domingo, julho 29, 2018

DO LADO DE SWANN

Vou relendo o 1º volume da Recherche, agora na tradução de Pedro Tamen. Já passei o episódio célebre da "madalena"e o baptismo da moça de cozinha como Caridade de Giotto. Em Combray, o narrador quando jovem era obrigado a deixar o convívio familiar à hora do jantar. Sofria por isso, sozinho no seu quarto, esperando o beijo da mãe para adormecer. Família culta, mas convencional. O adolescente era já um grande leitor, sonhando com uma mulher que o viesse a amar. E tinha amigos extraordinários, como aquele Bloch que um dia convidou para almoçar. Chegou com hora e meia de atraso, não se desculpou, e ainda disse para a família que o acolhia: « Nunca me deixo influenciar pelas perturbações da atmosfera nem pelas divisões convencionais do tempo. De bom grado reabilitaria o uso do cachimbo de ópio e do kriss malaio, mas ignoro esses instrumentos infinitamente mais perniciosos e aliás chatamente burgueses, que são o relógio e o guarda-chuva.» Antes, respondendo a uma pergunta sobre o tempo feita pelo pai do narrador, respondera: «Senhor, não posso de modo algum dizer-lhe se choveu ou não. Vivo tão resolutamente fora das contingências físicas que os meus sentidos não se dão ao trabalho de mas comunicar.»  Assim mesmo. Jovens como estes já não há nos dias de hoje!




sexta-feira, julho 27, 2018

O TEJO, RIO DE POETAS

Terminal Fluvial do Barreiro, 26-7-2018 ao fim do dia.
Os catamarãs da Soflusa têm nomes de poetas. Saí do Terreiro do Paço no FERNANDO NAMORA e regressei no MIGUEL TORGA. 


quinta-feira, julho 26, 2018

PINACOTECA

BALTHUS (Paris, 1908 - Rossinière, 2001), Nu avec chat (1949)

FEMME ET CHATTE

Elle jouait avec sa chatte,
Et c´était merveille de voir
La main blanche et la blanche patte
S´ébattre dans l´ombre du soir.

Elle cachait – la scélérate! –
Sous ses mitaines de fil noir
Ses meurtriers ongles d´agate,
Coupants et clairs comme un rasoir.

L´autre aussi faisait la sucrée
Et rentrait sa griffe acérée,
Mais le diable n´y perdait rien…

Et dans le boudoir où, sonore,
Tintait son rire aérien,
Brillaient quatre points de phosphore.

PAUL VERLAINE, Poèmes Saturniens


quarta-feira, julho 25, 2018

KZ

KZ, funcionário no Ministério das Finanças, um funcionário cansado como o do poema de António Ramos Rosa. « Então KZ abandonou tudo, e desapareceu. Deixou dito: Vou procurar um coelacanto. E nunca mais voltou, nunca mais voltará.» --- HERBERTO HELDER, Os Passos em Volta.


terça-feira, julho 24, 2018

segunda-feira, julho 23, 2018

PINACOTECA

Cortesã (1640), de JACOB ADRIAENSZ BACKER (1609-1651). Mestre na arte "do tirar polo natural" (retrato), este holandês que foi aluno de Rembrant tem obras expostas nos grandes museus europeus. Esta pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga e está patente na exposição "EXPLÍCITA arte proibida?" a decorrer na "Sala do Tecto Pintado" até 28 de Outubro.

domingo, julho 22, 2018

DO TIRAR POLO NATURAL (Francisco de Holanda)

"Inquérito ao Retrato Português" --- Exposição no Museu Nacional de Arte Antiga até 30 de Setembro. 
MÁRIO ELOY (1900-1951), Retrato do Cineasta Roberto Nobre (1924). Óleo sobre tela. Colecção particular.
=Foto de 22-7-2018=


sexta-feira, julho 20, 2018

MOBY DICK

«Então surgiu do fundo do mar uma baleia enorme, com a cabeça e a corcova brancas como leite, e recoberta de patas de corvo e de rugas.» --- Moby Dick (1851), de Herman Melville, tradução de Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves, edição da Relógio D´Água.

