terça-feira, março 13, 2012

CANCIONEIRO DE JOSÉ RAFAEL (9)

Aprendi com Orfeu que não poderei
olhar para trás, e que em frente há
a dolorosa extinção do meu canto,
o pérfido baile das bacantes.
Por isso não direi o amor
no pretérito do que fui, ou no futuro
daquilo que não voltarei a ser.
Entrego-me ao condicional
de todas as conjugações como
quem abre uma porta na pedra líquida
dos verbos, bastando-me sentir
que talvez continues em mim
tão presa e livre
como a folha de árvore que se solta e voa.

1 comentário:

Maria Amélia disse...

Mais um para a preciosa colecção: obrigada, J. Rafael!