Manifestação da Intersindical em Lisboa - 11/2/2012
Eram, agora, ainda mais frequentes essas reuniões, que às
vezes se prolongavam pela noite dentro. Vinha o Januário, o Zé Olívio, o Rúdio,
– já velhos conhecidos. Vinha o Margarido, quase sempre acompanhado do Paulo
Bastos, – mais recentes. Apresentado por
qualquer destes, de vez em quando vinha um desconhecido, que depois continuava
de aparecer, ou não. Geralmente, era um camarada
que, de passagem pelo Porto, fazia uma visita. Chegara, já, a vir um ou
outro indivíduo com cara de estrangeiro. Maria Clara servia cafés a todos,
Joaquim trazia do guarda-loiça a garrafa do conhaque. “Não são conversas de mulheres”, dissera Joaquim, uma vez que, mais
por sondar que por outra razão, ela aparentara querer assistir a uma de tais
reuniões. “Também há mulheres que se
metem nessas coisas”, retorquiu ela. “Quais
coisas?”. “Essas da política.” “Bem
se vê que tu não”, rematara ele. E, para rematar a contento dela: “Nem eu te queria metida nisto. Quero-te
como és.” “Julgava que só os burgueses é que pensam assim das mulheres!” “Toma!”,
exclamara o Januário, rindo.
JOSÉ RÉGIO, A Velha Casa, vol. IV, Obra Completa, Lisboa, IN-CM, 2003, pp. 245 e 246.
Sem comentários:
Enviar um comentário