domingo, julho 26, 2020

NO QUINTAL DA CASA DA ACHADA

Hoje, 26 de Julho, lançamento da nova edição de Sobre Van Gogh, dois ensaios de Mário Dionísio dos anos de 1947 e 1953. Apresentação de Saguenail (Paris, 1955), autor do prefácio. Na foto, entre um bom número de presentes, reconhecem-se Eduarda Dionísio e Regina Guimarães. O pessoal da cultura a sair da caverna.

quarta-feira, julho 22, 2020

COISAS DE OUTROS TEMPOS...

CAFÉ MONTANHA, esquina da Travessa da Assunção com a Rua do Arco Bandeira. Fundado no século XIX, foi encerrado em 1952. Segundo conta João Gaspar Simões em Retratos de Poetas que Conheci, foi aqui que em certo domingo de Junho de 1930 se apresentaram os directores da presença (ele e José Régio) para um encontro com Fernando Pessoa, colaborador da revista que não conheciam pessoalmente. Pessoa, porém, terá vindo à entrevista com a máscara de Álvaro de Campos, e as coisas não correram bem. José Régio foi o que mais sentiu o agravo, ele que era o poeta da sinceridade e tanto tinha feito para dar a conhecer a obra do criador dos heterónimos. Voltou para Coimbra de orelha murcha e coração opresso. Sim, Mário de Sá-Carneiro era mil vezes mais confiável que este fingidor de muitas personalidades. A partir de então, ficou sempre desconfiado de Lisboa e dos seus literatos.

Havia na cidade arranhas-céus, colmeias
De abelhas racionais acomodadas em quartel
Vivendo as vidas próprias como alheias,
Fabricando o seu fel.

--- JOSÉ RÉGIO, primeira quadra do poema "Havia na cidade", Cântico Suspenso, 1968.

terça-feira, julho 21, 2020

PINACOTECA

PAUL-JACQUES-AIMÉ BAUDRY (1828-1886), Madalena penitente

«A maneira de pintar é incapaz de acompanhar Maria Madalena na renúncia. Mais do que outra coisa qualquer, ela é pintada como mulher desejável e disponível. Ela permanece o objecto complacente da sedução do processo pictórico» - JOHN BERGER, Modos de Ver.

segunda-feira, julho 20, 2020

UM DIA DE CADA VEZ

COVID-19: 135 casos, 2 óbitos, 178 recuperados. Hackers publicam passwords de milhares de médicos e enfermeiros do SNS na Internet. Londres mantém limite de lotação nos autocarros, Madrid e Paris não. Medina e Moreira pedem capacidade de endividamento dos municípios. Centeno já está no Banco de Portugal, a providência cautelar do Cotrim não funcionou. Jesus vem de jacto particular para Lisboa, se quiser jogadores do Flamengo o clube que bata as cláusulas de rescisão. Costa leva máscaras e sapatos com solas de cortiça ao Conselho da Europa, a reindustrialização do Silva está em marcha. O tempo continua quente... Na Ericeira, Praia do Matadouro (raio de nome), a temperatura do ar foi hoje inferior em 10º à da região de Lisboa. Muito repousante, e a todos os títulos... Fotos tiradas pela hora do almoço, amanhã é outro dia. 

sexta-feira, julho 17, 2020

"OS AMANTES MOLHADOS" (1973), DE TATSUMI KUMASHIRO

O mais amargo, dramático e surpreendente dos filmes por mim vistos no ciclo "Roman Porno" do cinema Nimas. Uma história de cinema dentro do cinema: Katsu, o protagonista, regressa à terra natal perseguido pelos Yakuza, a máfia japonesa; arranja emprego numa sala de cinema de filmes pornográficos e envolve-se com a patroa, uma mulher mais velha que havia sido abandonada pelo marido; há ainda Yoko e o namorado, com quem vive uma espécie de relação a três; e uma triste rapariga que dá lugar a algumas das cenas mais violentas do filme. No final, quando estaria à beira de ser feliz, é assassinado pelos Yakuza num plano de puro cinema. Surpreendente a censura imposta à película em exibição (cópia digital restaurada), provavelmente no próprio país de origem: grandes tarjas negras sobre certas partes dos corpos nas cenas de sexo explícito. 
Os filmes eróticos "Roman Porno" (ou "Pornografia Romântica") procedem dos estúdios japoneses Nikkatsu com um modo de fazer cinema que se estendeu de 1971 a 2016. Entre outros lugares, este filme apresentou-se em 2002 no Festival de Cinema de Singapura; no festival de Locarno, em Agosto de 2016; na Alemanha, num festival de cinema japonês, em Maio de 2017; ontem estreou-se em Portugal.

