terça-feira, abril 06, 2021

ANTÓNIO DE NAVARRO (1902-1980) - "BACANAL", O STROPHION DA BACANTE DESPIDA, LUXÚRIAS, SONOLÊNCIAS DE ÓPIO...

 António de Navarro, retrato por Mário Eloy (1929)

Em Coimbra foi "Príncipe de Judá" e a sua poesia, segundo Adolfo Casais Monteiro, procede «directamente do veio mais anárquico da geração de Pessoa». Deu escândalo, escreveu torrencialmente e, por fim, tornou-se mais comedido sem deixar de poetar. Andou pelos "Ultramares" da grande nação lusitana. Publicou em livro só uma pequena parte do que escreveu.

BACANAL, publicado no nº 5 da presença, 4 de Junho de 1927
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Apenas lembranças vagas de memória, / - esquírolas, migalhas, um resquício, / e a esquina d´um Som / e as letras quasi sumidas / da palavra VIDA. / O Strophion / d´uma bacante despida, / esgares de magas de Goya, / contorcionismos de Chagall, / e uma palavra esquecida / na alma de toda a gente - / - MORTE! /(mas tudo em bruma n´uma sonolência d´ ópio) // Foi Ela a minha companheira / n´esse final de banquete  onde fui: - / todos os convivas, / o vinho, as mulheres, as iguarias, / ânsias de fome entre góticas ogivas / luxúrias / toda a bacanal, / em suma. / Comunguei Deus e Satanas / pelo mesmo pão, pelo mesmo vinho, / fui Estrutura universal, / pedra d´um caminho, / e uma onda que veio de longe e apenas deixou espuma / - A VIDA.

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