Álvaro Cunhal (1913-2005)
A humanidade chegou a uma
encruzilhada. O momento não é favorável a longas hesitações. Cada qual tem que
escolher um caminho: para um lado ou para o outro.
(…)
Aos homens cabe escolher e decidir.
(…)
Alguns desses homens afastam-se
prudentemente, monologando acerca dos horrores da luta travada.
(…)
Afinal, essa fuga traduz uma escolha
em frente da encruzilhada. Porque esses homens não se calam; antes aconselham
os outros a irem ter com eles. São os cansados que pregam o cansaço. Os
desalentados que pregam o desalento. Os solitários que pregam a solidão.
(…)
e ajeitam-se na incómoda posição de
José Régio:
“Vergo a cabeça sobre o peito
Concentro os olhos sobre o umbigo”
(Encruzilhadas
de Deus, Mitologia)
(…)
Entretanto esses solitários vão
cantando o próprio umbigo, esquecendo que, assim, se servem do canto para
servir os seus fins. Pois
… “bem sei que sou o meu único fim”
(José Régio – id., Poema do Silêncio)
(…)
Precisamente porque se está numa
encruzilhada; precisamente porque a sorte de milhares de homens depende do
caminho que será seguido; as atenções de todos aqueles que sentem a gravidade e
importância (…) dos momentos presentes,
se concentram na possível saída do embaraço. Homens que assim sintam, apreciam
e julgam as “obras do espírito” (e em particular as obras de arte) pelo que
elas podem influir na direcção futura da humanidade. Da mesma forma, artistas
que assim sintam, fazem naturalmente reflectir nas suas produções artísticas as
preocupações que os obcecam. A única diferença entre estes artistas e os
artistas solitários é que, enquanto a obcecação destes é o próprio umbigo, a
daqueles é a sorte da humanidade.
(…)
--- ÁLVARO CUNHAL, Seara Nova, nº 615 de 27-5-1939, pp.
285-287.
2 comentários:
Pede-se a réplica!)...
Réplica e tréplica.O último a calar-se foi o A.C.. Já veremos.
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