JOSEFA DE ÓBIDOS (1630-1684), Lactação de São Bernardo de Claraval, óleo sobre tela, Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra. Pintura mística de uma visão de São Bernardo - a mãe de Deus Menino esguichando leite para os seus lábios sequiosos de santidade.
sexta-feira, outubro 18, 2019
quinta-feira, outubro 17, 2019
CARTAS A MARIA
A Maria das
cartas é a madrasta de Mário de Sá-Carneiro, Maria Cardoso Peixoto, que
contraiu matrimónio com o pai do poeta em 4 de Novembro de 1915. Maria tinha na
altura 41 anos e Mário 25. As cartas de antes e de depois do casamento mostram uma
relação de amizade muito terna, por vezes piegas, com tratamento por tu e
vocativos demonstrativos destes sentimentos: «Minha Querida Maria», «Querida
Mimi», «Mimi do Mário Querida», «Querido
amor» e «Querida Maria do Mário». Uma das cartas é assinada como «Mário (teu! teu! teu!)» e outra pelo nome secreto de Bezerro.
Em carta de
Paris, de 9 de Agosto de 1914, quando a guerra já havia começado e o pai
viajava por África, Mário diz a Maria: «Em primeiro lugar está tranquila. Aqui não
corro perigo nenhum! Apenas às 8 horas – cama me fecit (sic) porque fecha tudo!... E há também que andar à pata todo o dia
pois os ómnibus andam todos em serviço militar – e o pessoal dos eléctricos e
do metropolitano foi todo para a guerra…» E mais adiante: « (…) tenho muita
pena da minha querida, querida Mimi pelo preocupada que está – e de resto eu
compreendo muito bem. Não julgues tu que não avalio como deves ter andado
triste – que não avalio o que tu e o papá devem sofrer. Juro-te que o sei medir
muito bem – e que tudo isso, tudo isso me contrista muito. Simplesmente o que
havemos de fazer?» Mário estava triste pela separação e pela tristeza dos seus,
mas o apelo de Paris, mesmo com uma guerra à porta, era mais forte em si.
quarta-feira, outubro 16, 2019
PINACOTECA
EGON SCHIELE (Áustria, 1890-1918), Fazendo Amor (1915), lápis e guache sobre papel, Museu Leopold, Viena.
segunda-feira, outubro 14, 2019
50 ANOS DA MORTE DE JOSÉ RÉGIO
Conferência de imprensa da CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, de tendência socialista) em 8 de Outubro de 1969 na Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Sentados, à direita, José Régio e Sophia de Mello Breyner Andersen. Foi a última aparição pública do poeta de Poemas de Deus e do Diabo que viria a falecer a 22 de Dezembro.
= Fotografia tirada do livro de António Macedo Na outra margem de Abril, Lisboa, Edições "O Jornal", 2º edição, 1989 =
domingo, outubro 06, 2019
LEITURAS
Aí vai um poema do engenheiro:
Que somos nós? Navios que passam um pelo outro na noite,
Cada um a vida das linhas das vigias iluminadas
E cada um sabendo do outro só que há vida lá dentro e mais nada.
Navios que se afastam ponteados de luz na treva,
Cada um indeciso diminuindo para cada lado do negro
Tudo mais é a noite calada e o frio que sobe do mar.
Que somos nós? Navios que passam um pelo outro na noite,
Cada um a vida das linhas das vigias iluminadas
E cada um sabendo do outro só que há vida lá dentro e mais nada.
Navios que se afastam ponteados de luz na treva,
Cada um indeciso diminuindo para cada lado do negro
Tudo mais é a noite calada e o frio que sobe do mar.
quarta-feira, outubro 02, 2019
LEITURAS DO DIA
«fui lírico demais / mas só quando me não vias / e escondias de mim / as minhas mãos / feridas // ninguém teve culpa // se nunca te disse amo-te / mesmo às escuras / foi porque não soube // puseram a cal / alinharam as testemunhas // para mim continuas viva»
p. 17.
terça-feira, outubro 01, 2019
FORMA E CONTEÚDO
Esta colectânea reúne vinte e quatro textos escritos entre 1947 e 1970. Alguns deles, publicados em jornais e revistas, foram entretanto remodelados para a edição definitiva em livro. Li hoje o texto com o título "Almanaque Literário", uma reflexão em 12 alíneas sobre a arte, a literatura e o trabalho de criação literária. Trata-se de uma escrita elegante como hoje pouco se vê. Cito umas passagens onde se aborda a questão do estilo e do fundo, que o mesmo é dizer da forma e do conteúdo, achas que foram para a fogueira das velhas polémicas internas do Neo-Realismo:
«Farei hoje o elogio do estilo. Não ignoro que a "estratégia da glória", tão condicionada à pressa do "triunfo", gasta muito pouco tempo com estas ninharias: estilo, expressão, linguagem, quando não insinua mesmo que são óptimas desculpas para criadores vagarosos, regatos de água quase mortos no estio literário. Não me refiro, claro, aos rios tumultuosos por natureza, onde há uma limpidez profunda de torrente, mas aos charcos que se julgam a caminho do mar, à babugem turva que se toma já pela fosforescência da onda.»
Em continuação:
«O interesse pelo tratamento da "forma" na obra literária ganha com frequência outra animosidade, a dos partidários do "fundo", que põem o problema no quadro esquemático duma luta mortal entre expressão e conteúdo. Considerar o romance, o poema, como bichos de duas cabeças é desfigurá-los. Entendo mal a incompatibilidade entre uma ideia ou uma imagem e a busca das palavras que as tornam cintilantes. "Procuro encostar as palavras à ideia", dizia Alberto Caeiro.»
E finalmente:
«Parece ocioso repetir que "fundo" e "forma" são indissolúveis, se determinam entre si no âmbito da linguagem.»
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