sexta-feira, fevereiro 24, 2017

DE CAMPANHÃ A POMBAL

Estação de Campanhã, 23-2-2017
Está sentada ao meu lado, pouca-terra, pouca-terra, tínhamos saído de Campanhã há uns minutos. Abro o Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, mas não consigo ler. Como é que eu sei onde é a estação de Pombal?, pergunta, é de noite e não se vê nada para fora. Respondo: Está descansada que eles avisam, ouve o que estão a dizer agora: Próxima estação, next stop, Espinho, nunca falha, avisam em todas as estações. Tranquilizou-se. Entretanto, recebe um telefonema da mãe: Vou no comboio para casa da minha amiga, volto na quarta-feira à noite. Julgo ouvir a pergunta da mãe: Ó filha, mas tu tinhas dinheiro para o bilhete? A minha amiga pagou-me o bilhete, responde, e a mãe parece não acreditar. Olha, mãe, acredita no que quiseres, a minha amiga convidou-me, e no Carnaval não há aulas… Digo-lhe que Pombal é a seguir a Coimbra, não há que enganar, mas ela vai formosa e não segura, tem medo de deixar passar a estação mais a amiga que a espera. Agora o comboio abranda e pára num descampado da via. Pombal é aqui?, pergunta.  Ó miúda, isto não é estação, o comboio parou porque tinha de parar, tem calma que eu sei onde é, se eles não avisarem, eu aviso-te, ok? Finalmente, next stop Pombal. Levanta-se, passa por mim com um sorriso e sai para a noite da gare arrastando o saco e a mala do computador. Está vestida de sombra, mas as asas de pomba vão radiantes de luz.  
 

2 comentários:

Bia disse...

Chamava-se Ângela?

Manuel Nunes disse...

Ahahah! Nem pensei na Ângela. Tive de deixar esta crónica de viagem. Não saiu grande coisa, mas...