quinta-feira, julho 19, 2012

NA ENCRUZILHADA

Álvaro Cunhal (1913-2005)
A humanidade chegou a uma encruzilhada. O momento não é favorável a longas hesitações. Cada qual tem que escolher um caminho: para um lado ou para o outro.
(…)
Aos homens cabe escolher e decidir.
(…)
Alguns desses homens afastam-se prudentemente, monologando acerca dos horrores da luta travada.
(…)
Afinal, essa fuga traduz uma escolha em frente da encruzilhada. Porque esses homens não se calam; antes aconselham os outros a irem ter com eles. São os cansados que pregam o cansaço. Os desalentados que pregam o desalento. Os solitários que pregam a solidão.
(…)
e ajeitam-se na incómoda posição de José Régio:
“Vergo a cabeça sobre o peito
Concentro os olhos sobre o umbigo”
(Encruzilhadas de Deus, Mitologia)
(…)
Entretanto esses solitários vão cantando o próprio umbigo, esquecendo que, assim, se servem do canto para servir os seus fins. Pois
… “bem sei que sou o meu único fim”
(José Régio – id., Poema do Silêncio)
(…)
Precisamente porque se está numa encruzilhada; precisamente porque a sorte de milhares de homens depende do caminho que será seguido; as atenções de todos aqueles que sentem a gravidade e importância  (…) dos momentos presentes, se concentram na possível saída do embaraço. Homens que assim sintam, apreciam e julgam as “obras do espírito” (e em particular as obras de arte) pelo que elas podem influir na direcção futura da humanidade. Da mesma forma, artistas que assim sintam, fazem naturalmente reflectir nas suas produções artísticas as preocupações que os obcecam. A única diferença entre estes artistas e os artistas solitários é que, enquanto a obcecação destes é o próprio umbigo, a daqueles é a sorte da humanidade.
(…)
--- ÁLVARO CUNHAL, Seara Nova, nº 615 de 27-5-1939, pp. 285-287.

2 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Pede-se a réplica!)...

Manuel Nunes disse...

Réplica e tréplica.O último a calar-se foi o A.C.. Já veremos.