sábado, fevereiro 02, 2013

DISCURSO DO GUARDA DA ÚLTIMA FRONTEIRA CONTRA A TEIA DE ARANHA, CHAMADA XÂNTILA, DAS TREMENDAS E DESOLADAS REGIÕES DA LUA DE SOMBRA (fragmento)

Dinis Machado, imagem © rabiscos vieira 
(…) a minha obrigação é ver passaportes, avisar contra as regiões da lua de sombra e passar a guia para a Praia de Pensar Nisso, mas voltemos às estrelas, aquela ali é Dick Tracy, um polícia à paisana que conseguiu o exacto ponto de equilíbrio entre o dever e a solidariedade, ainda me lembro dele quando chegou aqui, disse que tinha deixado tudo em ordem lá atrás e perguntou se tudo corria bem nas outras estrelas, na estrela Mãe, na Bigodes Piaçaba, na de César, conversámos um pouco, tinha muita franqueza no olhar, passei-lhe a guia para a Praia de Pensar Nisso, partiu de chapéu na mão, depois temos a estrela Aurora, lúcida e louca, nasceu de uma máquina de escrever sem teclas, agora é nela manhã todos os dias, e a estrela Morango, ou estrela Wilson, ortodoxa e desorbitada, toca-se lá Stravinsky em inebriantes noites jardineiras, e outras estrelas e estrelinhas de constelações descentralizadas e iglantónicas, olhe agora para aquela galáxia, para a luz maravilhosa que irradia, os diferentes formatos e as várias intensidades, os entendidos sabem o nome de todas elas, eu conheço algumas, é a de Mozart, a de Rimbaud, a de Gorki, a de Van Gogh, de Bach, a de Eluard, a de Dostoiewski, a de Neruda, a de Goya, a de Cesário, aquela ali, muito intensa, é a de Beethoven, (…)
DINIS MACHADO, O que diz Molero, Lisboa, Círculo de Leitores, 1978, pp. 148 e 149.

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