terça-feira, junho 30, 2020

BIBLIOTECAS

Na Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, FÁBRICA DAS PALAVRAS, já é possível a presença no piso 4 para leitura/estudo, mas, note-se, limitada a 1 hora e meia por leitor. De máscara e com desinfecção das mãos à entrada, naturalmente. As estantes é que estão barradas com umas fitas anticovídicas, não vá o vírus entrar nos livros. Quem os quiser, terá de pedi-los ao funcionário de serviço. 
=Fotos de 30-6-2020=

TOPÓNIMOS

Antiga Rua do Cais. Por ela terá passado o Gineto do livro dedicado aos «filhos dos homens que nunca foram meninos». Agora é avenida com nome de médico e cientista, alma errabunda entre o Além e o Aquém. Assim o fizeram pela crença, assim o têm.
=Foto de 29-6-2020=

domingo, junho 28, 2020

"DIÁRIO DE UMA CRIADA DE QUARTO", DE LUIS BUÑUEL

Filme de 1964, estreou-se em Portugal em Novembro de 1980. JEANNE MOREAU (Célestine) no principal papel. Argumento baseado no romance de Octave Mirbeau com o tempo de acção transposto para os anos 30. A intriga combina um crime de pedofilia na casa duma família burguesa de província com incidências de natureza social e política (fascismo e anti-semitismo). Passou hoje no NIMAS no ciclo dedicado ao realizador. 

sábado, junho 27, 2020

GRANDE PLANO

MICHELLE PFEIFFER no papel de Madame de Tourvel em Ligações Perigosas (1988), de Stephen Frears.

DE MADAME DE TOURVEL AO VISCONDE DE VALMONT
CARTA XXVI

«Decerto, Senhor, não viríeis a receber qualquer carta minha, se a minha tola conduta de ontem à noite não me obrigasse e entrar hoje em explicações convosco. Sim, chorei, confesso-o: é possível também que me tivessem escapado as duas palavras que citais com tanto escrúpulo. Lágrimas e palavras, tudo notastes; é preciso, pois, explicar-vos tudo (...)»

sexta-feira, junho 26, 2020

A ALEGORIA DA CAVERNA

«Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas» - Gláucon para Sócrates no Livro VII d' A República, de Platão. 
As palavras do filósofo ajustam-se, nos dias de hoje, aos que se acomodam a não renunciar à caverna das plataformas virtuais. 
Como ficou demonstrado, é de fora da Caverna que a vida corre!

quinta-feira, junho 25, 2020

LEITURAS

«Não lhe ocorreu que o amor é, como a medicina, somente a arte de ajudar a Natureza?»
Carta X - A MARQUESA DE MERTEUIL AO VISCONDE DE VALMONT


terça-feira, junho 23, 2020

BIBLIOTECAS bis

Estive hoje na BIBLIOTECA MUNICIPAL DE SINTRA - CASA MANTERO. Pelo menos aqui há leitores-estudantes nas salas, cada um na sua mesa e rigorosamente de máscara. Porém, o acesso às estantes está interdito, quem quiser retirar um livro terá de pedir aos funcionários de plantão. Trata-se de não pôr as mãos nos livros, as mesmas mãos que tocam nos tampos das mesas, nos braços das cadeiras, nas torneiras e portas das casas de banho. Expliquem a lógica da norma, é suposto que o gel desinfectante desinfecte, está disponível à entrada da biblioteca. As mesas estão agora numeradas, como nos restaurantes. Calhou-me a mesa 3, um número mágico. 
Fotos de 23-6-2020.

