Uma das
histórias surpreendentes narradas em Na
Patagónia é a do militante anarquista Simón Radowitzky, nascido na Ucrânia,
de família judia, em 1891, e falecido na Cidade do México em 1956. Diz o autor
que na Argentina de princípios do século XX as palavras russo e judeu como que
eram sinónimas. Só que este judeu não era como os de há dois mil anos que
mataram o Justo. Radowitzky matou à bomba o injusto chefe da polícia de Buenos
Aires, coronel Ramón Falcón, tendo sido preso na colónia penal de Ushuaia, na
Terra do Fogo. Corria o ano de 1909. Torturado e sodomizado punitivamente pelos
seus carcereiros, fugiu da prisão com o apoio de correlegionários, voltando a
ser preso e finalmente indultado pelo presidente Yrigoyen, em 1930, «num gesto de
boa vontade para com a classe operária». Radowitzky quis voltar à Rússia,
desconhecendo que na pátria revolucionária se tinha dado o massacre de anarquistas
em Kronstadt. Combateu em Espanha e veio morrer ao México, no mesmo país onde dezasseis
anos antes fora assassinado Trotsky.
quarta-feira, setembro 26, 2018
sábado, setembro 22, 2018
sexta-feira, setembro 21, 2018
VOU LENDO
Na área de anomalias congénitas do Museu Médico de Siriraj, Banguecoque - uma passagem deste "livro de viagens", 12º capítulo da 3ª parte:
«Talvez uma parte da aversão à morte tenha a ver com o rosto de tristeza que os mortos sempre apresentam. Sisudos, parecem contrariados por terem morrido, como se estivessem a ter um sonho mau.»
Lembrei-me de Ricardo Reis:
O sono é bom pois despertamos dele / Para saber que é bom. Se a morte é sono / Despertaremos dela; / Se não, e não é sono, // Com quanto em nós é nosso a refusemos / Enquanto em nossos corpos condenados / Dura, do carcereiro, / A licença indecisa. // Lídia, a vida mais vil antes que a morte, / Que desconheço, quero; e as flores colho / Que te entrego, votivas / De um pequeno destino.
quarta-feira, setembro 19, 2018
O TRABALHO, O CAPITAL E O PERIGO VERMELHO
NA DÉCADA DE
30, DURANTE O ÊXODO DE MUITOS AMERICANOS PARA A CALIFÓRNIA EM BUSCA DE
TRABALHO E DIGNIDADE ---
«Há aí um
tipo que se chama Hines. É dono de uns trinta mil acres de terra, com pêssegos
e uvas, e tem uma fábrica de frutas de conserva e um lagar. Bem, ele vive
constantemente a gritar contra “os malvados vermelhos”. “Esses vermelhos dos
diabos levam o país à ruína”, diz ele. “Temos de os enxotar daqui, a esses
patifes desses vermelhos.” Bem, um outro tipo que acabava de chegar do Oeste,
ouviu a coisa. Coçou a cabeça e disse: “Olhe, senhor Hines, eu estou aqui há pouco
tempo. O senhor pode dizer-me quem são esses malvados desses vermelhos?” Bem,
rapazes, o Hines respondeu assim: “Um vermelho é um desses filhos da mãe que
exigem trinta centavos à hora quando só queremos pagar vinte e cinco.” O rapaz
ficou a pensar no caso, coçou a cabeça e disse: “Olhe, senhor Hines, eu não sou
nenhum filho da mãe, mas também quero trinta centavos à hora. Quem é que os não
quer? Que diabo, senhor Hines, se assim é, então toda a gente é vermelha.”»
