sábado, julho 31, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (17)

                                   


Hoje, na Gulbenkian, exposição "Tudo o que eu quero / Artistas Portuguesas de 1900 a 2020". Do erotismo, dir-se-ia idílico, de MILY POSSOZ  às inquietantes obras de PAULA  REGO (Vanitas) e GRAÇA MORAIS (A Caminhada do Medo).

terça-feira, julho 27, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (16)

 Revendo a matéria
«(...) aquela gente que vivia em barcos, pescando ou vendendo melões e melancias, segundo as épocas. Nómadas do rio, como os ciganos na terra, tinham vindo da Praia da Vieira e faziam vida à parte: chamavam-lhes avieiros.»
--- "Breve história de um romance", prefácio do autor, datado de Novembro de 1967.

segunda-feira, julho 26, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (15)


Hoje ao fim da tarde. Verão é Verão na borda do Tejo. Passeio ribeirinho Vila Franca de Xira - Alhandra. Na margem, junto ao rio, madeira que vem na corrente. Em Avieiros, de Redol, era com estas dádivas das águas que os homens vindos de Vieira de Leiria - "nómadas do rio" - construíam as suas cabanas.

domingo, julho 25, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (14)

Hoje não me tiram de casa, pelo menos é o que espero...
Para quem puder entender, estou em Donnafugata, ou nas suas imediações, com o Príncipe de Salina e Dom Ciccio, organista. Cenas de caça, mas até ao momento, e o dia já vai alto, só um coelho se deixou apanhar.
O Príncipe medita muito ao sol da Sicília e, talvez por isso, sejam tão débeis os ganhos venatórios : a união do sangue aristocrático dos Falconeri com a vergôntea burguesa da casa Sedàra; o plebiscito de 21 de Outubro (de 1860) que confirmou Victor Emanuel como rei da Itália unificada; a sua condição de homem entre dois mundos, entre dois tempos, no meio de muitos impulsos e quietações. E as estrelas, sim, as estrelas onde a vida se escreve.
«É preciso que tudo mude, se quisermos que tudo fique como está» - a máxima não é do Príncipe, mas do seu sobrinho Tancredi Falconeri. 

sábado, julho 24, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (13)

Setúbal, hoje, na Praça de Santa Maria, frente à vetusta igreja. Quem são estes "alfombristas", não o sei exactamente. Tampouco a sua ligação ao Caminho de Santiago, cujos motivos (como a vieira) surgem nestes tapetes feitos de pétalas. Isto foi de manhã, para a tarde já a obra estava completa. Trabalho de rigor, paciência e muita arte. Comemoração do Xacobeu (que ocorre nos anos em que o dia de Santiago, 25 de Julho, calha a um domingo). Até amanhã, pelo menos, lá estarão.

quinta-feira, julho 22, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (12)


Este diário começa a tornar-se maçador porque anda à volta do mesmo.


Na Cinemateca, O Belo António (1960), de Mauro Bolognini, com esses dois que aí estão e dispensam apresentações. Ela, uma esposa ingénua e mal esclarecida sobre as inerências do matrimónio. Ele, o marido, impotente. Isto se passa em Catânia, cidade da costa oriental da Sicília, com grande escândalo e vergonha da família do protagonista perante a dissolução do casamento por falta de consumação carnal. Diz-se que Marcelo Mastroianni aceitou o papel (recusado por outros) para não dar curso à  fama de actor mulherengo que lhe era atribuída pelos filmes anteriores. Atitude inteligente, porque o bom actor é tudo e mais alguma coisa. Uma Claudia Cardinale no esplendor dos seus vinte e poucos anos: até faz doer os olhos!

quarta-feira, julho 21, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (11)

Um dos ciclos da programação de Julho da Cinemateca recebeu o nome de O CINEMA ITALIANO, LADO B. Trata-se de mostrar um conjunto de filmes de entre 1950 e 1980 fora das obras consagradas de grandes mestres como Rossellini, Visconti, De Sica, Antonioni, Fellini, Bertolucci, Pasolini, etc.
Hoje vi o interessantíssimo Pão, Amor e Fantasia (1953), de Luigi Comencini. Uma comédia romântica com laivos de neo-realismo soft. Vittorio De Sica (ele mesmo) e Gina Lollobrigida nos papéis principais. Ele, um capitão dos carabinieri, solteiro, maduro e bom rapaz colocado numa remota aldeia de Itália; ela, uma rapariga informal, mas de formal beleza, pobre e à procura de um grande amor. 
Dá gosto ver estes enredos em que a pobreza social engendra personagens excepcionais (para o melhor e o pior), não faltando o braço (e o abraço) do cura de serviço a dar colorido às almas e aos insondáveis desígnios do Senhor. Santo António, o de Pádua, também apareceu a fazer das suas. 
E não se convençam que foi o par da fotografia o bafejado pela sorte do amor. Foi-o, mas cada um com a sua metade própria: a rapariga com um dos soldados do capitão; este com uma parteira muito jeitosa, apesar de já ter deixado para trás a idade do viço absoluto. 
É por coisas como estas que vale a pena viver. 

sexta-feira, julho 16, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (9)

Um "conto moral" com três prólogos e um epílogo desconcertante. A Coleccionadora (1967), de Éric Rohmer (1920-2010). Revi ontem no Nimas, ciclo "Éric Rohmer , ou o génio do moderno cinema francês". Ela é Haydée Politoff (1946), ele Patrick Bauchau (1938), o Cap. Dantas de Balada da Praia dos Cães, de José Fonsceca e Costa. 

quinta-feira, julho 15, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (8)