quarta-feira, julho 18, 2018

terça-feira, julho 17, 2018

RELEITURAS


Releitura da estupenda novela Adolescente Agrilhoado, de José Marmelo e Silva, versão de 1958 de Adolescente, narrativa publicada dez anos antes. Obra literária de cunho neo-realista, é portadora de uma densidade psicológica fora do comum. Numa escrita exemplar, o autor dá-nos nota do percurso de um adolescente entre a opressão sofrida num internato (seminário) e a difícil existência no seio da sua aldeia serrana. Em fundo, o trabalho do povo nas minas de volfrâmio e o cortejo de sofrimento e morte que lhe anda associado. A liberdade, o amor e os sonhos da juventude tragicamente contrariados por uma tríade de poderosos: proprietários, o prior e o mestre-escola.


domingo, julho 15, 2018

sábado, julho 14, 2018

INTERVALO

Esta tarde, no 4º piso da biblioteca Fábrica das Palavras, vendo passar uma embarcação tradicional do Tejo. 


sexta-feira, julho 13, 2018

INSTANTÂNEOS

12-7-2018
Pelo menos, deu para assistir ao ensaio da Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorak. "Festival ao Largo", Orquestra Metropolitana de Lisboa.

quinta-feira, julho 12, 2018

JULIO, "A IMAGEM QUE DE TI COMPUS"

Livro da exposição de homenagem a JULIO (Júlio dos Reis Pereira) organizada em 2013 pelo CAM-Fundação Calouste Gulbenkian em colaboração com a Fundação Cupertino de Miranda. Edição belíssima com textos de Artur Santos Silva e Pedro Álvares Ribeiro, António Gonçalves e Patrícia Rosas, e Valter Hugo Mãe. Com reprodução das pinturas e dos desenhos expostos. A este artista ( JULIO como pintor e SAÚL DIAS como poeta) aplica-se bem a máxima de Simónides de Céos (séculos VI e V a. C.) citado por Plutarco: «A pintura é poesia muda e a poesia é pintura falante»; ou o sentido do verso 361 da Epistola aos Pisões, de Horácio: «Ut pictura poesis», isto é, «Como a pintura é a poesia».

segunda-feira, julho 09, 2018

VOU LENDO


Marco Polo como viajante e Rustichello de Pisa como cronista apresentaram em finais do século XIII uma descrição tão minuciosa quanto possível dos reinos, cidades, línguas, religiões e costumes de uma vasta região do mundo compreendida entre o Próximo Oriente e os confins do Império Mongol. O relato detém-se em pormenores históricos da Europa como o comércio de Veneza com o Oriente e o longo período que demorou a escolha do sucessor do papa Clemente IV, falecido em Novembro de 1268. A passagem pela Arménia e a Geórgia dá lugar, no capítulo 21, a uma curiosa referência a «uma fonte de onde surge tanto óleo e em tal abundância que cem barcos se carregariam ao mesmo tempo», óleo esse que, não sendo «bom para comer, mas sim para queimar», traz «homens de muito longe» por sua causa. Se era assim no século XIII, que dizer então do que se passa nos dias de hoje?

quinta-feira, julho 05, 2018

Só uma vez fui verdadeiramente amado. Simpatias, tive-as sempre, e de todos. Nem ao mais casual tem sido fácil ser grosseiro, ou ser brusco, ou ser até frio para comigo.  Algumas simpatias tive que, com auxílio meu, poderia - pelo menos talvez - ter convertido em amor ou afecto. Nunca tive paciência ou atenção do espírito para sequer desejar empregar esse esforço.
= Bernardo Soares, Livro do Desassossego.

domingo, julho 01, 2018

CASA DE ANTERO DE QUENTAL EM VILA DO CONDE

O autor de Odes Modernas e Causas da Decadência dos Povos Peninsulares viveu nesta casa de Vila do Conde entre 1881 e 1891. De construção recente é a escada de madeira que liga os diversos pisos da casa, materialização simbólica dos versos do soneto "Evolução", de Março de 1882:
Hoje sou homem - e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, na imensidade...

=Fotos de 28-6-2018=