BIBLIOTECAS

PALÁCIO RIBAMAR, edifício do séc. XVIII, nele funciona o pólo de Algés da Biblioteca Municipal de Oeiras. A sala de leitura ocupa esse segundo piso, 9 varandins virados para o rio. Para uma área de, digamos, 600 m2, são covidadmitidas em leitura presencial apenas 4 pessoas. 
Melhor seria dizer aos leitores para não irem lá. 
Fotos tiradas ontem, 22-6-2020.

segunda-feira, junho 22, 2020

FOZ DO LIZANDRO

É rio, é mar, tudo do melhor. E com cumprimento das regras de segurança.
Tarde de domingo, 21-6-2020.


sábado, junho 20, 2020

"ESTE OBSCURO OBJECTO DO DESEJO", DE LUIS BUÑUEL

Ángela Molina (1955) e Carole Bouquet (1957), duas actrizes para o papel de Conchita, a perversa sevilhana que se torna objecto do obscuro desejo do protagonista (Fernando Rey). O filme é de 1977 e foi estreado em Portugal em 29 de Abril de 1981. Das duas meninas, uma é espanhola e a outra é francesa. Pondo duas actrizes a desempenharem alternadamente o mesmo papel, reforça-se o enigma e a duplicidade da personagem, um verdadeiro desastre psicológico para o cavalheiro de meia-idade avançada que ainda sonha com os trinados do amor juvenil. Vi ontem no NIMAS, este tinha-me escapado. 

quinta-feira, junho 18, 2020

"BELLE DE JOUR", DE LUIS BUÑUEL


Filme de 1967, só seria estreado em Portugal a 9 de Julho de 1974. 
Com Catherine Deneuve, musa de Buñuel, mas também de Polanski, Truffaut e outros realizadores. Belle de jour combina o real com o imaginário, a entrega com o abandono, as pulsões do amor com os grandes traumas subterrâneos que o inibem. Revi ontem no NIMAS: 1 hora e 40 minutos de puro cinema.

quarta-feira, junho 17, 2020

BIBLIOTECA NACIONAL

A foto - tirada esta tarde - não saiu bem, mas serve para mostrar que na Biblioteca Nacional estudantes e investigadores já se entregam ao seu labor na sala de leitura geral. Em frente, a notável tapeçaria de Guilherme Camarinha que não via desde Março. A biblioteca implementou um protocolo de segurança para a reabertura e o resultado está à vista, uma boa presença de leitores.  As bibliotecas municipais que atentem no caso porque salvo algumas honrosas excepções ainda não reabriram a leitura presencial e os leitores para requisitarem livros têm de os pedir de véspera, sendo atendidos em guichés colocados como barreiras nas portas da entrada. Ao trabalho, caros bibliotecários! Os trabalhadores das obras, dos centros comerciais, das fábricas, dos transportes públicos, etc. cumprem diariamente as suas funções laborais. Temos de voltar todos à vida normal. 

terça-feira, junho 16, 2020

EXPOSIÇÕES


"A Idade de Ouro do Mobiliário Francês", na Gulbenkian. São frequentes as referências a mobiliário na grande literatura do século XIX, daí o interesse em ver esta exposição. Nas fotos, a muitas vezes referida "secretária de cilindro", esta de Jean-Henri Riesener, feita em Paris no ano de 1773; uma cómoda de Antoine Criaerd, transição entre o estilo Regência e o Luís XV; e uma pequena secretária de senhora, conhecida pelo nome de "bonheur du jour", recriação pela Fundação Ricardo Espírito Santo Silva de uma obra do ebanista flamengo Roger Vandercruse (segunda metade do século XVIII). Enfim, para lá do abominável pandémico, político e social, ainda há por aí, é só procurar, umas tímidas centelhas de cultura.
=Fotos de domingo, 14-6-2020=

sexta-feira, junho 12, 2020

GRANDE PLANO

CONSTANCE TOWERS e JEFFREY HUNTER em Sergeant Rutledge (1960), de John Ford. Estreado em Portugal a 7 de Abril de 1961 com o título O Sargento Negro. Passou esta noite no FOX HD MOVIES.

quinta-feira, junho 11, 2020

FICÇÕES


MÁSCARAS

Ela usava máscaras a condizerem com o padrão dos vestidos e a cor dos sapatos. Acomodava-as numa gaveta da cómoda ao lado de sutiãs, meias de vidro e cuecas de renda. Antes de escolher uma para sair, soltava os dedos sobre a textura dos panos e a flexibilidade dos elásticos, correndo-as de uma ponta à outra como quem toca em alguma coisa realmente querida e desejável.  
Assim, num momento de pachorra deixou no mural do facebook a seguinte mensagem:

«Eu uso máscara em público e fico a dois metros de distância. Não, não "vivo com medo" do vírus, só quero fazer parte da solução e não do problema. Não sinto que o "governo me controle", sinto que sou uma adulta contribuindo para a sociedade. O mundo não gira em torno de mim. Usar uma máscara e estar a dois metros de distância não me deixa fraca, assustada, estúpida ou mesmo "controlada", mas atenciosa e respeitosa», etc.

