Da sua autobiografia, diz Sartre: Penso que Les mots (As Palavras) não é mais verdadeiro do que La nausée ou Les chemins de la liberté. Não que os factos que aí relato não sejam verdadeiros, mas Les mots é uma espécie de romance também, um romance em que acredito. Significa para Sartre que a autobiografia, usando os mesmos processos técnicos e formais do romance, com este se igualiza em dignidade artística, não se limitando a uma escrita meramente referencial.
As Palavras é um retorno não sentimentalista à infância do autor com a descoberta de dois tesouros: a leitura e a escrita. O menino Jean-Paul, órfão de pai, tutelado por um avô culto e liberal, conheceu cedo o episódio protagonizado por Carlos V, dobrando-se humildemente para apanhar do chão o pincel de Ticiano. Ficou assim a saber que a arte está acima do poder dos príncipes.
Sobre a importância da escrita na construção da sua personalidade, diz: Nasci da escrita: antes dela, havia apenas um jogo de espelhos; desde o meu primeiro romance, soube que uma criança se introduzira no palácio dos espelhos. Escrevendo, eu existia, e se dizia eu, isso significava eu que escrevo.
5 comentários:
Estou a ver que está a dar-lhe forte meu caro, e com que substância!
Já me matriculei.
Ab.
Por quem é, Caro Amigo, os mestres não se matriculam em cursos de Verão.
Abraço.
Manuel:
O Ricardo antecipou-se, pois no meu caso, que também tenho estado a seguir o folhetim, a ideia era não dizer nada que desencorajasse a continuação da promissora sequência, tanto mais que tenho vivido ultimamente na companhia da "Confissão dum homem religioso" e do "Manual...", e... tudo isto é muitíssimo interessante.
Go on, please!
Amélie:
(quem disse que há nomes sem variantes possíveis?)
Folhetim é uma boa imagem! Agrada-me bastante.
Quanto à "Confissão..." e ao "Manual..." (em francês diz-se manuel (!)), isso é que são leituras!
Por mim, estou a ver se acabo (finalmente!) as "Confissões" de Rousseau. São 650 páginas! A seguir estou a pensar em Santo Agostinho, ou Agostinho de Hipona, como gosto mais de dizer. E pelo meio há ainda a crónica da pesca do bacalhau, isto é, do "gadus morhua". Vê a dedicatória do autor: "À minha mulher, Maria Amélia, etc., etc.".
Manuel:
Grande pontaria, essa do S.A. e as suas "Confissões" (há quem diga que fundacionais ou pelo menos de divulgação do estilo...). Aí está uma leitura que, por razões mais ou menos particulares, gostaria de partilhar! Poderemos pensar em incluí-lo nas nossas sessões, ou estou a delirar? (Acho que sim,é delírio, não ligues, só mesmo uns quantos maduros...).
A propósito de leituras pelo meio, não te estás a esquecer d'"A Conjura"? No meu caso, raramente terei intercalado tantos livros naqueles que tenho "mesmo" de ler, sob pena de ter de desistir da tese... que, mau grado meu, nada tem a ver com estas derivas (deliciosas) para onde me deixo levar, não impunemente!
E quanto ao que tenho de ler ou consultar, estou a descobrir uns interessantíssimos autores-personagens-activistas da resistência ao Estado Novo, da área da história (económica e social). O que tenho em mãos é o Manuel (!) Villaverde Cabral, com a história fascinante do século XIX.
Quanto à epopeia do bacalhau, tenho tido a minha dose: há vários dias que tenho a sensação de não comer outra coisa (nem pescar)!
Enviar um comentário