sábado, fevereiro 11, 2012

MULHERES EM LUTA

Manifestação da Intersindical em Lisboa - 11/2/2012
Eram, agora, ainda mais frequentes essas reuniões, que às vezes se prolongavam pela noite dentro. Vinha o Januário, o Zé Olívio, o Rúdio, – já velhos conhecidos. Vinha o Margarido, quase sempre acompanhado do Paulo Bastos, – mais recentes.  Apresentado por qualquer destes, de vez em quando vinha um desconhecido, que depois continuava de aparecer, ou não. Geralmente, era um camarada que, de passagem pelo Porto, fazia uma visita. Chegara, já, a vir um ou outro indivíduo com cara de estrangeiro. Maria Clara servia cafés a todos, Joaquim trazia do guarda-loiça a garrafa do conhaque. “Não são conversas de mulheres”, dissera Joaquim, uma vez que, mais por sondar que por outra razão, ela aparentara querer assistir a uma de tais reuniões. “Também há mulheres que se metem nessas coisas”, retorquiu ela. “Quais coisas?”. “Essas da política.” Bem se vê que tu não”, rematara ele. E, para rematar a contento dela: “Nem eu te queria metida nisto. Quero-te como és.” “Julgava que só os burgueses é que pensam assim das mulheres!” “Toma!”, exclamara o Januário, rindo.
JOSÉ RÉGIO, A Velha Casa, vol. IV, Obra Completa, Lisboa, IN-CM, 2003, pp. 245 e 246.

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