Fique claro que o texto não saíra da sua imaginação – aliás, o que de menos há naquela rede social é imaginação –, tratava-se de uma “corrente” para copiar e colar, inventada não se sabe por quem, mas com assinalado êxito em meio de acefalia dominante.
Choveram os likes e os comentários dos amigos prodigamente simpáticos. Um comentário, porém, prontamente apagado e denunciado, era de índole maliciosa, troçando do “medo do vírus” e da suposta pretensão do governo em impor as máscaras para “controlar”, entregando-se a outras considerações que tinham tanto de impertinente como de ordinário.   
O namorado, um macho ciumento e feroz, advertiu-a: É o que dá tanta conversa no facebook, para controlar os cidadãos o governo já tem o Ministério das Finanças e a polícia, quer lá saber das máscaras, e quanto a isso de não teres medo do vírus, só o não tem quem é estúpido ou mal esclarecido, vais mas é apagar as baboseiras que escreveste e aproveita a embalagem para dares menos trela a uns quantos tipos que andam por lá a fazer-te olhinhos e a enviar-te mensagens privadas, olha que já m´estou a chatear com estas porras todas.
Ela apagou, mas ficou amuada durante uns dias. Aliás, deixou de pôr likes e comentários nas mensagens dos amigos, tanto daqueles que conhecia como dos que nunca vira, apanhados ali na rede sem engodo nem isco, mil seiscentos e vinte e sete ao todo.
Coisa surpreendente, deixou de usar as belas máscaras de pano e passou a sair com as vulgarmente designadas como cirúrgicas, uma pobreza de estilo naquele falso tecido fininho de cor azul bebé sem a espessura protectora das outras. Fora uma imposição do ciumento, porque as máscaras que ela usava chamavam muito a atenção e os homens mais atrevidos paravam a olhar com uma persistência irritante tentando imaginar os lábios deliciosos que se escondiam sob os seus olhos de sílfide. É sabido que o que está escondido mais encoraja as pulsões da líbido.
O pior foi ter começado a sentir-se insegura com as máscaras cirúrgicas, passando a viver com medo do vírus. Resolveu pedir ao namorado que lhe arranjasse uma viseira bonita capaz de reforçar a protecção, uma viseira de policarbonato incolor, com fita elástica colorida e placa de espuma na zona da testa. Se há que usar estas coisas, pensava, ao menos que se faça com estilo.
E na sensaboria dos dias estranhos, com o vírus à solta e o namorado à perna, já não se importava de se sentir controlada, porque um namorado não é o governo, aguenta-se bem, mau é viver com medo do vírus, sentir-se fraca, assustada ou estúpida, e isso, em definitivo, é que ela não queria mesmo. Ah, tão atenciosa e respeitosa que era, se ao menos pudesse voltar às belas máscaras de pano!


quarta-feira, junho 10, 2020

CINEMA, POIS ENTÃO


Hoje, na reabertura do NIMAS,  Non ou a vã glória de mandar, de Manoel  de Oliveira, filme apropriado para um 10 de Junho que já foi da Raça e de outros mitos.
Três fotos para recordação futura:
– Café, antes do cinema, à luz dos jacarandás da Av. 5 de Outubro;
– O jubiloso público acercando-se da bilheteira;
e
– Título de ingresso na sessão memorável.
Amanhã há mais.


