Depois dos modernistas Raul Leal e Mário Saa, Fernando
Pessoa e o seu heterónimo Álvaro de Campos chegam à folha coimbrã em 4 de Junho
de 1927.
Viver é pertencer a outrem. Morrer é pertencer
a outrem. Viver e morrer são a mesma coisa. Mas viver é pertencer a outrem de fora, e morrer é pertencer a outrem de dentro. As duas coisas assemelham-se,
mas a vida é o lado de fora da morte. Por isso a vida é a vida e a morte a
morte, pois o lado de fora é sempre mais verdadeiro que o lado de dentro, tanto
que é o lado de fora que se vê.
Toda a emoção verdadeira é mentira na
inteligência, pois se não dá nela. Toda a emoção verdadeira tem portanto uma
expressão falsa. Exprimir-se é dizer o que não se sente.
Os cavalos da cavalaria é que fazem a
cavalaria. Sem as montadas, os cavaleiros seriam peões. O lugar é que faz a
localidade. Estar é ser.
Fingir é conhecer-se.
(Álvaro de Campos, presença
nº 5, 4 de Junho de 1927, p. 3)
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