quarta-feira, fevereiro 29, 2012

CANCIONEIRO DE JOSÉ RAFAEL (5)

Em frente do mar, como Júdice

Na esplanada, em frente do mar, vejo-te
como naquela tarde em que te sentaste no muro
de pedra que dava para a praia, e gozando
o voo das gaivotas sobre o areal e a espuma,
levantaste a fímbria da saia um palmo acima
dos joelhos. Na minha mão despertou
a carícia que a tua pele insinuava, e tu riste
com a alegria de quem vê cumprir-se a promessa
dum afecto. Hoje pergunto-me como foi possível
chegarmos a este silêncio de olhos e vozes
que tomou conta de nós como um nevoeiro de gumes
insidioso e frio.  Estendo o braço sob a mesa
da esplanada à procura da carícia antiga.
Mas já não a encontro.

2 comentários:

Maria Amélia disse...

Se a expressão da intensidade puder, de algum modo, romper a rigidez e o silêncio do túmulo, eu digo: obrigada, josé Rafael!

Manuel Nunes disse...

Eu remeto-lhe os agradecimentos. Como editor, fico satisfeito com o interesse demonstrado.