sábado, dezembro 22, 2012

Poema de NataL


De novo o alarde rútilo dos luzeiros de NataL, o colorido
das árvores, a música que alastra sobre o plasma
da noite. Estou do lado de cá da festa, na margem
do passeio, rente à sombra dos muros por onde crescem,
quando é tempo, os  braços meigos das buganvílias.
Vejo de fora, através das janelas, o recorte de lentas
figuras de cera. Transportam no bojo, como numa
mala, a inexequível persuasão da vida, o pano gasto
de alegrias reeditadas em cada época. Nada me move,
nada me comove. Peço-te, por isso, que não venhas
agora: para além do mais seria de mau gosto
e nada adiantaria ao nosso caso. Deixa que se extingam
as volutas da quadra e procura-me depois, pela manhã
de um tempo mais verdadeiro e mais humano.

 JOSÉ RAFAEL

quinta-feira, dezembro 20, 2012

YOGA

Sessões de yoga orientadas pela modelo germânica Jordan Carver. Acabei de me inscrever.

segunda-feira, dezembro 03, 2012

A ESFERA E AS ESTRELAS

Ilusões de Natal na baixa de Lisboa. É preciso que alguns pequenos pontos se iluminem para que a noite possa continuar a crescer.

segunda-feira, novembro 26, 2012

LA NIÑA BUENA


                      Rodolfo Castro, em grande nível.
   Autor do conto: Hector Hugh Munro "Saki" (1870-1916)

domingo, novembro 25, 2012

CONTADORES DE HISTÓRIAS

RODOLFO CASTRO, artista argentino, um rapsodo dos tempos modernos. Uma sessão das suas incríveis narrações teve lugar na passada sexta-feira na Biblioteca Municipal de Oeiras. Não perder a próxima: Cinema São Jorge, Festival da revista LER, quarta-feira, 5 de Dezembro, às 22 horas.

quinta-feira, novembro 15, 2012

"O MELHOR POVO DO MUNDO"

Fotos DN
O povo de brandos costumes, uma invenção do salazarismo recentemente recuperada pelo inefável Vítor Gaspar, é capaz de coisas como as que ontem se viram nas imediações do parlamento. Não era isto que este governo de Vichy queria mostrar à ocupação estrangeira, e daí a atrapalhação, as loas à polícia, a pressa inusitada com que veio declarar a inocência da Intersindical.
Não adianta reduzir o sucedido às proporções do crime vulgar, diabolizar os poucos que provocaram e atiraram pedras, incendiando  e transformando uma zona de Lisboa em cenário que faz lembrar a revolta popular de Londres em 2011. O mal não está nesses por enquanto ainda poucos desesperados, mas nas políticas em curso que geram o desemprego e arruínam a esperança.
Tenham cuidado os Miguéis de Vasconcelos que nos governam que este povo não é brando e coisas piores podem vir a acontecer. Inquisidores, bandidos, regicidas e torcionários – temos de tudo isso no nosso sangue.

sexta-feira, novembro 09, 2012

FRAU EUROPA E OS SEUS TÍTERES

Lisboa, Amoreiras, Av. Conselheiro Fernandes de Sousa. Fotografia tirada hoje. Trabalho realizado pelos artistas Nomen, Slap e Kurtz em 20 e 21-10-2012.

quinta-feira, novembro 08, 2012

Johannes Brahms: Symphony N. 4, Allegro non troppo (1)


"Durante a escrita das numerosas versões de A Maçã  no Escuro, a autora [Clarice Lispector] ouviu até à exaustão a Quarta Sinfonia de Brahms, número que se exprime no livro como símbolo do mundo criado e de vida"

Da contracapa da edição Relógio d´Água, 2000.