Esta semana, visitei no MNAA a exposição "Vi o reino renovar" sobre o estado da  arte portuguesa ao tempo do rei D. Manuel I. Noutro local, já disse o que ela me pareceu: uma boa mostra de peças de arte - pictóricas, escultóricas, bibliográficas, de tapeçaria e de ourivesaria -, mas limitada e sem o impacto que época tão crucial reclamaria. Não há, por assim dizer, grandes novidades: a Bíblia dos Jerónimos, a Custódia de Belém, as pinturas de Jorge Afonso e Gregório Lopes, iluminuras, etc. Em termos museológicos, as peças das secções relativas à imprensa e aos forais  surgem mal iluminadas, como se não fossem para ler, apenas para mostrar.
Gostei de encontrar a pintura de Cristóvão de Figueiredo sobre a "Chegada das Relíquias de Santa Auta ao Mosteiro da Madre de Deus,
relíquias trazidas para Portugal por iniciativa da rainha D. Leonor. Esta Santa Auta era uma das "11 mil virgens" martirizadas pelos hunos em Colónia no ano de 383. E mais uma vez sorri ao pensar naqueles milhares de virgens dos provectos alfobres da História. Uma inscrição encontrada em Colónia referia-se ao martírio como tendo sido obrado em XI MM VV (onze mártires virgens), mas logo se trocou "MM" por "mil" e o número fabuloso aí ficou a atestar a resistência gloriosa dos inúmeros mártires do Cristianismo nascente. 

terça-feira, julho 13, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (7)

38º Festival de Teatro de Almada, o melhor e o pior. De uma amiga que anda por lá, recebi uma mensagem de que transcrevo a seguinte passagem: «(...) vi um fabuloso espectáculo, Quem Matou o Meu Pai, encenação de van Hove, Hans Kesting como filho e pai. Do melhor que tenho visto, fiquei outra. Já a Callas [protoganizada por Monica Belluci] é um embuste, mer**ce total para a chique plateia...» Se ela o diz...
 

domingo, julho 11, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (6)

Nesta tarde de domingo li o último poema de Romanceiro Cigano, de Federico García Lorca, "Tamar e Amnon" que evoca o romance incestuoso de dois filhos de David narrado no segundo livro de Samuel, capítulo 13: «Absalão, filho de David, tinha uma irmã bonita chamada Tamar. Amnon, filho de David, ficou apaixonado por ela. Amnon chegou ao ponto de ficar doente por causa de sua irmã Tamar, pois ela era virgem e ele viu que era impossível fazer alguma coisa com ela.»
Colho dois versos:
Tamar, em teus altos peitos
há dois peixes que me chamam,
(...)

sábado, julho 10, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (5)

A praia é um lugar árido, apenas mitigado pelo arrulho álacre das ondas. Com trinta e tal graus, muito pior. Nestes apertos não me apanham lá. 
Esta tarde, Outono Escaldante (1972), de Valerio Zurlini , no ciclo "Grandes mestres do cinema italiano" que corre no Nimas. Um filme com Alain Delon e a bela Sonia Petrovna (n. 1952), finalmente em versão integral. Uma intriga movimentada que termina em tragédia, com interessantes referências à literatura e à pintura. La Prima Notte di quiete, título original do filme, é citação de um verso de Goethe.

terça-feira, julho 06, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (3)

 
Antoni Tàpies, Personage (1947)


Segunda-feira, 5 de Julho.
Na Casa da Achada - Centro de Documentação Mário Dionísio.
Leitura e discussão de A Prática da Arte, de Antoni Tàpies (Barcelona, 1923-2012), edição de Livros Cotovia, 2002. Um artista debruçado sobre as ideias estéticas e a sua relação com a arte contemporânea.

domingo, julho 04, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (2)

Setúbal, domingo, 4-7-2021

Os roazes do Sado. Afinal não são tantos como pensava: um censo (chamemos-lhe assim) de 2018 contou apenas 31 indivíduos em movimentações no rio e na área marítima adjacente.
É curiosa a forma como os técnicos de conservação da natureza os identificam: pelos golpes que apresentam no bordo posterior da barbatana dorsal, uma espécie de impressão digital que nunca é igual em dois indivíduos.
Assim, conseguem dar-lhes nomes, sem margem de erro, como "Escuro", "Cavalito", "Serrote", "Mr. Hook", "Cocas", etc.
O cardápio da espécie é rico e variado, em certos itens de fazer crescer água na boca. Ora assentem lá: tainha-fataça, tainha-liça, solha, salmonete, linguado, robalo, goraz, safio ou congro, enguia, choco e polvo. Este, às vezes, faz das suas, enrolando os tentáculos à volta do nariz dos roazes, mas não se safa, eles têm técnicas para se libertarem do aperto.
Aprendi isto, hoje, em visita feita à exposição "Os roazes do Sado" na Casa da Baía de Setúbal (foto).

sábado, julho 03, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (1)

Já houve quem dissesse serem os diários o grau zero da escrita, e também que não são sinceros. Assim, quem se dispuser a passar os olhos por estas linhas já sabe ao que vem.

Feito este preâmbulo, digo que o Verão está a começar da melhor maneira.

Sexta-feira em Escaroupim (Salvaterra de Magos) à procura de vestígios da tradição avieira à beira de valas e mouchões do Tejo. E também a fruir a gastronomia local.

Hoje, sábado, encontro com a sempre surpreendente Claudia Cardinale na sessão da noite do Nimas. A Rapariga da Mala (1961), de Valerio Zurlini, no ciclo "Grandes mestres do cinema italiano".