Este ano com
uma ala dedicada a Quino, o criador de Mafalda
– a menina que odeia sopa e adora os
Beatles – e também dos seus companheiros
Manolito, Felipe, Susanita e Liberdade.
domingo, maio 07, 2017
sábado, maio 06, 2017
ALEXANDRE O´NEILL
Com Alexandre O´Neill, na passada quinta-feira, no bar-livraria "Menina e Moça". Um poeta que entrou na língua portuguesa, disse Clara Ferreira Alves.
O adjectivo
dá-me de comer.
Se não fora ele
o que houvera de ser?
Vivo de acrescentar às coisas
o que elas não são.
Mas é por cálculo,
não por ilusão.
----- Do livro De Ombro na Ombreira (1969)
quarta-feira, maio 03, 2017
M. K. TCHIURLIONIS (Varena-Lituânia,1875 - Pusteinik-Polónia,1911)
Sonata das Estrelas (1908), Museu de Arte da Lituânia
«Tchiurlionis (...) foi "um abstracto sete anos antes de Kandinsky, um pintor metafísico dez anos antes da pintura metafísica e um surrealista vinte anos antes do manifesto surrealista".»
---- MÁRIO DIONÍSIO, Colóquio Artes e Letras, nº 17, Fevereiro de 1962.
segunda-feira, maio 01, 2017
sexta-feira, abril 28, 2017
O QUE ELES DIZEM
Não há mais elegante delineio da Natureza que aquela abençoada fenda, sulcada em macios conchegos, figurando duas mãos que rezam, unidas ao alto, entrada de catedral, gasalho de mistério.
--- MÁRIO DE CARVALHO, Ronda das Mil Belas em Frol (2016).
retrato oval da virtude,
consoladora do triste,
remanso, beatitude
para o colérico em riste.
--- ALEXANDRE O´NEILL, Poemas com Endereço (1962).
quinta-feira, abril 27, 2017
DON JUAN

terça-feira, abril 25, 2017
JORNAIS DE ANTANHO
Jornal Globo, fundado por Bento de Jesus Caraça e José Rodrigues Miguéis. De efémera existência - dois números, apenas, saídos em Novembro de 1933 -, publicou um artigo não assinado "O velho Marrocos visto por um escritor novo" contra uma crónica de viagem de Ferreira de Castro na edição de O Século de 16 de Setembro do mesmo ano. Estou a tentar avaliar o caso.
sexta-feira, abril 21, 2017
RELEITURAS
Edição em que se inclui o ensaio de 1953 "Caracterização da Presença ou as Definições Involuntárias", no qual David Mourão-Ferreira sustenta o provincialismo dos escritores do movimento da Presença.
quarta-feira, abril 19, 2017
ORA NUMA NOITE DE LUAR MEDONHO
Capa da 2º edição corrigida, de 1943 (Portugália Editora), dos Poemas de Deus e do Diabo, aquela em que surge o posfácio "Um trecho das minhas memórias críticas", depois sucessivamente reformulado por José Régio até à sua versão final de 1969.
quarta-feira, abril 12, 2017
A TORRE DE ANTO
Torre do Prior do Ameal, fazia parte das muralhas de Coimbra, tendo sido transformada em habitação no princípio do século XVI. Nela morou António Nobre (Anto), o poeta do "Só".
«Ouvi estes carmes que eu compus no exílio, / Ouvi-os vós todos, meus bons Portugueses! / Pelo cair das folhas, o melhor dos meses, / Mas, tende cautela, não vos faça mal... / Que é o livro mais triste que há em Portugal.»
(Fotos de 9-4-2017)
(Fotos de 9-4-2017)
quarta-feira, abril 05, 2017
ALMADA NEGREIROS
Os belos desenhos de Almada nas capas da presença. Há mais dois: no nº 38, de Abril de 1933, e no nº 48, de Julho de 1936. Nenhum deles se encontra na actual exposição da Gulbenkian.
quarta-feira, março 29, 2017
ALICE NAS CIDADES (1974), DE WIM WENDERS
«Quando Philip, num jogo com Alice, escolhe a palavra "sonho", ela protesta que "só vale coisas que existam". Do outro lado do espelho, Alice lança esta displicente questão infantil ao seu pai adoptivo e temporário: o sonho é uma coisa que existe? O sonho americano, por exemplo, o sonho da paisagem americana, da sua mitologia, do seu cinema, o sonho de uma deriva feliz, de imagens verdadeiras, o sonho de uma família. São isso "coisas que existem"?»
--- Pedro Mexia, folha de sala. Em exibição no cinema Nimas.
terça-feira, março 28, 2017
FRAUTA MINHA, QUE TANGENDO (4)
Queria
conhecê-la, intimamente conhecê-la, como Ruy Belo queria conhecer a rapariga
estendida ao sol num relvado de Cambridge. Queria inclinar-me sobre o ângulo do
seu ombro e vê-la a ler estendida num relvado ao sol como a rapariga de Cambridge.
O meu reino pela rapariga que não é a rapariga de Cambridge. Queria conhecê-la,
mas isso, se calhar, talvez não seja possível. A rapariga que eu queria
conhecer, intimamente conhecer, não é fotografia de bilhete postal como a
rapariga de Cambridge que Ruy Belo queria conhecer mas nunca conheceu. A fotografia
de um bilhete postal não é igual à realidade e a realidade é às vezes mais
incompreensível que o sonho.
domingo, março 26, 2017
DOMINGO DE CHUVA
A chuva
enlaça-se ao domingo,
ávida noiva
perturbada:
cinge-lhe os
rins, desfaz-lhe o cinto,
numa volúpia
toda de água…
(…)
DAVID
MOURÃO-FERREIRA, Os Quatro Cantos do
Tempo [1953-1958]
sexta-feira, março 24, 2017
CARLOS DE OLIVEIRA (Belém do Pará, 1921 - Lisboa, 1981)
Na exposição “CARLOS DE OLIVEIRA: a
parte submersa do iceberg” – no Museu do Neo-Realismo até 29 de Outubro de 2017
– um móvel com fotografias da Gândara e vários livros: entre os autores, Ilse
Losa, Cecília Meireles, Ferreira de Castro e Afonso Ribeiro.
=Fotos de 23-3-2017=
quinta-feira, março 16, 2017
JOSÉ BACELAR (1900-1960)
Colaborador da Seara Nova, autor do ensaio Da viabidade do romance português de interesse universal (1939) e de considerável obra bibliográfica, colaborou na presença nos números 52, 1 e 2 da segunda série, respectivamente de Julho de1938, Novembro de 1939 e Fevereiro de1940. No número de 1938 publicou estas "72 anotações à margem da vida quotidiana", dedicadas a José Régio. -- Três delas: O elogio é sempre benéfico - excepto quando corrompe; Ser filósofo é afinal saber encontrar uma faceta vantajosa em cada escravidão; Se queres ser profundo, aprende a pensar à beira do paradoxo. -- José Régio tinha em grande consideração o seu perfil intelectual e o seu ensaísmo muito peculiar.
quinta-feira, março 09, 2017
DIREITOS DA MULHER - CONVERSA OUVIDA NO COMBOIO
PICASSO, Retrato de mulher
«Era
o Dia da Mulher e eu pensei, Hoje não vou fazer nada em casa. Tinha sobrado um
bocado de carne com esparguete, era só aquecer no micro-ondas, mas nem isso me
apetecia fazer. Só que ele estava tão atrapalhado com a apresentação das contas
do condomínio, tinha de estar na reunião às nove e meia, que eu disse, Vamos
jantar que eu vou já aquecer a comida e pôr a mesa. Acabámos de comer e eu
pus-me a lavar a loiça, Já estou a fazer o que não devia, disse, e ele ficou a
olhar para mim muito admirado, via-se mesmo o que estava a pensar, Se calhar
querias que fosse eu a ir lavar a loiça, era o que faltava…»
terça-feira, março 07, 2017
LA DERNIÈRE CLASSE
La dernière classe – Récit
d’ un petit alsacien, conto de Alphonse Daudet referido por
Antonio Tabucchi em Afirma Pereira.* Anexadas a Alsácia e a Lorena no termo
da Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), é determinado por Berlim que cesse nas
escolas o ensino do francês, dando lugar à língua alemã. O professor Hamel dá a
sua última aula de francês com a solenidade que o momento exige, deixando como
derradeira inscrição no quadro negro da sala o grito patriótico VIVE LA FRANCE!
