segunda-feira, agosto 30, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (27)

Hoje, primeira passagem pela Feira do Livro, praticamente centrada nos standes da Babel e da Assírio & Alvim. Promoções, é claro. Trouxe por bom preço uma antologia poética organizada por Joana Matos Frias (Passagens - Poesia, Artes Plásticas); Anthero, Areia e Água, de Armando Silva Carvalho; Entre Cão e Lobo, de Manuela Parreira da Silva; e ainda dois Nietzsche lidos em devido tempo, agora com direito a residência permanente nas minhas estantes. Para a próxima vez logo se verá o que sai. 

domingo, agosto 29, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (26)

CASA DA ACHADA, Lisboa, onde hoje se leu e discutiu, na sessão da Comunidade de Leitores, o conto A Lua na Água, do escritor japonês YASUNARI KAWABATA (1899-1972). A acção da narrativa decorre no pós-guerra, tendo sido publicada em 1953. Lá estive com o corpo, e com a alma também. Éramos uns doze. O texto é excelente, todos gostaram, e foi traduzido directamente do japonês pelo nosso colega António Barrento. 

quinta-feira, agosto 26, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (25)

Dume, Braga, 18 de Agosto.
Aqui, diante da estátua de Martinho de Dume, bispo de Braga e  Dume na segunda metade do século VI. O núcleo museológico, anexo à igreja paroquial, estava fechado. Tive a sorte de vir ter comigo o Sr. Bernardino, zelador do núcleo, que me viu a rondar o local. Abriu-me a porta e mostrou-me o resultado das escavações arqueológicas efectuadas no local: pedras do tempo do império de Roma, do templo suevo ali erigido no século VI e, claro, o túmulo magnífico do bispo Martinho.
Da História de Portugal de Joaquim Veríssimo Serrão respigo a seguinte passagem respeitante a Martinho e ao Reino Suevo:
«Após a morte de Réquila em 448, que chegou a sitiar Sevilha e Mérida, o novo rei Requiano converteu-se ao catolicismo em 456, procurando transformar em cruzada a luta contra os Visigodos, que se haviam federado com Roma para o domínio da Península. Mas algum tempo depois voltaram ao arianismo. Vindo de Tours chegara, entretanto, ao Noroeste da Península o monge Martinho, natural da Panónia, que fundou uma escola monástica em Dume e no ano de 556 foi elevado a bispo dumiense. A ele se deve a nova conversão dos Suevos, no início do governo de Teodomiro (558), cabendo ao Concílio de Braga, três anos mais tarde, acabar de vez com a heresia que alcançava grande voga em Espanha.»
O arianismo, heresia fundada no século IV por Ario, presbítero de Alexandria, tinha como elemento fundamental a negação da divindade de Jesus Cristo, para ele e seus prosélitos um simples instrumento de Deus. 


quarta-feira, agosto 25, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (24)


Braga, 19-8-2021, Mosteiro de S. Martinho de Tibães. Fundado no século XI, reedificado no século seguinte e com sucessivas intervenções ao longo dos tempos. Cumpriu, como outros mosteiros da Ordem de S. Bento, o papel de difusor da cultura nos alvores da História de Portugal. A visita é demorada, não só pela igreja, coro alto e diversas áreas do edifício, como também pelos jardins ou cerca. 

terça-feira, agosto 24, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (23)


Braga, 18-8-2021, Capela de São Frutuoso de Montélios. A antiquíssima capela do século VII está encostada à igreja, de construção posterior, com ela comunicando. 
Mandada edificar por Frutuoso de Braga, bispo de Braga e de Dume, falecido em 16-4-665, para deposição do seu túmulo. Monumento de traço visigótico, segundo modelo dos mausoléus bizantinos. Disse-me o responsável ser este o mais antigo templo cristão existente em Portugal.

segunda-feira, agosto 16, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (22)

Ontem, 15-8-2001, no Santuário do Senhor Jesus da Pedra, onde sempre paro quando passo na estrada Caldas da Rainha - Óbidos. Obra barroca, de planta circular. Lembro-me de ler no romance A Redenção das Águas, do escritor-juiz Carlos Querido, que D. João V ali orava quando ia tratar-se nas águas das Caldas. Devoção do grande rei, mas o Senhor não o terá ouvido. Ou terá, sei lá, nada percebo de devoções nem dos ouvidos de Deus.

segunda-feira, agosto 09, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (21)

Hoje, em casa, com os livros e em lances escrevinhadores. Notas Contemporâneas, de Eça, artigo "A Decadência do Riso", publicado em 8-2-1892 no suplemento literário de Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro: 
«(...) esse irradicável desalento, tão bem simbolizado pelo velho Albert Dürer, na sua gravura da Melancolia, naquele formoso moço de asas potentes, que, em meio de um vasto laboratório onde se acumulam todos os instrumentos das ciências e das artes, deixa pender entre as mãos a cabeça coroada de louro, e fica inerte, considerando a inutilidade de tudo, enquanto um imenso morcego, por trás, se desdobra e tapa o disco do Sol
Isto a propósito de Rabelais que na saída da Idade Média apelava ao riso salutar e construtivo:
«Riez! Riez! Car le rire est le propre de l´homme!»

domingo, agosto 08, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (20)

O Amor às 3 da Tarde (1972), de Éric Rohmer, protagonizado por Zouzou e Bernard Verley. Vi hoje no Nimas. Quem me acompanhava, comentou: «O título é enganador, o amor às 3 da tarde não é com a pretensa amante, mas com a esposa legítima». É verdade, mas só se sabe no fim. Burguês zeloso e escrupuloso, o homem não cedeu às tentações. Na verdade, era a beleza feminina que o atraía, não a tantas vezes pouco satisfatória relação sexual. Como em outros "Contos Morais" de Éric Rohmer (neste Verão já vou no terceiro) assistimos a uma tensão não resolvida entre o desejo e a consumação carnal. Interessante.  

sábado, agosto 07, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (19)

QUINTA REAL DE CAXIAS, um espaço público do concelho de Oeiras. Visita sempre agradável (já conhecia), mas hoje fui fazer de cicerone. Destaco o Jardim da Cascata, restaurado há dez anos, em cujo lago se representa o episódio do banho de Diana, segundo as Metamorfoses de Ovídio. As esculturas são de Machado de Castro. Pode-se aceder à parte superior da cascata e ver o tanque que alimentava o dispositivo cénico da queda das águas. E, naturalmente, a paisagem sobre o jardim e o mar. Aí deixo as fotografias.


quinta-feira, agosto 05, 2021

DIÁRIO DO TEMPO DE VERÃO (18)


Na Fábrica das Palavras, Vila Franca de Xira, exposição do cartunista grego MICHAEL KOUNTOURIS (Rodes, 1960).
Temática em torno das contradições europeias: a política do euro, as migrações, o ascenso das ideologias de direita.
Neste trabalho, de título "Silêncio", o senhor Europa  está incomodado com o que se passa no andar de cima (vinda dos migrantes), não com a ruidosa festa de nazis no andar de baixo.