quarta-feira, julho 15, 2020

"ROMAN PORNO" NO CINEMA NIMAS

"Roman Porno" que é como quem diz "Porno Romântico". Gymnopédies Escaldantes (Japão, 2016), de Isao Yukisada. Passou ontem à noite no cinema Nimas. «É considerado o título mais sentido, romântico e amargurado dos "Roman Porno", uma dura reflexão sobre a criação de um erotismo intenso», diz-se na folha de sala.

terça-feira, julho 14, 2020

O' NEILL

Deste livro velhinho, da série UMA LISBOA REMANCHADA:

OS ATACADORES

(...)
Ganha os campos, foge, precede-te a ti mesmo
como um homem legalmente espavorido
por anos de critério,
sê repentino como um menino!
(...)


domingo, julho 12, 2020

GRANDE PLANO

JANE FONDA em Descalços no Parque (1967), de Gene Saks, filme igualmente protagonizado pelos grandes Robert Redford e Charles Boyer.

CINEMATOGRAFIA JAPONESA: CICLO "ROMAN PORNO" NO NIMAS

O Êxtase da Rosa Negra (1975), de Tatsumi Kumashiro, um clássico do cinema erótico japonês.  A história de um técnico de som de filmes porno em busca do gemido perfeito que ouviu uma vez num consultório de dentista. Curioso, não é? E note-se que o cartaz, por razões compreensíveis, é apresentado em versão soft. Vi este sábado ao fim da tarde. Atenção aos próximos (o ciclo é composto por 10 filmes), todos com títulos muito sugestivos: À Sombra das Raparigas Húmidas, O Alvorecer das Felinas, Anti-Porno, etc. Grandes filmes de grandes mestres!

sábado, julho 11, 2020

CALÇADOS NO PARQUE

Como já não aguento os canais de televisão e os factos pitorescos do jornalismo cá do burgo, depois amplificados pelas redes sociais e pelo contexto político, ando por aí a exumar lugares menos conhecidos da nossa santa terrinha na tentativa de me salvar. (Aproveito para saudar um tal Rio da esfera política pela ideia de acabar com as reuniões do INFARMED e os debates quinzenais do parlamento com o governo: Venturas, Chicões e quejandos estão lá preocupados com o país e a transparência, o que eles querem é tempo de antena nas intervenções transmitidas em directo pela televisão). Mas voltemos ao tema: Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria. Acho que a concepção não é má: apontamentos de Stonehenge, cromeleques e antas à beira-rio. Só é preciso que as árvores cresçam e as melgas deixem de atacar na maré vaza.

=  Fotos de 10-7-2020 =
   

sexta-feira, julho 10, 2020

TOPÓNIMOS

Quem ande como nós pela Alhandra toireira (assim a chamou Garrett no primeiro capítulo das Viagens), encontra esta placa toponímica aludindo a Pedro Ferreira Cavaco, mestre de embarcação que se destacou em várias operações de socorro durante o temporal que assolou o país, e particularmente o Ribatejo, em Fevereiro de 1941. Os mais velhos, que já são poucos, referem-se-lhe como "o ciclone". Leio o Diário de Lisboa, que ando a consultar, na sua edição de 17 daquele mês e ano: «Um desses marítimos - Pedro Cavaco - distinguiu-se entre todos. Acompanhado por outros populares de Alhandra, foi aos mouchões do Lombo do Tejo (donde trouxe sete cadáveres e um cavalo vivo), das Garças (onde salvou quatro homens), da Alhandra e das Marinhas (donde salvou dois homens, duas mulheres, porcos, galinhas e alguns haveres). Além disso, este grupo trouxe a reboque duas bateiras, numa das quais estavam em grande perigo um velho e uma criança.» Grande Cavaco, bem merecida homenagem!
= Fotos de 9-7-2020 =

quarta-feira, julho 08, 2020

GRANDE PLANO

ANITA EKBERG (1931-2015), atriz sueca mais conhecida pela cena da Fontana di Trevi em La Dolce Vita, de Federico Fellini, aqui trazida numa outra imagem do filme Zenóbia e o Gladiador (1959).

