quarta-feira, junho 26, 2013

UT PICTURA POESIS *

Un enterrement à Ornans (1850, Paris, Musée d´Orsay), de Gustave Courbet (1819-1877), pintor enaltecido por Eça de Queiroz na sua célebre conferência do Casino Lisbonense em Maio de 1871. Já houve quem visse na descrição do enterro de Amélia, penúltimo capítulo de O Crime do Padre Amaro, um diálogo intertextual com esta  pintura da escola realista: “O menino do coro cravou no chão a haste da cruz prateada, e o abade Ferrão, adiantando-se até à beira do buraco escuro, murmurou o Deus cujus miseratione… Então João Eduardo, muito pálido, vacilou de repente, e o guarda-chuva caiu-lhe das mãos; um dos criados de farda correu, segurou-o pela cinta; mas ele resistiu, e ali ficou, com os dentes cerrados, segurando-se desesperadamente à manga do criado, vendo o coveiro e os dois moços amarrarem as cordas no caixão, fazerem-no resvalar entre a terra esfarelada que rolava, com um ranger de tábuas mal pregadas.”

 
* Arte Poética, Horácio, v. 361, tradução de Rosado Fernandes: “Como a pintura é a poesia”.

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