sexta-feira, março 02, 2012

CANCIONEIRO DE JOSÉ RAFAEL (6)

Embora não o deseje, sei que me esperas
numa qualquer praça do tempo, e que ainda
conversaremos como dois amigos que se reencontram
depois de uma viagem ou de uma longa doença.
Mostrar-te-ei os meus versos, e tu me contarás
cada uma das ficções com que adornaste
a indiferença dos dias. Continuo a acreditar na verdade
singular da poesia, e apenas espero  ver cumprir-se
o meu livro para que possa entregar-me
ao silêncio definitivo de quem já fez
o que tinha a fazer.  Gostaria que fosse
por uma manhã cálida de Novembro, ao expirar
do Outono,  com os salgueiros respirando
nas margens do rio a prosopopeia dum choro.

1 comentário:

Maria Amélia disse...

Tantos desejos contidos num não-desejo!