VOU LENDO

Quando ela era menina, por pura tendência à subtileza e à fraqueza, dissera a um menino de quem gostara: «vou lhe dar uma pedra que encontrei no jardim» – e ele entendera que ela gostara dele, tanto que lhe dera em troca uma caixa de fósforos com um biscoito dentro.
(…)
Seus motivos de desejá-lo eram os de uma mulher que deseja amor – o que lhe parecia terrivelmente subtil. E como se não bastasse esse motivo estranho, ela o entrelaçara com um motivo mais subtil ainda: o de se salvar – que é certo ponto que o amor às vezes atinge.
(…)
 – Olhe esta samambaia! disse ela para o homem porque uma pessoa não pode dizer «eu te amo».
 
CLARICE LISPECTOR, A Maçã no Escuro, segunda parte, capítulo 6, pp. 155 e 156.

A BEGÓNIA


Agora que ela partira e só por raras cartas recebia notícias suas, doía-lhe que nunca lhe falasse da begónia, a planta que ambos criaram com um misto de carinho e sobressaltado encanto. Não compreendia como se pudera apagar do passado o milagre daquele pequeno ser que juntos viram crescer, ganhando o direito à vida, e que não raro os encheu de cuidados e lhes tirou o sono.
Trouxeram-na para casa num Inverno distante, como que adormecida, o pequeno vaso de plástico vestido de um jornal velho, as folhas redondas e miúdas espreitando sobre as letras machucadas que compunham notícias antigas, já sem préstimo.
Deixaram-na ao lado da televisão, exposta às destemperadas radiações de telejornais e reality shows, e a frágil planta ressentiu-se. Tempos depois, os caules que sustentavam as folhas vacilavam nas suas disposições orgânicas, via-se que a pobre estava em sofrimento, e eles lançaram-se a pesquisar em livros de botânica o remédio para o inesperado mal. Transferiram a planta para um vaso de barro, adubaram e regaram, vigiaram os efeitos nocivos de ácaros e fungos, e, como a Primavera tivesse então chegado, instalaram-na na varanda, recebendo o calor renascente do novo ciclo cósmico. Salvou-se.
Pensavam na begónia como se de um filha se tratasse. Amavam-na, falavam com ela mesmo durante aquelas fases em que cada vez menos falavam entre si, e viam-na já como uma planta adulta, uma árvore florida sobrepujando as diminutas proporções dos seus progenitores adoptivos. Eram uns pais felizes.
Depois ela foi-se embora e levou a begónia. E nunca mais lhe falou da planta, como se exclusivamente lhe pertencesse e nada tivesse que fosse de outrem. Ele ainda insinuou, uma vez, na correspondência que espaçadamente mantinham, que a filha era de ambos, que os dois a tinham criado e protegido nos transes mais difíceis da sua lenta progressão vital. Porém, as cartas que recebia continuavam a falar apenas de assuntos práticos e  tangíveis, como partilhas e outras disposições legais, não da begónia que parecia nunca ter existido nas suas vidas. 
Uma vez encheu-se de coragem e foi espreitá-la, manhã cedo, para não ser surpreendido pela vizinhança, sob a nova varanda em que vivia. Deu com uma planta alta, assim como uma mulher jovem e muito senhora de si, mas fosse pela distância que ia do chão ao segundo andar, ou talvez pela hora tão matinal em que só algumas plantas estão já completamente acordadas, juraria que ela não o havia reconhecido. Estava rodeada de companheiras, novas plantas cheias de cor, algumas em flor, que deviam encher-lhe os dias de juvenil satisfação. Queria lá ela saber daquele senhor de quem nem sequer recordava o nome.
Isto foi o que sentiu, e por isso logo se retirou, sem reparar que uma pequena folha, verde como só uma pequena folha sabe ser, se desprendia do caule e caía, tocada por um vento leve, sobre a calçada a que virava costas.
Seguiu o seu caminho, desolado e pensativo. Talvez na próxima carta, se houvesse uma próxima carta, chegassem notícias daquela begónia que nunca deixaria de amar. E neste pensamento se alegrou a manhã, subitamente bela como uma maçã mordida, um sonho na madrugada ou a memória feliz de um tempo antigo.

