sábado, janeiro 05, 2013

DE COMO JOAQUIM MESTRE (1955-2009), ESCRITOR E DIRECTOR DA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE BEJA, FOI PERSONAGEM DE MÁRIO DE CARVALHO


"Está Emanuel à porta da biblioteca que, na cidade, é onde todos os caminhos vão dar, e examina com muita atenção as colunas à entrada, feitas de livros de pedra empilhados, em harmónico desequilíbrio. (…) Atrasadíssima chegou uma rapariga, (…) Um homem ainda novo, de cabelo à escovinha e barba de três dias, ia a entrar, com dois pacotes de papel pardo, que pareciam pesados.
– Doutor Joaquim Mestre! – gritou ela com uma risadinha. – Olhe que me prometeu uma entrevista…
O homem voltou-se e sorriu, sem parar de subir os degraus:
– Amanhã logo se vê. Amanhã.
E desapareceu, portas vidradas adentro.
– Este há quase um ano que me vem dizendo “amanhã”… Ah, esta vida de jornalista… – suspirou a rapariga." 


(---- MÁRIO DE CARVALHO, Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina, 2ª edição, Caminho, 2003, p. 208.)


2 comentários:

Custódia C. disse...

E eu que só agora descobri o Joaquim Mestre.
Se não fosses tu :)

Manuel Nunes disse...

Pois eu, que o descobri já não sei como, fui uma vez à Biblioteca de Beja só por causa desta passagem do romance de M. de Carvalho. Ainda bem que a leitura te está a agradar.