domingo, junho 07, 2020

PASSEIOS DE DOMINGO

PAÇOS DO CONCELHO DE PALMELA. Edifício seiscentista que sobreviveu aos terramotos de 1755 e 1858. Diz o painel informativo que o Salão Nobre ostenta uma galeria dos reis portugueses de D. Henrique a D. Manuel II. 
Dedicado aos que de Palmela só conhecem o castelo.
7-6-2020

sexta-feira, junho 05, 2020

FICÇÕES


CAVALEIRO DA TRISTE FIGURA

Suportara o vexame dos dois metros de distância, a opressão da máscara e das luvas, a medição diária das temperaturas num velho termómetro de pôr sob o braço. Às vezes, vacilava-lhe a vista na determinação do ponto da escala onde se detinha a fita de mercúrio. Nesses segundos de incerteza, pensava que a natureza bondosa o abandonara, que o líquido metálico já se estendia aos dígitos altos da casa dos trinta ou mesmo às primícias dos quarenta. Finalmente, por uma particular inclinação do termómetro conseguia fazer a leitura: abaixo dos trinta e sete, valor normal, e anotava-o alegremente num bloco de folhas cinzentas com a indicação da data e da hora.
Ela via diariamente os valores que ele lhe mostrava. Recomendava-lhe que não andasse de transportes públicos, que usasse gel desinfectante e, sobretudo, não colhesse flores campestres para lhe oferecer. A primavera explodia nos campos e nos jacarandás da cidade mas minguava nos corações dos que não se podiam tocar. Dois metros de distância, era o mínimo.
Foi assim durante oito semanas. Depois veio um tempo em que já era permitido sair de casa, colher flores nos jardins do campo e almoçar em restaurantes.
Não coabitamos, disse ela ao empregado do restaurante da primeira vez que foram almoçar à beira-mar. Ficaram sentados em mesas separadas, a conversa fluindo com intermitências lúgubres.
Para segurança de ambos, ela sugeriu-lhe uma quarentena de catorze dias, findos os quais retomariam a vida a dois. Cada um na sua casa, claro. E então foi o império do skype e do zoom, as temperaturas anotadas diariamente, nervos e palpitações sob o riso mudo das noites.
Quando chegou o grande dia, as roupas voando na atmosfera cálida do quarto, ela, de súbito, estacou de terror. Uma temperatura desmesurada irradiava do corpo dele em ondas de choque traiçoeiras e más. Aplicou-lhe o termómetro digital com visor de cristal líquido e beep sonoro: trinta e sete e nove. Ele ficou embaraçado e protestou, que a temperatura era o resultado da excitação sexual, nada mais que isso, havia casos desses cientificamente demonstrados, mas ela levou a coisa a sério e não o quis ouvir. Rebobinou o filme e a roupa voltou a assentar-lhe no corpo anteriormente nu. Depois, tiveram uma conversa ponderosa, de decisões determinantes: mais catorze dias de afastamento até que a relação se revelasse inócua.
Tristeza das tristezas! Hoje quem o quer ver é aí pelas ruas a moer a solidão descomunal. Traz a roupa suja, os sapatos torcidos, os olhos pisados de mágoa sobre a cabeleira hirsuta que insiste em fugir à tesoura do fígaro. De vez em quando telefonam-se, diálogos sem sentimento, e nem sabe ao certo quanto tempo falta para cumprir os catorze dias, se é que não passaram já sem que a interdição cruel tenha sido levantada.
É agora um destroço humano, apenas uma ténue luz lhe alumia o fácies. A negligência da máscara caída sobre os queixos faz lembrar a viseira móvel dum elmo medieval. Cavaleiro da triste figura apeado do seu rocim, de lança frouxa e sem dama, cruzando-se com os monstros eólicos da pandemia. Assim como anda, algum dia infecta-se de verdade e, pensa, se calhar é isso mesmo que ela espera.    


terça-feira, junho 02, 2020

PINACOTECA

HIERONYMUS BOSCH, João em Patmos escrevendo o Apocalipse (1489)

«Quanto aos covardes, aos infiéis, aos corruptos, aos assassinos, aos imorais, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, o seu lugar é o lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte.» - Apocalipse, 21-8.