O pequeno Franz viu e contou. Pelo meio, uma citação de Frédéric Mistral: «S´il tient sa langue, - il tient la clé que de ses chaînes le délivre.»
*
Afirma Pereira, de Antono Tabucchi,
em discussão na Comunidade de Leitores da Biblioteca José Saramago, Feijó
(Almada), no próximo sábado.
domingo, março 05, 2017
ANTÍGONA
Antígona
afrontou com coragem o poder tirânico de Creonte em Tebas. O discurso do vómito
polaco no Parlamento Europeu ignora a tradição ocidental, abundante de mulheres
fortes, grandes e inteligentes como a filha de Édipo e Jocasta. É verdade que é
um mito, mas, como disse Pessoa na Mensagem,
«o mito é o nada que é tudo.»
quinta-feira, março 02, 2017
LUBITSCH AMERICANO
Retrospectiva da obra americana de
Ernst Lubitsch durante os meses de Março e Abril na Cinemateca Portuguesa. O
realizador alemão chegou a Hollywood em finais de 1922. Vi hoje O Céu Pode Esperar (1943) com a
fulgurante Gene Tierney (Martha) no papel principal. Uma comédia sobre o julgamento da vida de um homem comum (um anti-herói) no tribunal do além. Deus ou o Diabo, qual dos dois deve ficar com ele?
quarta-feira, março 01, 2017
FRAUTA MINHA, QUE TANGENDO (3)
O amor é um work in progress. Anda-se para a frente e para trás, vagando e circunvagando, como uma maré ou um vento. A razão aparece nos umbrais do tempo. Vem ínvia de carnes e rotunda de pensamentos, cobre-se de roupa, tapa-se até ao anel do pescoço, escondendo a nudez da paixão e o natural dos sentimentos. A razão fere e mata o amor como uma lâmina ou um veneno.
PAOLO VERONESE (1528-1588), Vénus desarmando Cupido (c. 1555), óleo sobre tela, Worcester Art Museum
terça-feira, fevereiro 28, 2017
D. QUIXOTE E OS MOINHOS
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO, Le Moulin, tinta-da-China e guache s/ papel. Desenho exposto no Porto e em Lisboa nas exposições individuais de 1916 e 2017. (Museu Calouste Gulbenkian - Colecção Moderna.)
segunda-feira, fevereiro 27, 2017
domingo, fevereiro 26, 2017
ALEXANDRE CABRAL, MEMÓRIA DE UM RESISTENTE
Exposição no Museu do Neo-Realismo (
25 de Fevereiro – 25 de Junho de 2017) comemorativa do centenário do lutador
político, escritor, artista plástico e grande camiliano. Na foto, desenho de D.
