segunda-feira, janeiro 27, 2014

FRAGMENTO DE UMA PÁGINA DE DIÁRIO


Ela tinha no corpo um cheiro a maçãs, e ele pensou que era do gel de banho ou de algum perfume raro, desses que não se vendem nas lojas populares dos centros comerciais.
 
Nada percebia de geles de banho, nada percebia de perfumes.

Só entendeu quando ela lhe mostrou as árvores do seu jardim: os pomos rescendiam nas frondes, já a manhã se anunciava sob o pontilhismo de estrelas cada vez mais pálido.  
 
 

terça-feira, janeiro 21, 2014

CASA DA ACHADA - CENTRO MÁRIO DIONÍSIO

Ontem, na CASA DA ACHADA, antes da sessão sobre Picasso – leitura do duplo quadro A Guerra e a Paz (1952), feita por Eduarda Dionísio a partir de O Amor da Pintura, de Claude Roy – calhou fotografar estes trabalhos de MÁRIO DIONÍSIO  ali expostos.
Duas passagens da Introdução ao Catálogo da Exposição na Galeria Nasoni (1968):
“A pintura seria o paraíso se não fosse a consciência das nossas limitações. Consciência e criação não se querem muito juntas. Mas, mesmo assim, bendita seja ela, essa consciência.”
Quem cedeu alguma vez ao apelo da fala sem palavras que a pintura é, há-de entender-me, espero.”
MÁRIO DIONÍSIO
 Pescador. Óleo s/ tela, 67 x 51,5, s.d.
 Mulher à mesa. Óleo s/ tela, 64 x 49, 1951
Rapariga na rua. Óleo s/ serapilheira, 65 x 52, 1944
 

sexta-feira, janeiro 17, 2014

terça-feira, janeiro 14, 2014

GOUVARINHAR


Um verbo picante e sensual que lembra camas desfeitas e frestas de luz em alcovas de sombra. É incrível como ainda não entrou nos dicionários!
Eça, no capítulo V de Os Maias, põe na boca de Ega o seguinte convite a Carlos, o herói (ou anti-herói) do romance:
“Eles [os Gouvarinho] desejam conhecer-te, sobretudo a condessa faz empenho… Gente inteligente, passa-se lá bem… Então decidido! Terça-feira vou-te buscar ao Ramalhete e vamo-nos «gouvarinhar». A condessa de Gouvarinho era “uma senhora inglesada, de cabelo cor de cenoura, muito bem feita (…)” e Carlos “achava-a picante, com os seus cabelos crespos e ruivos, o narizinho petulante e os olhos escuros, de um grande brilho (…)”.
Sabemos o resultado que a coisa deu: Carlos «gouvarinhou» até se fartar, e o pior foi a sova que a senhora levou do marido, um político influente e poderoso, com tanto de vaidoso como de ignorante.
Um verbo de conjugação gostosa: tu gouvarinhas, ele gouvarinha, vós gouvarinhais…
Eliane Giardini como condessa de Gouvarinho na minissérie Os Maias (2001), Rede Globo, Brasil

terça-feira, janeiro 07, 2014

À VOLTA DISTO

Crioulos e crioulidade, as teses luso-tropicalistas de Gilberto Freyre na colectânea de ensaios Luanda, «ilha» crioula, do angolano M. António; uma novela (ou noveleta) do século XIX, Nga Muturi, do português Alfredo Troni (1845-1904); A Conjura, de José Eduardo Agualusa, e mais uns quantos textos. Coisas de pouca importância se comparadas com a chegada de mais um dia.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

2014

SCARLETT JOHANSSON confessou em 2009 que prefere festejar a passagem de ano em casa, vestida de pijama e deitada no sofá, com uma fatia de pizza e champanhe, vendo um programa de televisão. “Andar de uma festa para outra, de uma discoteca para outra, para depois das doze meter-me num táxi no meio da cidade, não é para mim”, disse. Rapariga ajuizada, é por isso que eu e Woody Allen gostamos tanto dela.   
Não sei se depois destes anos se mantém fiel a tão singelas disposições. Espero bem que sim, porque da  minha parte é o que costumo fazer. Com duas diferenças fundamentais: 1ª Sem pijama, peça de roupa muito redutora das liberdades corporais em vale de lençóis; 2ª Sem Moët & Chandon, não pelo preço, claro, mas pela preferência sempre dada aos vinhos nacionais. Este ano foi um Murganheira bruto, D.O.C. Távora-Varosa, reserva de 2006.
Quanto à fatia de pizza e ao programa de televisão, não os excluo de todo: é próprio dos altos espíritos fazerem  algumas concessões aos gostos da plebe.