Há
contentamentos nas minhas noites que se riem
da claridade
dos dias.
Eu sei que
não devia dizer isto no poema,
a voz tão
próxima do eu que escreve, designadanos compêndios como sujeito lírico, e tentar,
segundo o cânone da poética moderna, a despersonalização
ou o fingimento adequados aos fins em vista, pois o poeta
deve falar de si, sim, mas com a máscara de outro.
Porém, como
renunciar ao nítido perfil do sonho?
Como não
falar das mulheres que todas as noitespassam pela minha cama,
algumas que mal conheço, outras que conheço bem de mais:
um nu deitado de Modigliani, a Ester que vejo entrar no banho
no quadro luminoso de Chassériau,
o mármore branco de corpo feminino
com que me deparei em certa tarde numa sala do museu de Orsay?
Sigo ao
contrário da norma e pelo voo do sonho.
No cume da
noite
abraço-me ao corpo que dorme comigo, abro-lhea nuvem lúcida do seio
e respiro-o doridamente
até que a manhã desfaça o encanto.
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