Ana Plácido feito na cadeia do Aljube em 11 de Dezembro de 1963. Estão expostos todos os desenhos do período em que esteve preso.
sexta-feira, fevereiro 24, 2017
DE CAMPANHÃ A POMBAL
Estação de Campanhã, 23-2-2017
Está sentada
ao meu lado, pouca-terra, pouca-terra, tínhamos saído de Campanhã há uns
minutos. Abro o Lavoura Arcaica, de
Raduan Nassar, mas não consigo ler. Como é que eu sei onde é a estação de Pombal?,
pergunta, é de noite e não se vê nada para fora. Respondo: Está descansada que
eles avisam, ouve o que estão a dizer agora: Próxima estação, next stop, Espinho,
nunca falha, avisam em todas as estações. Tranquilizou-se. Entretanto, recebe
um telefonema da mãe: Vou no comboio para casa da minha amiga, volto na
quarta-feira à noite. Julgo ouvir a pergunta da mãe: Ó filha, mas tu tinhas dinheiro
para o bilhete? A minha amiga pagou-me o bilhete, responde, e a mãe parece não
acreditar. Olha, mãe, acredita no que quiseres, a minha amiga convidou-me, e no
Carnaval não há aulas… Digo-lhe que Pombal é a seguir a Coimbra, não há que enganar,
mas ela vai formosa e não segura, tem medo de deixar passar a estação mais a
amiga que a espera. Agora o comboio abranda e pára num descampado da via.
Pombal é aqui?, pergunta. Ó miúda, isto não
é estação, o comboio parou porque tinha de parar, tem calma que eu sei onde é, se
eles não avisarem, eu aviso-te, ok? Finalmente, next stop Pombal. Levanta-se, passa
por mim com um sorriso e sai para a noite da gare arrastando o saco e a mala do
computador. Está vestida de sombra, mas as asas de pomba vão radiantes de luz.
terça-feira, fevereiro 21, 2017
SONHO, SONHO-ME, SOU SONHADO
Foto de 21-2-2017
Em 1983, a 27 de Março, Jorge Luís Borges publica no jornal La Nación o conto “Vinte e Cinco de Agosto, 1983” em que profetiza o seu suicídio para esta data. Neste conto há dois Borges, e um diz para o outro: «Quem sonha quem? Eu sei que te sonho, mas não sei se me estás a sonhar.» O que tem isto a ver com um livro que agora releio – O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa – é o que se verá dentro de dias na sessão da Comunidade de Leitores de S. Domingos de Rana, Cascais. Pode parecer estranho, mas há leitores que se reúnem para discutir os livros que lêem.
segunda-feira, fevereiro 20, 2017
O TIRANO DEUS CUPIDO
Tendo professado no convento da Rosa de
Lisboa, situado na Costa do Castelo e destruído pelo terramoto de 1755, sóror
Violante do Céu (1607-1693) distinguiu-se pela sua poesia de expressão amorosa,
não tanto de amor ao “Divino Amante”, como algumas religiosas suas contemporâneas,
mas ao amante carnal que se apresentava
às grades do convento e nele era recebido como na intimidade de uma
alcova. Ora veja-se este belo soneto:
Que
suspensão, que enleio, que cuidado
é este
meu, tirano Deus Cupido?
pois
tirando-me enfim todo o sentido
me
deixa o sentimento duplicado.
tanto
de meus sentidos me divido,
que
tenho só de vida o bem sentido,
e
tenho já de morte o mal logrado.
Enlevo-me
no dano que me ofende,
suspendo-me
na causa de meu pranto,
mas
meu mal (ai de mim) não se suspende.
Oh
cesse, cesse, amor, tão raro encanto,
Que
para quem de ti não se defende
Basta
menos rigor, não rigor tanto.
sábado, fevereiro 18, 2017
CONGRESSO INTERNACIONAL "REVISTA PRESENÇA: 90 ANOS DEPOIS" - Anfiteatro III, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 9 e 10 de Maio de 2017
A série II da revista presença (apenas dois números, o
primeiro publicado em Novembro de 1939 e o derradeiro em Fevereiro de 1940) foi
a tentativa de reanimar uma revista esgotada em termos programáticos e de
intervenção numa altura em que a censura do Estado Novo apertava o cerco às
publicações não alinhadas pelos seus ditames ideológicos.
