quarta-feira, julho 22, 2020

COISAS DE OUTROS TEMPOS...

CAFÉ MONTANHA, esquina da Travessa da Assunção com a Rua do Arco Bandeira. Fundado no século XIX, foi encerrado em 1952. Segundo conta João Gaspar Simões em Retratos de Poetas que Conheci, foi aqui que em certo domingo de Junho de 1930 se apresentaram os directores da presença (ele e José Régio) para um encontro com Fernando Pessoa, colaborador da revista que não conheciam pessoalmente. Pessoa, porém, terá vindo à entrevista com a máscara de Álvaro de Campos, e as coisas não correram bem. José Régio foi o que mais sentiu o agravo, ele que era o poeta da sinceridade e tanto tinha feito para dar a conhecer a obra do criador dos heterónimos. Voltou para Coimbra de orelha murcha e coração opresso. Sim, Mário de Sá-Carneiro era mil vezes mais confiável que este fingidor de muitas personalidades. A partir de então, ficou sempre desconfiado de Lisboa e dos seus literatos.

Havia na cidade arranhas-céus, colmeias
De abelhas racionais acomodadas em quartel
Vivendo as vidas próprias como alheias,
Fabricando o seu fel.

--- JOSÉ RÉGIO, primeira quadra do poema "Havia na cidade", Cântico Suspenso, 1968.

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