quarta-feira, janeiro 31, 2007

UM SEBO DE SÃO PAULO E O MEU AMOR EM PERIGO ( 1 )

Gilberto, meu tio, dizia ter no sótão, dentro de uma arca, uma vasta colecção de livros e códices antiquíssimos, rolos de pergaminho grafados em latim, cópias de forais e cartas régias, um astrolábio que se salvara do naufrágio da nau S. Bento no Cabo da Boa Esperança, além de duas peças que designava como as mais valiosas de todo o acervo: a lâmina com que o verdugo Pacheco degolou D. Inês de Castro, e um manuscrito inédito de Camões – com grande número de elegias, odes, éclogas e canções – que lhe fora furtado em Lisboa quando se preparava para o entregar na oficina do impressor. Isto era o que dizia o tio Gilberto, pois a arca, com o seu valioso recheio, nunca ninguém a viu. Vivia escondida nos desvãos do sótão, inacessível a olhos de estranhos, embora fosse usada muitas vezes como argumento de autoridade nas dissertações com que o velho tio deslumbrava as visitas de casa. Tinha como tema predilecto nessas dissertações a história do ignominioso atentado dos Távoras contra a augusta pessoa do rei D. José I, embora também costumasse perorar sobre jesuítas e outros parasitas clericais. E sempre que algum assombrado ouvinte, embora esmagado pela erudição, deixava transparecer qualquer dúvida sobre a matéria expendida, o meu tio Gilberto invocava a arca e os seus arcanos – que estavam lá, dizia ele, todos os documentos em que se baseava para a defesa das suas teses.
Não foi feliz este meu tio. Nem com os filhos que a sorte lhe destinou – refractários aos interesses e saberes do pai – nem com os anos de velhice, que poderiam ter sido longos e cheios de interessantes conversas aos serões se não lhe tivesse sobrevindo, mal entrado na reforma, umas dessas doenças que nos habituámos a qualificar de prolongadas, mas que sem detença e grandes prolongamentos o lançou no forno crematório do cemitério do Alto de S. João.
Morto o tio Gilberto, lançadas ao vento as suas cinzas, soube vagamente que a arca e o seu recheio tinham sido vendidos por bom dinheiro a um antiquário do Bairro Alto, informação que acabei por dar como certa e confirmada, visto que os meus primos apareceram logo com uns BMW novos, acabados de sair do stand, e, nesse ano, tiraram duas semanas de férias nas praias do nordeste brasileiro, eles que não tinham por hábito alargar os seus destinos balneares além de Carcavelos ou da Costa da Caparica. Afinal, concluí, a arca continha mesmo as valiosas peças de que falava o tio Gilberto. De outra forma, não teria proporcionado o encaixe financeiro que parecia fazer as delícias dos meus primos. E eu senti vergonha de algumas vezes não só ter duvidado da importância que ele lhe atribuía, como até da sua elementar existência.
Acontece que pela altura do passamento do tio Gilberto, Cláudia, a minha mulher, fazia um fulgurante doutoramento cuja tese – A Expansão Portuguesa no Oriente Durante o Século XVI - lhe levava arrastadas horas de trabalho entre a universidade e a biblioteca, trazendo para casa, nas dissimuladas gavetas do seu portátil, grande quantidade de informação que trabalhava pela noite fora. Concedia-me nesse difícil transe a benesse de um simples encontro semanal nas delícias do tálamo, oportunidade que eu saboreava como escassa, mas que aceitava e compreendia, dado o carácter absorvente do seu trabalho e a reconhecida dedicação com que se lhe entregava.
Diga-se que existia entre mim e Cláudia, não obstante nos amarmos muito, um grande desnível de habilitações académicas e de estatuto profissional. Enquanto ela dava aulas na universidade e preparava o seu doutoramento em História, eu tinha fracassado no curso universitário, ocupando-me em trabalhos precários, inadequados à minha formação, como, por exemplo, vigilante nocturno de uma empresa de segurança ou vendedor de soluções de informática em mercado residencial. Foi numa manhã em que regressado a casa após uma noite de vigília na sede de uma instituição bancária, a horas em que Cláudia já havia saído para a universidade, abeirando-me da sua mesa de trabalho vi aberto o grosso volume da Oitava Década da Ásia, de Diogo do Couto, em cujo livro quinto, capítulo nono, ela tinha sublinhado a seguinte passagem:

