domingo, julho 29, 2018

DO LADO DE SWANN

Vou relendo o 1º volume da Recherche, agora na tradução de Pedro Tamen. Já passei o episódio célebre da "madalena"e o baptismo da moça de cozinha como Caridade de Giotto. Em Combray, o narrador quando jovem era obrigado a deixar o convívio familiar à hora do jantar. Sofria por isso, sozinho no seu quarto, esperando o beijo da mãe para adormecer. Família culta, mas convencional. O adolescente era já um grande leitor, sonhando com uma mulher que o viesse a amar. E tinha amigos extraordinários, como aquele Bloch que um dia convidou para almoçar. Chegou com hora e meia de atraso, não se desculpou, e ainda disse para a família que o acolhia: « Nunca me deixo influenciar pelas perturbações da atmosfera nem pelas divisões convencionais do tempo. De bom grado reabilitaria o uso do cachimbo de ópio e do kriss malaio, mas ignoro esses instrumentos infinitamente mais perniciosos e aliás chatamente burgueses, que são o relógio e o guarda-chuva.» Antes, respondendo a uma pergunta sobre o tempo feita pelo pai do narrador, respondera: «Senhor, não posso de modo algum dizer-lhe se choveu ou não. Vivo tão resolutamente fora das contingências físicas que os meus sentidos não se dão ao trabalho de mas comunicar.»  Assim mesmo. Jovens como estes já não há nos dias de hoje!




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