--- JOHN
STEINBECK, As Vinhas da Ira, tradução
de Virgínia Motta.
segunda-feira, setembro 17, 2018
PORT-VENDRES
Port-Vendres, Pays Catalan, France - foto tirada em Abril deste ano quando por lá passei. Referência a este porto de pesca, a propósito das vicissitudes do Reino da Auracânia e Patagónia, no capítulo 8 de Na Patagónia, de Bruce Chatwin, que agora leio. O Reino nunca mudou a sua corte de Paris, mas abriu consulados em diversos pontos do mundo, e também aqui em Port-Vendres. Gostei de saber.
sábado, setembro 15, 2018
GRANDE PLANO
ASTRID OFNER no papel de Antígona, filha incestuosa de Édipo e Jocasta, desafiadora de Creonte, o tirano de Tebas. Filme Antígona (1992), de Straub-Huillet, segundo a adapatação à cena feita por Brecht em 1948.
quinta-feira, setembro 13, 2018
ESCOLHAS
Num número antigo da
revista Estante (FNAC), leio uma
notícia curiosa: um júri constituído por Clara Ferreira Alves, Pedro Mexia,
Carlos Reis, Manuel Alberto Valente e Isabel Lucas elegeu, a pedido da revista,
os 12 melhores livros portugueses dos últimos 100 anos. O resultado foi este:
- O Delfim, de José Cardoso Pires
- Os Passos em Volta, de Herberto Helder
- Para Sempre, de Vergílio Ferreira
- Sinais de Fogo, de Jorge de Sena
- Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa
- Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio
- O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago
- Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes
- A Grande Casa de Romarigães, de Aquilino Ribeiro
- A Sibila, de Agustina Bessa-Luís
- Finisterra, de Carlos de Oliveira
- Húmus, de Raul Brandão
Destes, há um que não
li.
Se a lista fosse
alargada para 15, acrescentaria:
- A Selva, de Ferreira de Castro
- Barranco de Cegos, de Alves Redol
- Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde, de Mário de Carvalho.
terça-feira, setembro 11, 2018
sábado, setembro 08, 2018
sexta-feira, setembro 07, 2018
VOU LENDO
O título
remete para a fala de Julieta Capuleto no Acto II, Cena 2 de Romeu e Julieta:
What's in a name? That which we call a rose
By any other word would smell as sweet;
O nome, por
si só, não diz nada; diz, sim, daquilo que se sente por determinada pessoa ou
coisa. Mesmo com outro nome, seria sentido de igual maneira. Como o perfume da
rosa, ainda que a flor não se chamasse rosa.
«Extirpado o
nome, ficará o amor,
ficarás tu e
eu – mesmo na morte,
mesmo que em
mito só» = ANA LUÍSA AMARAL, Abril de 2017.
quinta-feira, setembro 06, 2018
Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam, e nunca reconhecem quando encontram; daquelas que, se elas as reconhecessem, mesmo assim não as reconheceriam. Sofro a delicadeza dos meus sentimentos com uma atenção desdenhosa. Tenho todas as qualidades, pelas quais são admirados os poetas românticos, mesmo aquela falta dessas qualidades, pela qual se é realmente poeta romântico. Encontro-me descrito (em parte) em vários romances como protagonista de vários enredos; mas o essencial da minha vida, como da minha alma, é não ser nunca protagonista.
= Bernardo Soares, O Livro do Desassossego.
quarta-feira, setembro 05, 2018
RELEITURAS
No primeiro dia do ano e nos que se seguiram ninguém morreu, a inexorável parca já desprovida da sua acerada tesoura. A santa igreja católica está preocupada: se não há morte, não há ressurreição, não há a vida eterna no paraíso celeste. O governo está preocupado: há sectores da economia, como as agências funerárias e as seguradoras, que vão entrar em crise. E os lares de terceira e quarta idades («lares do feliz ocaso») a abarrotarem de velhos que se recusam a partir? Tudo muito complicado, antes a morte que tal sorte.
terça-feira, setembro 04, 2018
POÉTICAS
«O elevador de Santa Justa é um caligrama.»
- ADÍLIA LOPES, Estar em Casa, Assírio & Alvim, 2018.
=Foto de 4-9-2018=
segunda-feira, setembro 03, 2018
GRANDE PLANO
JANE BIRKIN e MICHEL PICCOLI em La belle noiseuse (1991), de Jacques Rivette, adaptação cinematográfica da narrativa de Balzac Le chef-d´oeuvre inconnu.
domingo, setembro 02, 2018
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