Neste Inverno começou Luis de Camões a compor hum livro muito docto de muita erudição que intitulou Parnaso de Luis de Camões, porque continha muita poesia, filosofia, e outras ciencias, o qual lhe desapareceo, e nunqua pude em Portugal saber delle.


Estas linhas do continuador de João de Barros nas Décadas da Ásia fizeram-me pensar de imediato na arca do tio Gilberto e no manuscrito do Épico que ele dizia estar lá guardado. Será que se tratava desse precioso livro que, segundo o historiador, Luís de Camões ia compondo em Moçambique enquanto não encontrava meios para pagar a viagem de regresso à Pátria? Se assim fosse, por mais dinheiro que os meus primos tivessem recebido do antiquário a quem venderam a arca, tratar-se-ia sempre de uma soma insignificante, face à importância daquele manuscrito. Um livro perdido de Camões, uma preciosa obra lírica, entregue dentro de uma arca a um obscuro comerciante de antiguidades por dois BMW de último modelo e umas semanas de férias no Brasil. Fiquei indignado com semelhante atentado à cultura, estarrecido perante a possibilidade de aquele tesouro poder cair em mãos erradas. E resolvi agir.

(Continua)

D.E.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

SE AMOR NÃO É, QUAL É MEU SENTIMENTO? ( 3 )

- A senhora tem de decidir, por favor, o que pretende escrever – disse-lhe ele em determinada altura. E ela ficou cativada por aquela observação tão cheia de delicadeza que até fazia dela a escritora – assim se apresentaria, de facto, na capa do livro! – quando na realidade não passava de uma informante da história, alguém que recorria aos serviços de um ghost-writer por não ser capaz de desenvolver um texto aceitável, apenas uma escrita incipiente, imprópria para aparecer em letra de forma mesmo nas páginas da mais obscura edição. E pensou que o escritor, além daquele pormenor interessante das mãos, devia ser uma pessoa sensível, dador e merecedor de afectos, sentindo pejo em transmitir-lhe os incidentes mais lamentáveis da sua vida conjugal. Começava a pensar que o importante na vida não era alimentar a memória dos episódios infelizes, mas conservar no coração o que tinha havido de bom, aquilo de que podia lembrar-se com satisfação, pois esse seria o melhor caminho para ultrapassar os reveses e poder voltar a amar. Ainda andou por ali uns dias, na oficina de escrita, a atrapalhar o labor do criativo, sem saber muito bem o que fazer, sempre fascinada por aquelas mãos que a transportavam a outra idade, a um tempo distante e perfumado, até ao momento em que o escritor, em estado de desânimo, resolveu desvincular-se do contrato de prestação de serviços por falta de cooperação da cliente.
Arrumaram as coisas a bem, pagando-lhe ela as horas perdidas, deixando ele a porta aberta para, em outro momento, com um projecto mais definido, poderem voltar a colaborar.
Durante as semanas seguintes, sempre que passava pelo centro comercial não se dispensava de ir visitar a oficina de escrita. Acenava ao escritor do lado de cá do balcão, e se ele estava disponível e lhe vinha estender a mão num gesto de amizade, ela ficava uns segundos a olhá-la, quase emocionada, como se visse uma pedra rara ou uma flor.
E, coisa extraordinária, algo se enraizava nela que a fazia sentir-se outra mulher: uma liberdade interior, uma disponibilidade para amar, fora das amargas lembranças e dos humores negativos. Começou a ler os grandes poetas do amor, tanto os modernos como os antigos, como se procurasse nessas  leituras uma espécie de exercício de manutenção da alma, com a mesma disposição de quem frequenta o ginásio ou pratica um desporto para manter a forma física. Foi então que descobriu as Rimas de Petrarca. Conhecia-o como o poeta da paixão por Laura, um amor jamais consumado, mas que, apesar disso, sempre morou na sua poesia, mesmo depois da morte da mulher amada. Começou a ler com emoção esses poemas onde, por vezes, descobria figuras e formas de dizer também usadas por Camões. Tocou-a em especial o soneto Se amor não é, qual é meu sentimento?, talvez por ter a ver com as suas dúvidas sobre algo que sentia nascer, um misto de contentamento e insatisfação, um desassossego brando que a levava por pensamentos e sonhos há muito tempo distantes de si. De tantas vezes o ler, já o tinha decorado:

