quinta-feira, janeiro 13, 2011

ROMANCE AUTOBIOGRÁFICO E IRONIA

Detalhe de Flora na Primavera de Botticelli (c. 1478)
A ironia de género do romance autobiográfico é herdeira da ironia romântica, signo de modernidade cujos efeitos ainda vivemos. Andei hoje à volta do tema – ociosidade própria de quem não tem que picar o ponto e anda relativamente distraído do que vai acontecendo nos mercados financeiros e na campanha eleitoral do país pequenino.
Se me perguntam porque está aí essa imagem, bela como uma Primavera por acontecer, respondo que faz capa na edição francesa dum grande livro: L’ ironie de Vladimir Jankelevitch, com o qual andei amigado no dia que passou.
Em termos estilísticos fala-se muito da ironia pura – que a Retórica consagrou – , da ironia disfemística, da restritiva e da contornante. Meti os olhos em todas elas, mas sem a mesma emoção de quem olha uma mulher bonita num transporte público e espera não a ver descer na paragem seguinte.
Apesar do que já li sobre o assunto, ainda me falta compreender a ironia do amor. Agradeço ensinamentos ou indicação de bibliografia.

3 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Ahahah! Bravo! A reforma está a fazer-lhe bem.

Manuel Nunes disse...

Caro Ricardo,
Não se fie em aparências! O ironista ri-se por fora, mas chora por dentro. O Bernardo Soares diz no "Livro do Desassossego" que "a ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente". Penso que vai dar ao mesmo.

Custódia C. disse...

E que boa é a distracção dos temas que referiste .... mercados financeiros e campanhas aborrecidas, ficam muito abaixo de tão ilustres ironias :)