quarta-feira, setembro 23, 2009

ÁLVARO DE CAMPOS




Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
– Tirava os brincos do prego,
Casava c’um homem cego
E ia morar para a Estrela.

Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria tua mãe?
– (Ela conhece-me a fundo)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.

E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida
No sentido de morrer?
– Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.

Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia?
– Então, filho, nada feito,
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.

(Comunicado pelo Engenheiro Naval Sr. Álvaro de Campos em estado de inconsciência alcoólica.)

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