terça-feira, novembro 06, 2012

domingo, novembro 04, 2012

RETRATO DE VIDA COM NARCISO AO FUNDO

Dominava-o uma espécie de dislexia dos fonemas
do amor e por isso se acomodava ao fulgor
dos silêncios, à morosa retórica dos actos falhados
que a psicanálise tão bem explicou.
Era um solitário entre penhascos povoados,
um viajante que não conhecia a viagem.
Pensa agora que se pudesse recomeçar separaria
o afecto do orgulho e saberia distinguir
o viço de uma folha de árvore de um galho seco da mesma.
Mas isso é o que pensa e só diz nas escritas de água
com que se paramenta. Na prática,
faz como o filho de Cefiso e Liríope:
debruça-se no regato do seu ego
e continua a amar-se.

quinta-feira, outubro 25, 2012

ERICO VERÍSSIMO

Porto Alegre, Casa de Cultura Mário Quintana
Porto Alegre, monumento a Júlio de Castilhos
"Na praça, os jacarandás estão cobertos de flores roxas. Lá em cima, no topo do monumento, a imagem da República – uma mulher que tem na mão uma bandeira – faísca ao sol, recortando o seu perfil de ouro falso contra o azul puro do céu. Há pelos canteiros verdes e pelos caminhos de pedra miúda, sombras móveis e crivos luminosos.
Clarissa fica um instante a contemplar as árvores."
 
Erico Veríssimo, Clarissa, IX edição, Lisboa, Livros do Brasil, p. 17.



domingo, outubro 21, 2012

MATA ATLÂNTICA

Região de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 14-10-2012 
A Mata Atlântica é um bioma presente na maior parte no território brasileiro, abrangendo ainda parte do território do Paraguai e da Argentina. As florestas atlânticas são ecossistemas que apresentam árvores com folhas largas e perenes. Abriga árvores que atingem de 20 a 30 metros de altura. Há grande diversidade de epífitas, como bromélias e orquídeas.
Foi a segunda maior floresta tropical em ocorrência e importância na América do Sul, em especial no Brasil. Acompanhava toda a linha do litoral brasileiro do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte (regiões meridionais e nordeste). Nas regiões Sul e Sudeste a Mata Atlântica chegava até a Argentina e o Paraguai. Cobria importantes trechos de serras e escarpas do Planalto Brasileiro, e era contínua com a Floresta Amazônica. Em função do desmatamento, principalmente a partir do século XX, encontra-se hoje extremamente reduzida, sendo uma das florestas tropicais mais ameaçadas do globo. Apesar de reduzida a poucos fragmentos, na sua maioria descontínuos, a biodiversidade de seu ecossistema é uma dos maiores do planeta. Seu clima é subtropical e tropical.
 
(Fonte: Wikipédia)

quarta-feira, outubro 10, 2012

"A EDUCAÇÃO DO ESTÓICO" - III


Flores amo, não busco. Se aparecem
Me agrado ledo, que buscar prazeres
       Tem o esforço da busca.
A vida seja como o sol, que é dado,
Nem arranquemos flores, que, tiradas,
       Não são nossas, mas mortas.

RICARDO REIS, ode 129, 16-6-1932

terça-feira, outubro 09, 2012

"A EDUCAÇÃO DO ESTÓICO" - II


Já sobre a fronte vã se me acinzenta
O cabelo do jovem que perdi.
         Meus olhos brilham menos.
Já não tem jus a beijos minha boca.
Se me ainda amas, por amor, não ames:
         Traíras-me comigo

RICARDO REIS, ode 71, 13-6-1926

 

segunda-feira, outubro 08, 2012

"A EDUCAÇÃO DO ESTÓICO"

Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
     Quem és, e és estrangeiro. 
Cura de ser quem és, amem-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
     De penas.
 
RICARDO REIS, ode 131, 10-8-1932

sábado, outubro 06, 2012

O MELHOR POVO DO MUNDO

Hoje, cá pelos meus lados, o melhor povo do mundo celebrando mais um aniversário da Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense, fundada, imagine-se, em 6 de Outubro de 1874.

sexta-feira, outubro 05, 2012

VIVA O 5 DE OUTUBRO!

