quinta-feira, outubro 29, 2020

VINCENT, UMA RELAÇÃO INCOMPREENDIDA

 
Numa carta para Théo, expedida de Haia em Abril ou Maio de 1882, diz Vincent van Gogh: 
«Encontrei este Inverno uma mulher grávida, desprezada pelo homem de quem ia ter o filho.
Uma mulher grávida, que vagueava pelas ruas, tentando ganhar o seu pão da forma que calculas.
Contratei-a como modelo e trabalhei com ela todo o Inverno.
Eu não tinha forma de lhe pagar salário completo de modelo; paguei-lhe o equivalente da habitação e, graças a Deus, pude preservá-la, até hoje, assim como à criança, da fome e do frio, partilhando com ela o meu pão. Quando encontrei esta mulher, fiquei impressionado com o seu ar de sofrimento.
Proporcionei-lhe banhos e fortificantes, dentro das minhas posses. Acompanhei-a a Leyde, onde há uma maternidade; aí poderá dar à luz.» - Cartas de van Gogh a seu Irmão Théo, Lisboa, Editorial Aster, p. 167.
A mulher tinha o nome de Christien e era tratada pelo hipocorístico Sien. A criança referida era uma menina de cinco ou seis anos, sua filha, que a acompanhava. Van Gogh amou-a e pretendeu desposá-la ante a incompreensão e indignação do irmão. O desenho de título Sorrow, de que ela foi o modelo, tem inscrita a seguinte frase de Michelet, autor lido e admirado pelo pintor holandês: «Comment se fait il qu´il y ait sur la terre une femme seule - délaissée.»

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