Se amor não é, qual é meu sentimento?
mas se é amor, por Deus, que cousa e qual?
se boa, que é do efeito ásp’ro e mortal?
se é má, o que é que adoça tal tormento?

Se ardo a bom grado, onde é pranto e lamento?
e se a mau grado, o lamentar que val’?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
tanto em mim podes sem consentimento?

E em sem razão me queixo, se o tolero.
E em tão contrários ventos, frágil barca
me leva em alto mar e sem governo,

tão cheia de erros, de saber tão parca,
que eu mesmo nem sequer sei o que quero,
e a tremer no estio, ardo de inverno.


Dirigiu-se à oficina de escrita para agendar uma reunião com o escritor. Ele teria de lhe escrever um conto, um simples conto, que fosse a expressão viva do sentimento que aquele soneto lhe despertava. Abrir-se-ia com ele, mostrar-lhe-ia a alma apaixonada, e a sua escrita ágil derramar-se-ia nas folhas de papel como uma promessa de felicidade.
Veio o dia aprazado. Os olhos do escritor correram os catorze versos do soneto com o mesmo sobressalto do versejador a quem dão um mote difícil para compor um poema, tentando apanhar uma brecha onde estribar a prosa, uma palavra ou uma expressão que soltasse a torrente da escrita. Chupou o cachimbo e coçou a orelha, como costumava fazer antes de proferir uma das suas austeras sentenças ou de se lançar ao trabalho da escrita, mas nenhuma musa veio em seu auxílio. Ainda olhou para as lombadas da estante povoadas pela sombra de Paulo Coelho, como se implorasse a ajuda do plumitivo para tão aflitiva situação. Mas nada. Embatucou como um estudante a quem fazem uma pergunta numa prova oral e, desconhecendo a resposta, lança o olhar aturdido sobre as carrancas do júri examinador. Ela ficou à espera do juízo sobre o poema e a sua proposta de narrativa, admirada da hesitação que lhe via no rosto, e não foi preciso muito para descobrir que ele nunca daria conta do recado. O espírito de Petrarca, de que estava cheia, não tinha tocado a alma do escrevente do alheio. Sentiu pena, mas, ao mesmo tempo, aceitou-o como facto natural. Sabia que havia outros caminhos e outras viagens. E olhando as mãos do escritor abandonadas sobre o tampo da secretária, imóveis, como se um medo ou um grande mal lhe tivessem tolhido os movimentos, já não via nelas a mesma beleza de outros dias. Poderia enganar-se, mas pareciam-lhe apenas umas mãos vulgares, mais ou menos iguais a tantas outras que conhecia.
D.E.
Nota: A tradução do poema de Francesco Petrarca (1304- 1374) é de Vasco Graça Moura.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

