Un enterrement à Ornans (1850, Paris, Musée d´Orsay), de Gustave Courbet (1819-1877),
pintor enaltecido por Eça de Queiroz na sua célebre conferência do Casino
Lisbonense em Maio de 1871. Já houve quem visse na descrição do enterro de
Amélia, penúltimo capítulo de O Crime do
Padre Amaro, um diálogo intertextual com esta pintura da escola
realista: “O menino do coro cravou no chão a haste da cruz prateada, e o abade
Ferrão, adiantando-se até à beira do buraco escuro, murmurou o Deus cujus miseratione… Então João
Eduardo, muito pálido, vacilou de repente, e o guarda-chuva caiu-lhe das mãos;
um dos criados de farda correu, segurou-o pela cinta; mas ele resistiu, e ali
ficou, com os dentes cerrados, segurando-se desesperadamente à manga do criado,
vendo o coveiro e os dois moços amarrarem as cordas no caixão, fazerem-no resvalar
entre a terra esfarelada que rolava, com um ranger de tábuas mal pregadas.”
* Arte Poética, Horácio,
v. 361, tradução de Rosado Fernandes: “Como a pintura é a poesia”.
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