluir o primeiro volume. Li fragmentos do segundo, e desisti. Recomecei este mês, neste ano, a leitura da obra, mas começando pelo volume L´été de 1914. Se puder lerei depois os restantes.
E logo depois:
Enfim, quase tudo me desgosta no pobre do meu Martin du Gard! Não mais escreveria eu uma linha n´ A Velha Casa, se acreditasse (como o Gomes Ferreira e, provavelmente, outros) que a minha obra não é senão uma réplica portuguesa, em menor, daquela penosa construção sem qualquer fagulha de génio…
O nosso escritor bem pode ter-se desgostado desta escrita sem fagulha de génio, mas lá que insistiu na sua leitura, insistiu. Alguma razão deveria ter para tal persistência.

segunda-feira, setembro 26, 2011

JOÃO CABRAL DO NASCIMENTO (Funchal, 1897 - Lisboa, 1978)

Retrato de João Cabral do Nascimento por Abel Manta


Fernando Pessoa elogiou o seu primeiro livro, As Três Princesas Mortas num Palácio em Ruínas (1916), dizendo ter visto no autor “qualidades de imaginação e inteligência que podem fazer dele um poeta inadjectivável”.
Vasco Graça Moura diz encontrarem-se na sua escrita ecos que vão da poesia finissecular a Eugénio de Castro e Mário de Sá-Carneiro.
Tem vasta obra no domínio da poesia e da historiografia. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, dedicou-se ao ensino e foi director do Arquivo Histórico da Madeira.


EPIGRAMA

Deixarei vir a noite, a noite escura,
Porque sei que regressa o claro dia.
Verei cair a chuva, sossegadamente,
Porque sei que após ela o sol há-de raiar.
Assistirei tranquilo
Ao decurso do Inverno, porque sei
Que ao fim dessa jornada
Desponta a Primavera – lúcida promessa
Enfim cumprida!

Mas como hei-de deixar correr a vida?

(Digressão, 1953)

sábado, setembro 24, 2011

O DESCOBRIMENTO DA ILHA DA MADEIRA

Nenhum dos companheiros conhecia aquele lugar e os mais experimentados na navegação duvidaram pudesse haver terra em uma paragem do mundo nunca até então descoberta dos homens.

(D. Francisco Manuel de Melo, Epanáforas)

domingo, setembro 18, 2011

CLÁUDIA DE CAMPOS (1859-1916) - escritora de Sines

Ficcionista e ensaísta, recebeu referências elogiosas de diversas personalidades literárias do seu tempo: Bulhão Pato, Trindade Coelho, Thomaz Ribeiro e Abel Botelho. Inspirada pela tradição inglesa, escreveu sobre Percy Shelley e Charlotte Brontë. Deixou uma narrativa à clefEle – da qual ela mesma é personagem com o poético nome de Cléo.
Tive agora notícia desta interessante mulher durante os poucos dias que passei em Sines.

SINES

Praia Vasco da Gama de Sines em 14 de Setembro de 2011

domingo, setembro 11, 2011

"APARIÇÃO"

O livro é velho, dos mais velhos que possuo. Li-o pela primeira vez há muito tempo, depois de ter ouvido falar dele e do seu autor num almoço de colaboradores do suplemento juvenil do “Diário de Lisboa”. O meu exemplar pertence à 4.ª edição de 1964, 12.º milhar, uma cifra editorial que não deixa de surpreender.
Nunca mais esqueci o episódio da mão do Bailote (capítulo V), o semeador que se enforca por não dispor de condições físicas para trabalhar, logo, por não poder garantir a sua subsistência:
– Quando foi da sementeira, o patrão Arnaldo disse-me: “Ó Bailote, tu já não tens a mesma mão para semear.” Porque eu, senhor doutor, tive sempre uma mão funda, assim grande, como um cocho de cortiça. Eu metia a mão ao saco e vinha cheia de semente. Atirava-a à terra e semeava uma jeira num ar.
(…)
E mostrava a sua desgraçada mão, envelhecida, carbonizada de anos e soalheira.
(…)
– Dê-me um remédio, senhor doutor. Um remédio que me ponha a mão como a tinha. Assim, grande, assim, funda, assim, assim…
Aparição
é um belo romance-ensaio sobre o Homem e a sua condição existencial, sobre a privação de Deus e o destino trágico do pensamento. Mas este episódio da mão do Bailote, pela questão social que levanta, sabe de certa forma a neo-realismo.

sexta-feira, setembro 09, 2011

AMARANTE VI

Casa de Teixeira de Pascoaes

Quem traz o outono ao meu jardim agora?/ Quem muda em cinza o fogo do meu lar?/ E quem soluça em mim? Quem é que chora?