Laetitia Casta
Li já não sei onde que em França, após a libertação de Paris durante a Segunda Grande Guerra, a Associação de Autarcas Parisienses decidiu mudar periodicamente o busto original da República, adoptando como modelos artistas da música e do cinema franceses da actualidade. Assim, o modelo mais recente seria a actriz Laetitia Casta, nascida em Pont-Audemer, Alta Normandia, no ano de 1978.
Entusiasmado com a ideia, e na esperança de que a mesma pudesse estender-se a Portugal, publiquei no blogue em 5 de Outubro de 2010 uma fotografia da talentosa actriz, a qual mereceu comentários de três indefectíveis admiradores (ver arquivos).
Estava longe de imaginar que a voracidade neoliberal dos actuais donos do país nos comeria o feriado de 5 de Outubro, retirando-nos quiçá a possibilidade de aspirarmos a renovados bustos para a ultrapassada imagem da nossa querida República.
No dia em que se celebra o feriado pela última vez, dou um grande VIVA A REPÚBLICA! Por um novo busto, que o mesmo é dizer por uma nova política para a dita República. E já agora sem presidentes escavacados, e com a bandeira içada na posição correcta.

quinta-feira, setembro 27, 2012

FRASES DA SEMANA


“Estou-te a ver, mas não me filmas a cara.”
Segurança (ameaçador) de Passos Coelho para um operador de câmara da TVI – Instituto de Ciências Sociais e Políticas, homenagem a Adriano Moreira.

“Esta ministra da Justiça já deu provas de perceber tanto de Estado de Direito como eu de física quântica.”
Isabel Moreira, deputada do PS, a propósito de declarações da dita ministra.

sábado, setembro 22, 2012

AUSTERA, APAGADA E VIL TRISTEZA


No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dhua austera, apagada e vil tristeza.

Os Lusíadas, X-145
 

EM BELÉM

O palácio
A guarda do palácio
A Calçada da Ajuda
Os cartazes
Revistando
Prendendo
Para a semana há mais

sexta-feira, setembro 21, 2012

PRAÇA AFONSO DE ALBUQUERQUE

A praça é bonita, cheia de reminiscências heróicas. Tem um jardim com quatro fontes, uma estátua de alto pedestal e um palácio pálido em frente. Uma inscrição num banco de pedra atesta a fundação, no local, do mítico C. F. Os Belenenses, agremiação desportiva a que pertenceram Vicente e Matateu. Bem próximo fica a loja dos pastéis de Belém, a fonte luminosa e o Mosteiro dos Jerónimos – um rendilhado de pedra que corre sério  risco de privatização. Hoje vou passear por lá ao fim do dia: é bom fruir a beleza dos jardins de Lisboa.

domingo, setembro 16, 2012

EM LISBOA, ONTEM


I - Um elemento policial limpando as pedras soltas dos paseios nas imediações da representação do FMI (clicando, poderá observar-se o pormenor: uma pedra na mão). Uma manifestação ia passar por ali e a polícia, sabe-se, não despreza os ensinamentos bíblicos: David matou o gigante Golias com uma pedrada (Livros históricos, 1 Samuel-17).
II - Cantar e manifestar-se: Xácara das Bruxas Dançando.
III - Resignação, diziam eles.

sábado, setembro 15, 2012

EM LISBOA

PRAÇA JOSÉ FONTANA, com o Jardim Henrique Lopes de Mendonça e o seu belo coreto, o edifício da antiga Escola de Medicina Veterinária e o mítico Liceu Camões. Às cinco da tarde de um sábado de Verão o calor deverá apertar. A las cinco de la tarde… A las cinco en punto de la tarde.

sexta-feira, setembro 14, 2012

TOMAR

Fotografias de 13-9-2012
 
(...) Gostaria que fosse
por uma manhã cálida de Novembro, ao expirar
do Outono,  com os salgueiros respirando,
nas margens do rio, a prosopopeia dum choro.
JOSÉ RAFAEL