sexta-feira, maio 24, 2019

O PROBLEMA DAS LÍNGUAS

Sobre este problema, podemos ir ao episódio da Torre de Babel, Génesis 11, 1-9. Mas Chico Buarque também serve, e é muito a propósito que aqui se recorda. Lido há 3 anos para uma sessão da Comunidade de Leitores de São Domingos de Rana:

«Fui dar em Budapeste graças a um pouso imprevisto, quando voava de Istambul a Frankfurt, com conexão para o Rio. A companhia ofereceu pernoite num hotel do aeroporto, e só de manhã nos informariam que o problema técnico, responsável por aquela escala, fora na verdade uma denúncia anônima de bomba a bordo. No entanto, espiando por alto o telejornal da meia-noite, eu já me intrigara ao reconhecer o avião da companhia alemã parado na pista do aeroporto local. Aumentei o volume, mas a locução era em húngaro, única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita. Apaguei a tevê, no Rio eram sete da noite, boa hora para telefonar para casa; atendeu a secretária eletrônica, não deixei recado, nem faria sentido dizer: oi, querida, sou eu, estou em Budapeste, deu um bode no avião, um beijo. Eu deveria estar com sono, mas não estava, então enchi a banheira, espalhei uns sais de banho na água morna e me distraí um tempo amontoando espumas. Estava nisso quando, zil, tocaram a campainha, eu ainda me lembrava que campainha em turco é zil. Enrolado na toalha, atendi à porta e topei um velho com uniforme do hotel, uma gilete descartável na mão. Tinha errado de porta, e ao me ver emitiu um ô gutural, como o de um surdo-mudo. Voltei ao banho, depois achei esquisito hotel de luxo empregar um surdo-mudo como mensageiro. Mas fiquei com o zil na cabeça, é uma boa palavra, zil, muito melhor que campainha. Eu logo a esqueceria (...).»


domingo, maio 19, 2019

GRANDE PLANO

MARYLIN MONROE em Os Inadaptados (1961), de John Huston. Estreia em Portugal no Cinema S. Jorge, Lisboa, a 25 de Janeiro de 1962.

quinta-feira, maio 16, 2019

ANOS 30

Mr. Smith Goes to Washington (1939) ou, no título português, Peço a Palavra. Estreia mundial em Nova Iorque, a 16 de Outubro de 1939, e estreia em Portugal no Cinema Politeama, a 10 de Abril de 1941. Como a corrupção e o poder da imprensa, exercido em mau sentido, podem abalar a concepção de estado democrático e prejudicar os direitos dos cidadãos. Neste caso houve um final feliz. Exibido na Cinemateca na passada terça-feira.


TOPÓNIMOS

Jorge Luís Borges em "Fundação Mítica de Buenos Aires":
(...) um mar que tinha cinco luas de largo
e ainda estava povoado de sereias e endríagos
e de pedras ímanes que enlouquecem a bússola.
Pode parece despropositado, mas não é: há bússolas enlouquecidas em todos os mares.

terça-feira, maio 14, 2019

GRANDE PLANO

RITA HAYWORTH (1918-1987). Do filme Only Angels Have Wings (1939), estreado em Portugal em 11 de Abril de 1940 com o título Paraíso Infernal. 


segunda-feira, maio 13, 2019

ANOS 30

Sim, eu sei: Only Angels Have Wings passa esta tarde na Cinemateca. Com Cary Grant, Jean Arthur e Rita Hayworth. A não perder.


quinta-feira, maio 09, 2019

PINACOTECA

VINCENT VAN GOGH, A Vinha Vermelha (1888), óleo sobre tela 75 x 93, Museu Pushkin, Moscovo.



sábado, maio 04, 2019

A BOCA AS BOCAS

Apenas uma boca    a tua boca
Apenas outra    a outra tua boca
É Primavera    E ri a tua boca
de ser Agosto já na outra boca

Entre uma e outra voga a minha boca
E pouco a pouco a polpa de uma boca
inda há pouco na popa em minha boca
e já na proa de outra boca

Sabe a laranja a casca de uma boca
Sabe a morango a noz da outra boca
Mas que sabe entretanto a minha boca

Que apenas vai sentindo em sua boca
mais rouca do que boca a minha boca
mais louca do que boca a tua boca

--- DAVID MOURÃO-FERREIRA, Música de Cama, antologia erótica, p. 70.


sexta-feira, maio 03, 2019

PINACOTECA

FRANCESCO HAYEZ (1791-1882), O Último Beijo de Romeu em Julieta (1823), óleo sobre tela. 
JULIETA - Tão depressa te vais? Ainda tarda o dia. O que ouvimos é o canto do rouxinol, não o da cotovia. Todas as noites canta no mesmo lugar. É um rouxinol, meu amado.
--- Terceiro Acto, Cena V.

quinta-feira, maio 02, 2019

1º DE MAIO

À beira do Sado, 1º de Maio vermelho, azul e de outras cores. Dia luminoso. Para não esquecer o tempo das trevas.