AMADEO E O ESTUDANTE DE ARTE


O estudante de arte perdeu a visita de estudo da Faculdade à exposição de Amadeo porque andava demasiado ocupado com a organização do seu jantar de aniversário. Todos sabemos o trabalho que dá organizar um jantar de aniversário: escolher o restaurante, dirigir os convites, confirmar as presenças, assegurar os meios de transporte necessários. São horas e horas de porfiado labor, de dedicação severa. Por essa razão, apenas por essa razão, o estudante de arte falhou o encontro com as 260 obras expostas. Mas que importância poderão ter o álbum XX Dessins, a Cozinha de Manhufe, o Armory Shaw de Nova Iorque, a Procissão do Corpus Christi, mais o cubismo, o pontilhismo, o expressionismo e todos os revérberos da arte perante a luminosa tela dos 21 anos? Pouca importância, concedo. Não é por isso, pois, que vou deixar de te amar, meu filho.
D.E.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

SE AMOR NÃO É, QUAL É MEU SENTIMENTO? ( 2 )

Fez notar o escritor, logo na primeira sessão de trabalho, que para interessar o vasto público na leitura do livro não bastaria contar a história da sua infeliz experiência matrimonial, pois tratando-se de episódios da vida de uma pessoa desconhecida, ninguém, para além do círculo restrito de familiares e amigos, se disporia a queimar os olhos em semelhante prosa. Seria necessário que o leitor ou a leitora pudessem retirar do texto algum ensinamento. O livro, para lá de contar uma história, deveria ter um conteúdo pedagógico capaz de ajudar quem se encontrasse em situação idêntica. E assim, decidiram-se por uma estrutura de composição que teria no final de cada capítulo umas curtas notas de aconselhamento e pequenos exercícios de aplicação para testar a assimilação das lições de vida apresentadas. Uma espécie de livro de auto-ajuda, como está bem de ver.
O escritor, diga-se, era desses artistas que não interpõem entre o nascimento das palavras e o papel que lhes serve de berço os esgares de plástico dos teclados, os revérberos dos ecrãs e o matraquear das impressoras a jacto de tinta. Escrevia à mão, num cursivo inglês moderadamente inclinado, como se as palavras se desfizessem em permanentes reverências ao papel que as acolhia.
Ela começou a maravilhar-se com aquela escrita que brotava com tanta facilidade a partir dos episódios por si relatados, a apreciar a elegância das linhas correctamente dispostas sobre as folhas, saindo daquelas mãos cuja beleza entretanto descobrira, aqueles dedos esguios de unhas brilhantes, umas mãos que lhe lembravam as do marido nos tempos distantes de enamorada. Apaixonara-se por ele, entre outras coisas, pela beleza das mãos. O escritor também as tinha bonitas, e assim, deixando-se levar por ternas memórias, ela ficava a olhá-las como se fossem as mesmas que antigamente lhe percorriam as zonas erógenas do corpo ou se detinham, apaziguadoras, sobre o balcão sereno dos seus ombros. E começou a manifestar-se nela, num sentimento que crescia de sessão para sessão, uma falta de vontade para evocar os maus tempos do casamento, apetecendo-lhe antes saborear a lembrança dos momentos felizes. Por essa razão, a progressão do trabalho marcava passo numa espécie de anticlímax todo feito de memórias felizes e derrogações do que importava narrar.
- Se isto continua assim, minha senhora, ainda encheremos mais páginas que as da  Recherche – observava com ironia o profissional da escrita, lembrando-lhe de que o livro não deveria ir além das cem páginas, sendo forçoso, por isso, entrar rapidamente na matéria principal. E interrompiam a sessão.
Ela voltava no dia seguinte, e bem tentava falar dos episódios sombrios, daquele tempo em que o amor, já irremediavelmente perdido, dera lugar à falta de respeito e à violência entre os cônjuges. Fora essa a sua intenção inicial, o motivo que a levara a pensar no livro. Mas à vista das mãos do escritor, perante a forma elegante como se apresentavam e moviam sobre a secretária, escrevendo ou esperando pelos elementos que ela lhe transmitia, só se lembrava dos momentos de ternura e dos deleites proporcionados por outras mãos de semelhante beleza. E não lhe saía nada do que interessava, só se lembrava dos tempos do amor, insistindo com notas e factos que não fazendo progredir o trabalho começavam a exasperar o paciente criador artístico.

