sábado, setembro 19, 2009

PAULA REGO e "O Crime do Padre Amaro"

Amaro era, como diziam os criados, um “mosquinha morta”. Nunca brincava, nunca pulava ao sol.
(…) Tornou-se muito medroso. Dormia com lamparina, ao pé de uma velha ama. As criadas, de resto, feminizavam-no; achavam-no bonito, aninhavam-no no meio delas, beijocavam-no, faziam-lhe cócegas, e ele rolava por entre as saias, em contacto com os corpos, com gritinhos de contentamento. Às vezes, quando a senhora marquesa saía, vestiam-no de mulher, entre grandes risadas; ele abandonava-se, meio nu, com os seus modos lânguidos, os olhos quebrados, uma roseta escarlate nas faces.

Eça de Queiroz, O Crime do Padre Amaro, Lisboa, Livros do Brasil, s/d, pp. 35 e 36.

1 comentário:

Custódia C. disse...

No que a mim me diz respeito, Eça de Queiroz e Paula Rego são uma conjugação perfeita…