No editorial do nº 1
da série II – “Presença reaparece” – , um texto não assinado mas saído
claramente da pena de José Régio, são convidados para a revista todos os
«verdadeiros artistas, críticos ou pensadores de qualquer escola, idade,
classe», convite extensivo à geração neo-realista que, aliás, havia já
colaborado em números anteriores com textos poéticos de Joaquim Namorado, Fernando
Namora, João José Cochofel e Mário Dionísio.
Não se duvida da
sinceridade da proposta, mau grado as divergências que se iam cavando entre
Adolfo Casais Monteiro e João Gaspar Simões, servindo José Régio de mediador,
na verdade nem sempre isento.
José Régio queria
sangue novo na revista, e até “sangue velho”, se se tiver em conta o convite
feito aos cisionistas de 1930 (Branquinho da Fonseca, Edmundo Bettencourt e Adolfo
Rocha /Miguel Torga), convite que os dois primeiros se dispuseram a aceitar.
Roberto Nobre –
artista plástico, cineasta e crítico de cinema –, grande amigo de Ferreira de
Castro, era desejado por Régio na presença.
Numa carta para Alberto de Serpa, datada de Junho de 1939, diz o poeta: «Quanto
ao Roberto Nobre, não o convidei ainda, pelo menos categoricamente, porque
exactamente o Adolfo não concordava. E sabes porquê? Porque o Nobre saíra do Diabo à chegada destes que lá estão
agora; e o Adolfo não aprovara tal atitude, e achava que era “andarmos aos
caldos” (a expressão é dele) convidarmos o nosso melhor crítico
cinematográfico. Calei-me…
provisoriamente. Não desisto, nunca desistirei, de ver o Nobre na presença… se a presença resistir a estes embates.»
Não resistiu, acabou
ao 13º ano de publicação. No próximo mês de Março completam-se 90 anos sobre o aparecimento
da “folha de arte e crítica” coimbrã, estando anunciado para 9 e 10 de Maio um
congresso na Faculdade de Letras de Lisboa, organização do Centro de Estudos Regianos
e do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias daquela faculdade. Será
a oportunidade de se realizar mais um debate sobre a vida e morte da revista
que mostrou Fernando Pessoa aos leitores portugueses, tendo contribuído de
forma decisiva para a renovação estética da arte e da literatura portuguesas no
segundo quartel do século XX.
sexta-feira, fevereiro 17, 2017
A FLOR DO PRINCIPEZINHO
No asteróide do principezinho havia
embondeiros, três vulcões e uma flor com quatro espinhos.
«Nunca lhe devia ter dados ouvidos»,
dizia ele sobre a flor, para logo continuar: «Nunca se deve dar ouvidos às
flores. Deve-se é olhar para elas e cheirá-las. A minha, perfumava-me o planeta
todo, mas eu não era capaz de dar valor a isso.»
Sim, é certo que há flores com
espinhos, mas o pior que pode acontecer é não se chegar a cheirá-las, belas
e assustadoras que tantas vezes se apresentam. E acrescentava: «Não fui
capaz de entender nada. Devia tê-la avaliado não pelas suas palavras, mas pelos
seus actos. Ela perfumava-me e dava-me luz! Eu nunca devia ter fugido! Devia
ter sido capaz de perceber toda a ternura escondida naquelas suas pobres
manhas. As flores são tão contraditórias! Mas eu era novo de mais para saber
amar.»
O principezinho fugiu por não saber
amar. Esta não parece ser uma história para crianças e, no entanto, como tal
foi recebida em Nova Iorque naquele ano de 1943, quando não se sabia bem para
que lado das trincheiras cairia o vasto planeta chamado Terra, mundo infinitamente
maior e mais complicado que o asteróide dos embondeiros, dos três vulcões e da
flor com quatro espinhos.
José Régio chamou ao seu livro O Príncipe com Orelhas de Burro uma
história para crianças grandes. O
Principezinho, para além de interessar aos mais pequenos, é uma história para homens que não
perderam a memória de terem sido crianças, ou, de outra forma, para a criança
que há dentro de cada homem, assim sejam eles capazes de a encontrar.