(Continua)

D.E.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

SE AMOR NÃO É, QUAL É MEU SENTIMENTO? ( 1 )


Ela nem queria acreditar: num desvão do corredor do centro comercial, num daqueles pontos do labirinto onde, no caso de incêndio, ninguém conseguiria dar com a saída de emergência, acabara de abrir, no mesmo espaço onde já se tinham finado negócios de engomadaria e peças de arte africana, uma loja completamente remodelada com um balcão, duas secretárias e uma vistosa estante, apresentando no vidro da montra o seguinte letreiro:

OFICINA DE ESCRITA
Dê-nos a sua ideia e nós passamo-la a escrito!


Se não fosse o saco dos congelados acabados de adquirir no minimercado, teria entrado de imediato. Calculou, porém, que seria demorada a entrevista, que pretenderiam conhecer em pormenor o seu projecto, e ela teria de abrir o jogo, de ir ao fundo da questão e indagar sobre honorários, processos de trabalho, prazos de execução, pedir informações sobre os custos de edição, de lançamento e de distribuição. Tudo isso levaria bastante tempo, descongelariam as ervilhas e as postas de peixe, lá se ia o governo da semana. Depois, já preenchera um caderno com vários apontamentos, uma boa dúzia de frases lapidares e algumas ideias feitas, o melhor seria voltar em outra altura com todos os elementos e discutir o assunto sem precipitações.
Andou uma semana a pensar na melhor forma de abordar o caso. Tinha uma grande vontade de escrever aquele livro, mas as frases que iam nascendo no caderno não eram encorajadoras. Sentia a dificuldade do ofício de escrever: as armadilhas do léxico, as figuras de estilo, a descrição dos ambientes, a técnica narrativa em cada um dos seus momentos – exposição, complicação, clímax, epílogo – , aprendidos num manual de escrita criativa que comprara e lera quando ainda alimentava ilusões de poder realizar o trabalho por sua conta e risco.
Aprazou a visita à loja para um certo dia ao fim da tarde, à hora em que o centro comercial se enche de tépidos odores a café e bolos.
O escritor que a atendeu – um apreciador de Paulo Coelho, a avaliar pelos metros de estante, junto da sua secretária, onde desfilavam as mais variadas edições do prolífero autor – ouviu com atenção, tomando pequenas notas, o projecto de escrita por ela proposto. Depois, deteve-se uns instantes numa fermentação de pensamentos elevados, de reflexões austeras, mordendo o cachimbo e coçando a orelha. Finalmente, olhando-a com um ar infinitamente compreensivo, assentiu:
- A senhora precisa de ajuda, nós vamos ajudar.
Abriu então as argolas de um dossiê e extraiu dele uma bolsa de plástico com várias folhas de papel: contrato de prestação de serviços, preçário, relação de custos editoriais, e um pequeno inquérito para avaliar, no final do trabalho, o grau de satisfação do cliente.
Que o preço era puxado percebeu ela, quando, já em casa, se deitou a fazer contas com a máquina de calcular. Porém, considerando a hipótese de uma edição de quinhentos exemplares, mais de trinta vendidos na família, outros tantos no local de trabalho, uma boa dose junto de vizinhos e amigos, mais os que se escoariam através da distribuidora, sempre cobriria parte das despesas. E o dinheiro não era o mais importante. Eram outros os objectivos que a moviam. Da mesma forma que aquele político injustamente despedido das suas funções, apeado levianamente do poder quando dispunha de maioria parlamentar estável, sentiu necessidade de denunciar em livro a cabala de que fora vítima, também ela, mulher e mãe de família, desprezada pelo marido ao fim de tantos anos de fidelidade conjugal, se sentia obrigada a explicar, para que todos soubessem e, amanhã, os filhos e netos não viessem a ser intoxicados por uma falsa versão dos acontecimentos, o fio de sucessos que havia conduzido à ruptura matrimonial e à consumação do divórcio.
(Continua)

D.E.