quinta-feira, abril 30, 2015

ÁLVARO DE CAMPOS E FERREIRA DE CASTRO - A VERTIGEM FEBRIL DAS MÁQUINAS

Dois textos e temáticas afins:

1/. A "Ode Triunfal" de ÁLVARO DE CAMPOS
 
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r  eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo quanto eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
(…)

2/. A peregrina do mundo novo, novela futurista de FERREIRA DE CASTRO publicada na revista ABC entre 13 de Agosto a 31 de Dezembro de 1925. Ilustrações de Emérico Nunes e Roberto Nobre.


domingo, abril 12, 2015

ESTAR OU NÃO ESTAR NUMA RELAÇÃO


As ligações afectivas mais ou menos duradouras são por vezes designadas, nas redes sociais da Internet, por esta expressão singular: “estar numa relação”. A princípio era o precariado juvenil que se servia dela, mas ultimamente tem vindo a estender-se a outros estratos etários, alguns de pessoas de razoável nível social e cultural.
Um professor universitário apresenta no seu perfil da rede social facebook um dado curioso: «Numa relação desde Janeiro de 2015».
“Estar” numa relação não é o mesmo que “ter” uma relação, porque a diferença entre ter e estar exprime um sinal de precariedade característico da sociedade moderna em que vivemos, uma sociedade de “corrosão do carácter”, como foi assinalado pelo sociólogo Richard Sennett.
Quando “estiver” numa nova relação, o dito professor indicará provavelmente “desde Agosto de 2015” ou “desde Fevereiro de 2016”, fixando assim o curso temporal e a transitoriedade dos seus afectos. Hoje, e cada vez mais, o que parece corresponder às aspirações de muitos não são  relações que se desejem duradouramente boas, mas, simplesmente, que sejam boas enquanto durarem.
“Estar numa relação” é uma coisa tão moderna que não nos vemos a dizer de Franz Kafka que esteve numa relação com Felice Bauer ou Milena Jesenská. E o mesmo de Garrett com a Viscondessa da Luz.
“Estar numa relação” é, portanto, matéria de Sandras Vanessas e Alexes Romeus, miudagem dos nossos dias, mas também de alguns senhores e senhoras com nomes antigos e idades para serem vovós.
Cá por mim, que sou mais antigo que moderno, ainda vou preferindo o “ter” ao “estar”. Mas isso,  dirão os meus amigos e eu humildemente aceito, são manias de quem quer ser diferente e, afinal, não deixa de ser igual aos demais.  

domingo, abril 05, 2015

DE EGITANIA À PONTE ROMANA DE ALCÁNTARA

Egitania foi o nome dado pelos visigodos a Civitas Igaeditanorum, hoje Idanha-a-Velha. A história da cidade encontra-se ligada à ponte romana de Alcántara (século II), pois como consta de inscrição colocada no seu arco central, os igaeditani contribuíram em dinheiro, como outros povos da Lusitânia, para a realização da obra. (Ver JORGE DE ALARCÃO, O Domínio Romano em Portugal). Fotos de 2/4/2015.