O livro é velho, dos mais velhos que possuo. Li-o pela primeira vez há muito tempo, depois de ter ouvido falar dele e do seu autor num almoço de colaboradores do suplemento juvenil do “Diário de Lisboa”. O meu exemplar pertence à 4.ª edição de 1964, 12.º milhar, uma cifra editorial que não deixa de surpreender.
Nunca mais esqueci o episódio da mão do Bailote (capítulo V), o semeador que se enforca por não dispor de condições físicas para trabalhar, logo, por não poder garantir a sua subsistência:
– Quando foi da sementeira, o patrão Arnaldo disse-me: “Ó Bailote, tu já não tens a mesma mão para semear.” Porque eu, senhor doutor, tive sempre uma mão funda, assim grande, como um cocho de cortiça. Eu metia a mão ao saco e vinha cheia de semente. Atirava-a à terra e semeava uma jeira num ar.
(…)
E mostrava a sua desgraçada mão, envelhecida, carbonizada de anos e soalheira.
(…)
– Dê-me um remédio, senhor doutor. Um remédio que me ponha a mão como a tinha. Assim, grande, assim, funda, assim, assim…
Aparição é um belo romance-ensaio sobre o Homem e a sua condição existencial, sobre a privação de Deus e o destino trágico do pensamento. Mas este episódio da mão do Bailote, pela questão social que levanta, sabe de certa forma a neo-realismo.
Nunca mais esqueci o episódio da mão do Bailote (capítulo V), o semeador que se enforca por não dispor de condições físicas para trabalhar, logo, por não poder garantir a sua subsistência:
– Quando foi da sementeira, o patrão Arnaldo disse-me: “Ó Bailote, tu já não tens a mesma mão para semear.” Porque eu, senhor doutor, tive sempre uma mão funda, assim grande, como um cocho de cortiça. Eu metia a mão ao saco e vinha cheia de semente. Atirava-a à terra e semeava uma jeira num ar.
(…)
E mostrava a sua desgraçada mão, envelhecida, carbonizada de anos e soalheira.
(…)
– Dê-me um remédio, senhor doutor. Um remédio que me ponha a mão como a tinha. Assim, grande, assim, funda, assim, assim…
Aparição é um belo romance-ensaio sobre o Homem e a sua condição existencial, sobre a privação de Deus e o destino trágico do pensamento. Mas este episódio da mão do Bailote, pela questão social que levanta, sabe de certa forma a neo-realismo.
2 comentários:
Pois, parece que foi aqui que ele mudou a agulha.
Quanto a mim (sob pena de ter de me desdizer no futuro, o que farei com grande à-vontade), livro datado e sobrevalorizado. O que não se passa com o «Para Sempre», do melhor que já li.
Abraço
Sim, compreendo.( Sobre o dizer e desdizer, já li o ensaio da "Islenha", que apreciei.)
Lembrei-me de "Aparição" porque ando agora a ler o "Apelo da Noite",da mesma colecção "contemporânea/portugália", publicado depois, mas começado a escrever muito antes.O "Para Sempre", infelizmente, ainda não li.
Já peguei no Diderot.
Abraço
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