sexta-feira, outubro 31, 2014

O KITSCH

Em “A arte do romance”, Milan Kundera define um conjunto de sessenta e sete palavras que são, por assim dizer, o léxico-base ou o léxico-problema dos seus romances. Entre elas a palavra «kitsch», associada muitas vezes, de forma redutora, a «arte de pacotilha», mas que, segundo Hermann Broch, é algo diferente de uma mera obra de mau gosto.
Presente em toda a sexta parte de “A insustentável leveza do ser”, o kitsch de Kundera desdobra-se em declarações tão interessantes como esta: “O kitsch é o ideal estético de todos os políticos, de todos os partidos e de todos os movimentos políticos”.
Há o kitsch totalitário, o familiar, o amoroso... Digo, por minha conta e risco, que um caso de kitsch amoroso é uma mulher convidar um homem para a cama e ele não aceitar. Não tem este meu juízo qualquer conteúdo valorativo, porque o kitsch não é bom nem mau, é simplesmente diferente. Ainda segundo Kundera, o kitsch é a ditadura do coração, e está tudo explicado.
 

quarta-feira, outubro 08, 2014

NOBEL DA LITERATURA 2014

Será um destes dois - o japonês HARUKI MURAKAMI ou o queniano NGUGI WA THIONG´O. Quem o diz não é a universidade, nem a crítica, mas as casas de apostas. Quem sou eu para duvidar de tão esclarecidas organizações? Amanhã saberemos, mas, está mais que visto, a coisa decide-se entre eles. 

quarta-feira, outubro 01, 2014

MURAKAMI, OUTRA VEZ

O segundo conto já cá canta. É a história de um casal que acorda de madrugada com um grande acesso de fome. Como não tinham comida em casa, resolvem assaltar uma padaria. O problema é que em Tóquio, àquela hora, não conseguiram lobrigar padaria aberta. Em alternativa, já desesperados, despejam a vérmina criminal da fome sobre uma loja McDonald´s. Ameaçando os empregados com uma arma, roubam nada mais nada menos que trinta hambúrgueres Big Macs.
Moral do conto: só em estado de grande necessidade se troca uma refeição de pão fresco pela comida de plástico da conhecida cadeia alimentar.
Uma coisa não se compreende: a nota da tradutora na página 44. Eu acho, o que não é uma certeza, que os tradutores têm prejudicado muito o Murakami, ou seja, têm-no baixado deliberadamente de nível, em traduções de segundo e terceiro grau, talvez com o objectivo de o tornarem ainda mais vendável.
Às minhas amigas admiradoras deste muito provável Nobel (umas quatro, no mínimo), recomendo que aprendam rapidamente japonês.