Pense-se no que seria o nosso património artístico e literário sem três peças fundamentais: Os Lusíadas de Luís de Camões, o políptico Veneração a S. Vicente de Nuno Gonçalves e a Custódia de Belém de Gil Vicente. Seria um património menos rico, imaginariamente despojado de tão importantes obras. E no entanto, quando hoje lemos a grande epopeia camoniana ou apreciamos no Museu Nacional de Arte Antiga os painéis do pintor régio de D. Afonso V e o esplendor artístico da obra-prima da ourivesaria manuelina, não nos passa sequer pela cabeça que esses três tesouros já estiveram em risco de perdição.
Os Lusíadas, quando a embarcação que trazia Camões de Macau para Goa – onde iria cumprir pena de prisão por irregularidades cometidas no desempenho das funções de provedor dos defuntos e ausentes – naufragou na foz do rio Mecom, na costa do Cambodja. Diz a tradição que Camões salvou o manuscrito nadando apenas com um braço, segurando com o outro, acima da espuma das águas, o precioso trabalho poético.
Os painéis de Nuno Gonçalves, esses, jaziam abandonados num depósito em S. Vicente de Fora e talvez viessem a servir como tábuas de andaime ou pasto de lume se o pintor Columbano não tivesse dado com eles em 1882.
Quanto à Custódia de Belém, pilhada pela soldadesca de Napoleão e mais tarde devolvida pelos franceses, deu entrada na Casa da Moeda onde a descobriu, em risco de se converter em vil metal, D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, nobre de origem alemã, rei consorte de Portugal pelo seu casamento com a rainha D. Maria II.
Falemos um pouco deste homem que parece ter sido o salvador da Custódia de Belém. Ficou conhecido na História de Portugal pelo nome de Fernando II. Era uma personalidade de rara sensibilidade artística, desenhador de mérito, tendo apoiado os artistas plásticos da sua época através da compra de obras e da atribuição de bolsas para estágios de formação no estrangeiro. Foi graças à sua ajuda que Columbano estudou em Paris.
Em 1834, com a extinção das ordens monásticas, adquiriu D. Fernando o pequeno Convento de Nossa Senhora da Pena, em Sintra, fundação jerónima do tempo de D. Manuel I, e a partir desse núcleo lançou um projecto de edificação de um palácio de que foi comitente e em certa medida arquitecto – o Palácio da Pena. Saíram do seu risco muitas das soluções compositivas e decorativas desse palácio de conto de fadas, uma obra eclética e revivalista que dialoga com múltiplas estéticas, da arquitectura mudéjar granadina ao manuelino e ao neobarroco.
Os Lusíadas, quando a embarcação que trazia Camões de Macau para Goa – onde iria cumprir pena de prisão por irregularidades cometidas no desempenho das funções de provedor dos defuntos e ausentes – naufragou na foz do rio Mecom, na costa do Cambodja. Diz a tradição que Camões salvou o manuscrito nadando apenas com um braço, segurando com o outro, acima da espuma das águas, o precioso trabalho poético.
Os painéis de Nuno Gonçalves, esses, jaziam abandonados num depósito em S. Vicente de Fora e talvez viessem a servir como tábuas de andaime ou pasto de lume se o pintor Columbano não tivesse dado com eles em 1882.
Quanto à Custódia de Belém, pilhada pela soldadesca de Napoleão e mais tarde devolvida pelos franceses, deu entrada na Casa da Moeda onde a descobriu, em risco de se converter em vil metal, D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, nobre de origem alemã, rei consorte de Portugal pelo seu casamento com a rainha D. Maria II.
Falemos um pouco deste homem que parece ter sido o salvador da Custódia de Belém. Ficou conhecido na História de Portugal pelo nome de Fernando II. Era uma personalidade de rara sensibilidade artística, desenhador de mérito, tendo apoiado os artistas plásticos da sua época através da compra de obras e da atribuição de bolsas para estágios de formação no estrangeiro. Foi graças à sua ajuda que Columbano estudou em Paris.
Em 1834, com a extinção das ordens monásticas, adquiriu D. Fernando o pequeno Convento de Nossa Senhora da Pena, em Sintra, fundação jerónima do tempo de D. Manuel I, e a partir desse núcleo lançou um projecto de edificação de um palácio de que foi comitente e em certa medida arquitecto – o Palácio da Pena. Saíram do seu risco muitas das soluções compositivas e decorativas desse palácio de conto de fadas, uma obra eclética e revivalista que dialoga com múltiplas estéticas, da arquitectura mudéjar granadina ao manuelino e ao neobarroco.
Foi um rei estrangeiro, mas isso não lhe diminuiu a importância nem o afecto que o País lhe dedicou. Não se limitou a ser uma figura decorativa, um rei consorte. Trabalhou em nome da cultura, deixou obra.
E impediu que a Custódia de Belém, essa miniatural catedral gótica, filigrana e poema, fosse muito provavelmente derretida.
D.E.
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