quarta-feira, setembro 09, 2009

ANTÓNIO BOTO (1897-1959)


Fernando Pessoa falou dele como sendo o único poeta português a quem podia aplicar-se, sem dissonância, a designação de esteta (Revista Contemporânea, 1922). José Régio foi pelo mesmo caminho, elevando-o aos píncaros da excelência no ensaio António Boto e o Amor (1938).
Porém, o apreço literário que lhe era dispensado pelos seus pares não encontrou correspondência no juízo que dele tinham como homem e ser social. António Boto era vaidoso, desleal, sempre disposto à mentira e à intriga. Conta João Gaspar Simões (Retratos de Poetas que Conheci, 1974), ter em tempos recebido uma carta assinada por um desconhecido “Mário” que rezava assim:

Então o sr. não sabe que na moderna poesia portuguesa há só três poetas geniais? Não sabe quem são? Pois eu lhe digo:
Fernando Pessoa
António Botto
José Régio.
Já sabe agora? O resto é merda, como você.

Almada Negreiros dava-lhe o epíteto de serpente, e mesmo José Régio não o poupou nos volumes As Monstruosidades Vulgares (1960) e Vidas São Vidas (1966) do ciclo romanesco A Velha Casa, projectando os seus ademanes e idiossincrasias na personagem desprezível do poeta João Salvador.
Apesar da infelicidade de alguns escritos como, por exemplo, Fátima – Poema do Mundo com o inenarrável soneto de louvor ao cardeal Cerejeira (Rio de Janeiro, 1955), foi artista que deixou obra. É assim, ninguém é perfeito.

2 comentários:

Ricardo António Alves disse...

É verdade, meu caro. Mas o seu post raia a perfeição blóguica...
Abraço.

Manuel Nunes disse...

Perfeição blóguica? Só me faltava ouvir essa. Obrigado.
Abraço.