"Está Emanuel à porta da biblioteca
que, na cidade, é onde todos os caminhos vão dar, e examina com muita atenção
as colunas à entrada, feitas de livros de pedra empilhados, em harmónico
desequilíbrio. (…) Atrasadíssima chegou uma rapariga, (…) Um homem ainda novo,
de cabelo à escovinha e barba de três dias, ia a entrar, com dois pacotes de
papel pardo, que pareciam pesados.
– Doutor Joaquim Mestre! – gritou ela com uma risadinha. – Olhe que me prometeu
uma entrevista…
O homem voltou-se e sorriu, sem parar de subir os degraus:
– Amanhã logo se vê. Amanhã.
E desapareceu, portas vidradas adentro.
– Este há quase um ano que me vem dizendo “amanhã”… Ah, esta vida de
jornalista… – suspirou a rapariga."
(---- MÁRIO DE CARVALHO, Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina, 2ª edição,
Caminho, 2003, p. 208.)
2 comentários:
E eu que só agora descobri o Joaquim Mestre.
Se não fosses tu :)
Pois eu, que o descobri já não sei como, fui uma vez à Biblioteca de Beja só por causa desta passagem do romance de M. de Carvalho. Ainda bem que a leitura te está a agradar.
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