segunda-feira, julho 06, 2020

ESCRITA DIARÍSTICA


Bem eu queria fugir a todos os espectáculos da multiforme desgraça humana. Mas escrevi o Fado, e a miséria humana procura-me. Talvez o que profundamente me inquiete (pois não há dúvida que «sou uma triste mistura de ousadia e cobardia») seja o sentir-me tão íntimo com ela. Tenho medo de todos os Irregulares, - que ao mesmo tempo me atraem - eu que sou um deles apesar da regularidade da minha vida. Sim, um deles!



JOSÉ RÉGIO, Páginas do Diário Íntimo, 11 de Junho de 1952


O ASSINTOMÁTICO DESEJOSO - HEXASSÍLABOS COVÍDICOS


Máscaras nas queixadas
e as vidas paradas,
o vírus a medrar.

Dá-me beijos na boca,
sei bem que estás louca,
já não posso esperar.

domingo, julho 05, 2020

NA TERRA DE JAIME BATALHA REIS

JAIME BATALHA REIS (1847-1935), companheiro de Eça e Antero nas reuniões do Cenáculo e nas Conferências do Casino Lisbonense. Criador com os seus companheiros do poeta satânico Carlos Fradique Mendes. Formado em agronomia, seguiu a carreira diplomática. A seguir à implantação da república foi ministro plenipotenciário em S. Petersburgo, tendo sido apanhado em 1917 na convulsão da Revolução Russa. Regressou ao país só no ano seguinte.
A terra – Turcifal, no concelho de Torres Vedras – não esqueceu o filho ilustre. Seu pai era proprietário agrícola e produtor de vinho na denominada Quinta da Viscondessa.
Hoje, estive lá. Quero acreditar que aquelas vetustas casas são do tempo de Jaime Batalha Reis. 
=Fotos de 5-7-2020=

sexta-feira, julho 03, 2020

DERIVAS


Foi Punhete até 1836, quando a rainha D. Maria II lhe mudou o nome para Constância.

Corre suave e brando
com tuas claras águas
saídas de meus olhos, doce Tejo,
fé de meus males dando,
para que minhas mágoas
sejam castigo igual de meu desejo;
que pois em mim não vejo
remédio, nem o espero,
e a morte se despreza
de me matar, deixando-me a crueza
daquela por quem meu tormento quero,
saiba o mundo meu dano,
por que se desengane em meu engano.

LUÍS VAZ DE CAMÕES, Éclogas

= Fotos de 2-7-2020

quarta-feira, julho 01, 2020

LEITURAS

PEDRO ABELARDO (1079-1142). Filósofo, teólogo e professor. Na Questão dos Universais, defendeu a realidade do sujeito individual, suficiente a ele próprio, contra as teorias essencialistas que viam a diferenciação entre indivíduos como meros acidentes singulares entre a realidade substancial da espécie.
HELOÍSA DE ARGENTEUIL (1090-1164). Donzela culta e inteligente, desejosa de mais vastos conhecimentos no domínio das letras, tornou-se discípula de Abelardo em 1116.
Da 1ª carta, de Abelardo a um amigo: «Reunidos sobre o mesmo tecto, logo o fomos sob o mesmo coração. E, a partir desse momento, com o pretexto de estudar entregávamo-nos inteiramente ao amor. As lições ofereciam-nos esses encontros privados e secretos que o amor deseja. Os livros estavam abertos, mas era o amor, mais do que a leitura, que constituía o objecto dos nossos diálogos; trocávamos beijos em vez de sábias proposições. As minhas mãos voltavam-se com mais frequência para os seus seios do que para os livros.» E acrescenta: «Esta paixão voluptuosa havia tomado conta de mim, de tal modo que negligenciei a filosofia e a minha escola».
O nascimento de um filho causa escândalo em Paris e tem graves consequências para Abelardo e Heloísa.