domingo, janeiro 13, 2013


EROS E SONHO

                         Ao João, leitor de D. H. Lawrence, que soube
                         sonhar o sonho e o contou
                   
Conhecias o flagelo do esquecimento, a exígua memória
que habita a matéria dos sonhos, e por isso os escrevias
num caderno que tinhas à cabeceira da cama. Foi assim
que pudeste falar do corcel do amor, priapo de asas
com que penetravas as húmidas cavernas da satisfação.
Deixavas-te levar na sela múltipla do seu dorso e sobrevoavas
planícies brancas que só existem na inocência
dos bons. Depois, ao rumor da noite, vias ondular o quimono
de seda duma gueixa, havia uma vibração de línguas
desafiando os equinócios da indiferença.
O poder iniciático cingia-te a fronte de miosótis,
caía no bosque do teu corpo a chuva agra e doce
do contentamento. Seguravas um livro, assim
como quem repousa a mão sobre um seio de mulher.

JOSÉ RAFAEL                                                                                    
                                                       

2 comentários:

Ricardo António Alves disse...

"Deixavas-te levar na sela múltipla do seu dorso e sobrevoavas
planícies brancas que só existem na inocência
dos bons."

Esplêndido.

Manuel Nunes disse...

Meu Caro,
Sempre atento a estas escritas. Obrigado.