terça-feira, março 06, 2012

CANCIONEIRO DE JOSÉ RAFAEL (7)


Nunca percebi o que se passou naquela noite,
no hotel perto da estrada onde ficámos
depois de uma viagem de horas por entre
clâmides de searas  sob a luz e o vento
das planícies do sul. Os faróis dos carros
projectavam súbitas claridades nas paredes
do quarto, relâmpagos breves e surdos
como os de uma trovoada dentro de um sonho.
E então vi que choravas, um choro silencioso,
inexplicado, mas tão real que nos tolheu
por muito tempo os gestos do amor.
Penso hoje que teria bastado uma palavra tua,
ou minha, um compreensível sinal contra o silêncio
absurdo daquele prenúncio de distância.

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