quinta-feira, março 22, 2012

A FICÇÃO E O MUNDO

Umberto Eco
Leio um texto de Umberto Eco: “O Estranho Caso  da Rue Servandoni”, relacionado com Os Três Mosqueteiros de Dumas, quinto capítulo de Seis Passeios nos Bosques da Ficção. Trata dos pactos ficcionais, das relações entre ficção e História, entre ficção e mundo real. E então coloca-se a seguinte questão: que diria o leitor de um romancista que numa das suas obras colocasse o Empire State Building em Berlim e a Alexanderplatz num bairro de Nova Iorque?  O processo de suspensão da incredulidade, que leva o leitor a aceitar o lobo falante do Capuchinho Vermelho ou a metamorfose de Gregor Samsa no livro de Kafka, parece não funcionar aqui. A não ser que se trate de ficção do género nonsense… Isto deu-me umas ideias para um certo trabalho sobre A Velha Casa.
ECO, Umberto – Seis Passeios nos Bosques da Ficção, DIFEL, 1995, pp. 103-122.

3 comentários:

Maria Amélia disse...

Para ser franca, não compreendo. Porquê a maior dificuldade em aceitar, ou em "jogar" com a troca topológica, quando se admitem todas as outras fantasias? Porquê o recurso ao "nonsense", se são admitidas com a maior naturalidade as fábulas mais incríveis? A atrapalhação com os lugares, é porque os citados se elevaram à categoria de símbolos?

Manuel Nunes disse...

O lobo mau do "Capuchinho" e o Gregor Samsa kafkiano pertencem ao mundo da ficção - não são verdadeiros nem falsos. O E.S.B. e a Alexanderplatz são coisas do mundo real de que a ficção se pode servir. É diferente o estatuto ontológico de uns e de outros. É o que acho, embora seja discutível.

Maria Amélia disse...

O que defendes (ou aceitas a priori) é que o lobo do capuchinho vermelho e a vítima da metamorfose Kafkiana, entre outras criações de ficção "universal" se tornaram entidades por si mesmas, independentes do "ser" lobo, homem, insecto híbrido, etc? Pode acontecer que me sinta mais próxima dos objectos urbanos e portanto capaz de não estranhar um tratamento ficcional dos mesmos. A propósito, deves ter reparado no que o João Botelho fez com os cenários de Lisboa no Filme do Desassossego. Se aquilo não é ficcionar com os elementos significativos da cidade...