Excelentíssimo Senhor,
Entre ontem e hoje – logo que tive
conhecimento do seu pedido de demissão –, procurei-o no Ministério das
Finanças, na sede local do FMI à Avenida da República, até na Buenos Aires,
naquele nobre espaço onde se acoita a plêiade de génios que tanto têm feito
pela salvação da nossa querida Pátria. Não consegui encontrá-lo, daí que me
veja obrigado a escrever-lhe esta carta.
Pretendo manifestar-lhe o meu maior apreço.
Estrangeirado que é, na linha de ilustres portugueses como Luís António Verney
e Sebastião de Carvalho e Melo, Vossa Excelência foi uma lufada de ar fresco
numa classe política caduca, obsoleta e corrompida, constituída por bacharéis
de baixa extracção, ex-operários estalinistas, economistas de saberes duvidosos
e titulares de cursos académicos obtidos por processos mais ou menos obscuros.
Se lhe escrevo – perdoe-me a
impertinência – é porque para além da grande admiração que pretendo
manifestar-lhe, duas coisas, apenas duas, acho por bem fazer notar junto de um alto
espírito que por direito se constituiu como esperança e reserva moral deste pobre
país.
Primeira delas: proferiu Vossa
Excelência, num momento crítico em que a oposição
socialista-comunista-bloquista pretendia rebaixar as altas qualificações morais
da sua pessoa, uma afirmação que ainda hoje guardo no meu coração: “eu não
minto, eu não engano, eu não ludibrio”. Assim, muito me surpreendeu a carta
deixada ao nosso esforçado primeiro-ministro – que Deus e Nossa Senhora de
Fátima o guardem! – pela qual se soube estar Vossa Excelência para abandonar o
governo da Nação desde, pelo menos, 22 de Outubro de 2012, sem que nós, seus indefectíveis
admiradores, sequer o suspeitássemos. Estávamos nós descansados, pensando que
Vossa Excelência se encontrava a trabalhar, de ânimo firme, para superar o mal
causado pelo desgoverno socialista, e afinal andava a preparar a sua saída, com
um pé já fora do governo, como qualquer rato de bordo perante o naufrágio
iminente. Por outras palavras, andava Vossa Excelência a mentir, a enganar e a
ludibriar os que em si confiavam.
Segunda coisa, mais delicada, ter
Vossa Excelência garantido, não há muito tempo, que todo o trabalho que
arduamente desenvolvia ao serviço da Nação era para pagar o investimento feito
pelo erário público na sua formação escolar – aliás notável – , desde os tempos
distantes do ensino pré-primário ao brilhantismo do MBA e outras graduações
académicas. Pois aqui é que está o problema, ficando-se sem saber, ao ter interrompido
de forma tão abrupta as suas funções, se chegou a liquidar na íntegra essa dívida espontaneamente assumida. Considerando que Vossa Excelência cessou os
pagamentos a meio do prazo estipulado, quando ainda faltavam dois anos para o
termo da legislatura, então só terá liquidado metade, pelo que será de
considerar, em nome da sua honra e do seu bom nome, que entregue em dinheiro ou
espécie a parte que ainda lhe falta pagar.
Sabemos que os tempos estão difíceis,
que Vossa Excelência tem mulher e filhos necessitados de apoio financeiro e que,
se calhar, algum período de carência se lhe antolhará até à sua merecida
reintegração em algum rendoso emprego em Frankfurt, Washington D.C. ou Bruxelas.
Para obviar a tão delicada situação, poderá Vossa Excelência fazer um plano de
pagamentos em 24 prestações suaves até ao fim desta legislatura, a qual – para
bem da Pátria e graças a homens como Pedro Coelho e Aníbal Silva – , não será
certamente interrompida pelo furor esquerdista e antipatriótico de Seguros,
Jerónimos e quejandos.
Como não me ocorre mais nada, e ainda
aturdido por tão inesperado desfecho da sua carreira política em Portugal,
termino desejando-lhe as maiores felicidades, esperando que saia depressa
deste país minúsculo que o não merece e que tão más recordações certamente lhe
terá deixado.
Sem outro assunto, creia-me seu
admirador estreme e dedicado que se subscreve com apreço, estima e veneração,
2 comentários:
Penso que não levará a mal se eu subscrever, pois não?
Não, não, Minha Querida. Está, de resto, em subscrição pública.
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