terça-feira, fevereiro 22, 2011

NO BOSQUE DA FICÇÃO

Maria, que lindo nome
Para as bocas sequiosas.
Maria, disse e ficou-me
A boca a saber a rosas.

A quadra é de António Menano, fadista de Coimbra, e apareceu-me hoje no capítulo XXI do romance Amigos Sinceros (1941) de João Gaspar Simões (1903-1987).
Podia pôr-me a falar de romance psicologista, de estética presencista ou de narrativa autobiográfica (que também o é), mas não, prefiro deixar os versos em singelo.
Não me faltam Marias na história da vida! É certo que há também as Vanessas, as Sónias, as Patrícias e as Joanas, mas são árvores da fímbria do bosque. Gosto de todas, como de boas ficções.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

A OBRA

Continuo a escrever a OBRA. Aqui deixo umas breves linhas para que possa apreciar-se a excelência do trabalho. Como notarão, há uma referência a um crítico francês, outra ao filósofo peripatético, além de palavras caras que nem vêm no dicionário. Por favor, não se riam, são perversões da idade:

Sébastien Hubier (Littératures intimes, 2003) refere a autoficção como uma expressão anfibológica das escritas do eu. Em Aristóteles e na linguística moderna o termo é usado para designar um enunciado suscetível de duas interpretações diferentes. Ora a autoficção é isso mesmo, um texto que pode ser interpretado como romance e como autobiografia, cabendo ao leitor decidir sobre o seu grau de verdade ou de mentira.
(Extraído da OBRA, p. 62)

NOTA: Texto escrito segundo as normas do novo acordo ortográfico. Nas mais de cento e cinquenta palavras que aqui ficam apenas uma tem nova grafia (“suscetível” em vez de “susceptível”). Afinal, a coisa não parece assim tão desfiguradora da nossa escrita.