Teixeira de Pascoaes, Elegias.

AMARANTE V

O Tâmega, um rio que vem da Galiza.


AMARANTE IV

Túmulo de S. Gonçalo. Sobre a estátua jacente do taumaturgo, dois ramos de cravos e umas perninhas de cera. A fé é que nos salva, diz o povo.

AMARANTE III

Igrejas de S. Gonçalo e S. Domingos

AMARANTE II

"Se a Ciência é a realidade das coisas fora de nós, a Poesia é a sua realidade dentro em nós."
Teixeira de Pascoaes, A Arte de Ser Português, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998, p. 67.

AMARANTE I

"Chega a Amarante o Macdonell, general-em-chefe dos revoltosos, ex-frades, morgados, soldados e oficiais do extinto exército legitimista, bandos de campónios armados, de chapéu de palha e tamancos de pau, prontos a largarem-nos para a fuga, ante o inimigo aparecido no primeiro cabeço de monte ou curva de caminho. Camilo, ao saber da estada do escocês, na Flor do Tâmega, faz dum cordel um correão, dependura dele uma pistola, monta no Pégaso dos raptos alados, e vai juntar-se ao célebre general, que o nomeia seu ajudante-às-ordens."
Teixeira de Pascoaes, O Penitente (Camilo Castelo Branco), Lisboa, Assírio & Alvim, 2002, p. 88.

quarta-feira, agosto 24, 2011

MEMÓRIAS

As Pequenas Memórias de José Saramago, focando o período da infância e o início da adolescência, visam suprir a falta de um registo que os diários iniciados em 1993 (Cadernos de Lanzarote) dificilmente poderiam dar: o da origem humilde de que tanto se orgulhava, sentimento bem patente no discurso de Estocolmo perante a Academia Sueca (7 de Dezembro de 1998):
O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcos de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia.
No entanto, é interessante verificar que alguns registos de As Pequenas Memórias apareçem já em Manual de Pintura e Caligrafia de 1977. Romance autobiográfico, então? Talvez não. Para um romance ser autobiográfico terá de haver uma clara identificação entre o protagonista e o autor empírico, o que parece não acontecer aqui. É verdade que há esses registos avulsos da infância de Saramago, é verdade que o autor deverá ter feito as peregrinações nele referidas por museus, monumentos e pinacotecas de Itália. Mas não chega. Manual de Pintura e Caligrafia, não obstante a deriva final em que surgem em cena o apodrecimento do regime marcelista e o movimento do 25 de Abril, é um ensaio em forma de ficção sobre a autobiografia, o auto-retrato e a posição do artista perante a obra de arte. Diz o narrador: Biografamos tudo. Às vezes, contamos certo, mas o acerto é muito maior quando inventamos. A invenção não pode ser confrontada com a realidade, logo, tem mais probabilidades de ser exacta.

terça-feira, agosto 23, 2011

O "EU" QUE FALA DE SI

Por esta passagem se percebe como a autobiografia de Roland Barthes é tudo menos a explanação da noção tradicional de autobiografia:

A mim, eu (Moi, je)

Um estudante americano (positivista ou contestatário: já não consigo distinguir) identifica, como se fosse óbvio, subjectividade com narcisismo; pensa certamente que a subjectividade consiste em falar de si, para dizer bem. Isto, por ser vítima dum velho casal, dum velho paradigma: subjectividade/objectividade. Todavia, hoje em dia o sujeito toma-se noutro lado e a “subjectividade” pode regressar noutro ponto da espiral: desconstruída, desunida, deportada, sem amarras: porque não hei-de falar de “eu”, uma vez que “eu” já não é “mim mesmo” (je – moi-même)?