Na Terra, o principezinho viu campos
com milhares de rosas e compreendeu que nenhuma se comparava à sua flor de
quatro espinhos. Às vezes acontece compreender-se demasiado tarde o que está mesmo
diante dos olhos.
terça-feira, fevereiro 14, 2017
FRAUTA MINHA, QUE TANGENDO (2)
Foto de 14-2-2017
Lido em Vergílio Ferreira, Carta ao Futuro: « (…) ainda que fosse possível imaginar um mundo
sem arte, sem obras que a exprimissem, jamais seria imaginável um mundo
entendido fora do sentimento estético, fora da qualidade emotiva que no-lo
explica à nossa relação
humana com ele.»
O rio com os seus veios de sal e escamas. Uma
bátega pontilhando de azul a superfície da água. Ao longe, sobre a campina, revoluteia
um bando de estorninhos. Dois caiaques passam junto à margem em remadas rápidas.
Como um barco, a tarde aponta a proa de sombra à foz do dia.
quarta-feira, novembro 23, 2016
KANDINSKY e a música de SCHÖNBERG
«O som musical tem um acesso directo à alma. E nela encontra a sua ressonância, porque o homem possui "a música em si mesmo".» -- W. KANDINSKY, Do Espiritual na Arte, capítulo VI.
quarta-feira, novembro 16, 2016
«FRAUTA MINHA, QUE TANGENDO» (1)
FRANZ MARC, As formas combatentes, 1914
Diz-se um nome como que a procurar esquecê-lo. Que palavras? Que vozes?
A vontade de não achar, a sensação da indescritível ausência. A poesia não se
nutre de cravos, nem de sóis, apenas de uma água de desejo que não se chega a
beber.
sexta-feira, novembro 11, 2016
ÍCARO AGRILHOADO
Na boca do rio, os dias riscados de
grades numa febre
de asas, os braços do dragoeiro
levantados ao céu,o rumorejo lento de águas e limos. Nuvens roxas
sobre o Labirinto amuralhado, vertigem de Ícaro,
catábase. Ouvias na noite a música do mar e dos campos,
a clara liberdade do vento de uma manhã por chegar.
Pássaro ferido sobre as rochas da praia,
que destino singrou, como barco, no teu corpo amável!
Levou-te a patrulha da denúncia ignóbil entre a floresta
de punhais e gládios. As boas mulheres choraram, vestidas
de negro como viúvas, e traziam pela mão as crias
pequenas, mudas e sentidas, de olhos abertos
como que para um livro onde o amanhã se escreve
e os homens aprendem a ler para lá dos signos.
segunda-feira, outubro 24, 2016
MUSEU MUNICIPAL DE TOMAR - Núcleo de Arte Contemporânea, doação de José-Augusto França
O Núcleo compreende um conjunto de
pinturas, esculturas, desenhos e fotografias que assinalam o Modernismo, o
Surrealismo, o Abstraccionismo e a eclosão da Nova-Figuração.
Representados, entre muitos outros:
Júlio, António Pedro, António Dacosta, João Cutileiro, Lourdes Castro, José
Escada, René Bértholo, Marcelino Vespeira, Júlio Pomar e João Cutileiro.
Nas fotos: Óleo 62 (1950), de Marcelino Vespeira, e Retrato de Mulher (c. 1947), de António Dacosta.
quinta-feira, maio 12, 2016
FERREIRA DE CASTRO sobre JORGE AMADO
«Sem deixar de ser um romancista poderoso, ele envolve as suas obras num clima poético. Um denso lirismo paira sobre os problemas do nosso tempo, que ele debate nos seus romances. O povo brasileiro surge ali com as suas inquietações, os seus dramas, os seus costumes, as suas superstições e essa quente poesia dos trópicos, onde a própria lua, sobretudo a própria lua, parece ter febre.» --- nº especial da Vértice - Nov. de 1951 / Jan. de 1952 - comemorativo do X aniversário e do nº 100 da revista.
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