A carta missiva ou mandadeira (…) é uma mensageira fiel que interpreta o nosso ânimo aos ausentes (…)
FRANCISCO RODRIGUES LOBO, Corte na Aldeia
Minha Querida
Amiga,
Há muito que
não te escrevia. O tempo corre depressa, bem sabes, mais depressa do que as
ilusões que vamos construindo, e quando damos por ele está muito à frente de
nós, longe daquilo que pensámos e desejámos fazer. Das últimas cartas que te
escrevi, não tenho, de resto, boas recordações: foram cartas que ficaram sem
resposta ou a que só respondeste com meias palavras, discursos que deixavam
espaço para a dúvida e a incerteza. Aceitei essas cartas com bonomia, (…)
Se te
escrevo hoje, não o escondo, é porque ultimamente muito me têm falado de ti.
Dizem-me que estás diferente, que têm dificuldade em compreender-te, e, o que
mais me preocupa, que terias deixado de sorrir e renunciado talvez ao refúgio
do amor. Imagina, tu que sempre te deixaste guiar pelo coração, tu que
amavas, conhecias e sentias a voz solar da poesia: Paroles
de Jacques Prévert, lembro-me bem, Rappelle-toi
Barbara / Il pleuvait sans cesse sur Brest ce jour-là / Et tu marchais
souriante / Épanouie ravie ruisselante / Sous la pluie.
Não sei o
que se terá passado contigo, mas a acreditar no que me dizem acho que o caso é
sério e merece uma palavra minha. Por vezes, Minha Amiga, as coisas acontecem
de forma diferente da que esperamos. Nem tudo é como parece, nem todos os
sentimentos se desenvolvem como os imaginamos. Sei bem que (…)
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