segunda-feira, agosto 22, 2011

"AS PALAVRAS" - A AUTOBIOGRAFIA DE SARTRE

Da sua autobiografia, diz Sartre: Penso que Les mots (As Palavras) não é mais verdadeiro do que La nausée ou Les chemins de la liberté. Não que os factos que aí relato não sejam verdadeiros, mas Les mots é uma espécie de romance também, um romance em que acredito. Significa para Sartre que a autobiografia, usando os mesmos processos técnicos e formais do romance, com este se igualiza em dignidade artística, não se limitando a uma escrita meramente referencial.
As Palavras é um retorno não sentimentalista à infância do autor com a descoberta de dois tesouros: a leitura e a escrita. O menino Jean-Paul, órfão de pai, tutelado por um avô culto e liberal, conheceu cedo o episódio protagonizado por Carlos V, dobrando-se humildemente para apanhar do chão o pincel de Ticiano. Ficou assim a saber que a arte está acima do poder dos príncipes.
Sobre a importância da escrita na construção da sua personalidade, diz: Nasci da escrita: antes dela, havia apenas um jogo de espelhos; desde o meu primeiro romance, soube que uma criança se introduzira no palácio dos espelhos. Escrevendo, eu existia, e se dizia eu, isso significava eu que escrevo.

domingo, agosto 21, 2011

AS "CONFISSÕES" DE ROUSSEAU

Do preâmbulo do autor: Este é o único retrato de homem, pintado exactamente segundo o natural e em toda a sua verdade, que existe e que provavelmente existirá jamais.
Do início do Livro Primeiro: Eis aqui o que fiz, o que pensei, aquilo que fui. Falei, com igual franqueza, do bem e do mal. Nada calei de mau, nada acrescentei de bom, e, se me aconteceu empregar qualquer insignificante adorno, foi tão-somente para tapar uma lacuna motivada pela minha falta de memória; posso ter tomado como verdadeiro o que sabia havê-lo podido ser, nunca o que sabia ser falso.
Estes excertos das Confissões remetem-nos para três perspectivas teóricas sobre a autobiografia: 1ª. A de que a autobiografia, como documento, é referencial: há um sujeito que precede a escrita; 2ª. A de que o autobiógrafo, embora querendo dizer a verdade, não está imune aos desvios da memória, aos impulsos do inconsciente e ao desejo de construir um mito pessoal; 3ª. A de que a escrita não pode narrar a vida de ninguém, partindo da ilusão referencial para sempre chegar à ficção; assim, a escrita autobiográfica não reproduz o sujeito, este é que se cria através da escrita.

sábado, agosto 20, 2011

NABOKOV: AUTOBIOGRAFIA E MNEMÓSINE

A autobiografia de Vladimir Nabokov (1899-1977), cujo título na edição portuguesa é Na Outra Margem da Memória, foi designada como Speak, Memory desde a sua primeira versão de 1947.
No prefácio da edição de 1966 é referido pelo autor que a primeira ideia para título teria sido Speak, Mnemosyne , ideia entretanto abandonada por razões comerciais, porque, segundo conselho recebido, “as velhinhas nunca pediriam um livro com um título que não soubessem pronunciar”. As “velhinhas”daqueles já distantes tempos eram, pelos vistos, grandes leitoras. Convinha pois tê-las em conta.
Ao ler hoje o prefácio e os três primeiros capítulos da edição portuguesa, e ao reparar na palavra que não vingou no título – Mnemosyne – pensei na questão da memória, aspecto importante da teoria autobiográfica pelo uso que dela faz o autobiógrafo quando se dispõe a recuperar factos passados há muitos anos, alguns deles do período longínquo da infância.
É o problema da verdade da autobiografia, dos sempre possíveis desvios da memória (sob a forma de omissões ou embelezamento dos factos narrados) e dos impulsos inconscientes que levam a dar como verdadeiro aquilo que nunca foi.
Mnemósine era na mitologia grega a deusa da Memória. Mas mais do que isso era a mãe das nove musas das artes liberais, sendo que uma delas, Calíope, era a musa da poesia e da eloquência. E é assim que tudo faz sentido no título que Nabokov escolheu e não teve coragem de levar por diante. A autobiografia, que nasce da memória, acolhe-se por direito ao templo de Calíope: porque embora sendo história, é também poesia; porque sendo eloquência, é sobretudo retórica. Tanto como deleitar, a autobiografia está obrigada a convencer o leitor das verdades que narra. Mesmo que sejam ficções.

quinta-feira, agosto 18, 2011

ASSUNÇÃO!

A rapariga até é engraçadinha. Com o seu ar sensato e voluntarioso, com o seu olhar de inteligência calma e irradiante, assemelha-se bastante à colega que todos gostaríamos de ter tido na faculdade para nos passar os apontamentos das aulas a que faltávamos ou para nos explicar as matérias que a nossa limitada compreensão de machos dificilmente conseguia absorver. É ministra da agricultura, actividade humana à qual se aplica na perfeição o decreto do Eterno: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”.
Don Lope, ancião por quem começo a ganhar algum afecto (co-extensivo, em moldes especiosos, à sua filha dilecta) dizia-me há tempos que o chefe partidário de Assunção era o único homem em Portugal que poderia salvar a nossa agricultura! Afinal foi salvar outras agriculturas, mas deixou a pequena no lugar em que ele deveria estar – o lugar que lhe pertencia por todas as razões e mais uma, que é a de ser um lugar em que nunca se poderia meter a comprar submarinos ou a fazer outras despesas intoleráveis com material de guerra.
Vi ontem a Assunção numa herdade do Alentejo, na reportagem do telejornal, a escolher tomate ao lado de mulheres de chapéu e lenço sobre a nuca (é bom ver os governantes a meterem a mão na massa – na do trabalho, entenda-se) e aproveitando para falar de fundos que se encontravam paralisados por incompetência de anteriores governos, e que ela acabava de desbloquear para felicidade de todos os agricultores.
Enquanto não chegam as manifestações dos polícias, da Intersindical, dos indignados do Rossio e da Avenida da Liberdade, enquanto não se sentir bem o peso dos efeitos do IVA na electricidade, no gás e os que resultarão da redução da TSU, enquanto não chegar o Natal mais pobre das últimas décadas, é bom que a televisão nos dê estas imagens tranquilizantes. Para susto já bastam as malcriadices do Alberto João, a voz gutural do Aníbal, a cidadania apocalíptica do Nobre.
Haja Deus!

quarta-feira, agosto 17, 2011

"DESVIO COLOSSAL" II

Uma cena de Ettore Scola, "Feios, Porcos e Maus"

Governo Regional diz que faz sacrifícios, por isso também tem direito a empréstimo.
A Madeira exige uma fatia dos 78 mil milhões de euros que a 'troika' emprestou a Portugal para pôr em ordem as contas da região. Alberto João Jardim fez saber isso mesmo a Passos Coelho e a Cavaco Silva, mas a região autónoma não parece disposta a fazer mais sacrifícios, além dos que estão escritos no memorando. As Finanças estão a estudar a hipótese de ajuda, depois de a 'troika' ter descoberto um buraco de 277 milhões nas contas da região, que contribuiu para o "desvio colossal" do Estado.

(DN on line)

terça-feira, agosto 16, 2011

OBRA COMPLETA DE ALMEIDA GARRETT

Quem possuir os dois tomos que se perfilam na banda direita desta imagem, pode estar certo de que tem consigo uma obra valiosa. Para comprová-lo bastará ler a abertura do capítulo II das Viagens, um exemplo vívido e inultrapassável de ironia romântica:

Estas minhas interessantes viagens hão-de ser uma obra-prima, erudita, brilhante de pensamentos novos, uma coisa digna do século. Preciso de o dizer ao leitor, para que ele esteja prevenido; não cuide que são quaisquer dessas rabiscaduras da moda (…) sem nenhum proveito da ciência e do adiantamento da espécie.
Porém, há quem nunca abra estes livros e os tenha como simples ornamento de estantes nas salas harmoniosas, em sintonia decorativa com a cor dos cortinados e os galões das sanefas. Ignoram os tesouros que a obra contém, mas não desconhecem certamente o seu valor de mercado:


Uma obra valiosa, de facto: 1000 EUR a custo justo!