sexta-feira, novembro 11, 2016

ÍCARO AGRILHOADO

Na boca do rio, os dias riscados de grades numa febre
de asas, os braços do dragoeiro levantados ao céu,
o rumorejo lento de águas e limos. Nuvens roxas
sobre o Labirinto amuralhado, vertigem de Ícaro,
catábase. Ouvias na noite a música do mar e dos campos,
a clara liberdade do vento de uma manhã por chegar.
Pássaro ferido sobre as rochas da praia,
que destino singrou, como barco, no teu corpo amável!
Levou-te a patrulha da denúncia ignóbil entre a floresta
de punhais e gládios. As boas mulheres choraram, vestidas
de negro como viúvas, e traziam pela mão as crias
pequenas, mudas e sentidas, de olhos abertos
como que para um livro onde o amanhã se escreve
e os homens aprendem a ler para lá dos signos.
 

Sem comentários: