Era tão insegura que as pernas lhe tremiam
nervosamente sempre que estava perto da pessoa amada. Tinha receios
inexplicáveis, como imaginar que ele a diminuía aos olhos dos outros ou que se
ria dela depois de terem terminado uma conversa telefónica. Por vezes,
ligava-lhe de seguida, dizendo que o tinha ouvido rir, que não se enganara,
indagando a razão do suposto riso. Achava-se feia e sem graça, vivendo temerosa
da possibilidade de ter mau hálito ou de não vestir a roupa certa quando saía
para ir com ele ao cinema. Coisa mais extraordinária, beijava sempre de olhos
abertos, como se quisesse certificar-se de que o céu não lhe caía em cima nos
momentos de prazer em que lhe entregava os lábios. Um dia deixou de responder
aos seus convites por temer que ele lhe aparecesse com outra mulher só para a
ofender e humilhar. E passou a andar sozinha, sem falar com ninguém, lendo
histórias infantis para adormecer e sonhar. Uma noite leu a história do patinho
feio e pensou que ainda poderia vir a ser um cisne. Deve-se ter afogado no lago
ou voado para longe, tal como o cisne do conto, pois nunca mais foi vista.
quarta-feira, dezembro 06, 2017
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