Plauto, o maior comediógrafo latino, viveu entre 260 a.C. e 184 a.C., tendo chegado a ser-lhe atribuída a criação de cento e trinta comédias. Provavelmente não terá produzido tantas, mas há uma, a comédia ´´Anfitrião´´, cuja autoria lhe é inequivocamente reconhecida.
O tema desta comédia foi retomado por muitos criadores literários e dramaturgos, entre eles Molière, e, entre nós, por Luís de Camões e António José da Silva.
E qual é o tema?
Júpiter, pai dos deuses, decidiu descer ao mísero mundo dos mortais para possuir Alcmena, matrona fidelíssima ao senhor seu esposo, de nome Anfitrião, que se encontrava ausente em missão militar contra os Teléboas. Os deuses clássicos tinham destas coisas, abandonavam muitas vezes a pose divina para se misturarem com os pobres humanos, atrapalhando-lhes a vida…
Na companhia de Júpiter veio Mercúrio, o mensageiro dos deuses, para ajudar à festa.
Chegados a este vale de lágrimas, toma Júpiter a forma humana de Anfitrião, marido de Acmena, enquanto Mercúrio se transforma em Sósia, o escravo de Anfitrião, que com ele havia partido para a guerra. E assim se apresentam a Acmena.
Ficou feliz a matrona, julgando ver regressado o seu amado esposo, e a noite que entretanto chegou povoou a alcova de palavras ternas, de cicios e gritos, tendo Júpiter, no poder incomensurável da sua divindade, retardado o curso da Lua para tornar mais longa a noite e prolongar o prazer.
Só que havia coisas que os deuses clássicos não conseguiam prever. Anfitrião regressa da guerra, coberto de glória, e manda à frente o escravo Sósia para dar a novidade à esposa. O pobre dá de caras com o seu duplo (Mercúrio) à porta de casa e fica estarrecido. Logo aparece Anfitrião e descobre que em sua casa já lá está uma cópia sua (Júpiter).
Supremo imbróglio: Anfitrião, o verdadeiro, procura convencer a esposa de que é ele o marido, acusando-a de adultério, mas ela não se sente adúltera, pois com quem quer que fosse que tivesse dormido naquela noite, tinha-o feito com a convicção de ser o seu marido.
Acontece que Alcmena já estava grávida de três meses do seu legítimo esposo. Mas por obra divina voltou a engravidar de Júpiter e, milagre dos milagres, acabou por dar à luz três crianças, uma delas Hércules, cuja paternidade foi assumida pelo supremo deus.
Anfitrião, por sua vez, ao descobrir o envolvimento dos deuses naqueles insólitos eventos, sentiu-se honrado e ficou agradecido por ter partilhado os seus haveres, incluindo a esposa, com o pai dos deuses.
Foi a esta comédia latina, inspirada aliás num velho tema grego, que a linguística europeia foi buscar a palavra anfitrião para designar quem recebe alguém em sua casa, partilhando os seus haveres domésticos, embora não indo tão longe como o remoto anfitrião de Plauto; e sósia, para referir um indivíduo muito parecido com outro, podendo mesmo confundir-se com ele.
D.E.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário