domingo, outubro 10, 2010

ACADEMIA SUECA - A MADRASTA


A ideia do título surgiu-me por ter lido, durante as férias, o “Elogio da Madrasta” de Mario Vargas Llosa. Embora neste livro se fale de uma madrasta benigna, mãe e amante dum enteado afinal bastante perverso, há literaturas para as quais a Academia Sueca tem sido uma madrasta das autênticas.
Tome-se como exemplo as literaturas de língua portuguesa, contempladas com o único prémio de José Saramago em 1998. Mário Vargas Llosa, peruano, é o sexto Nobel de língua castelhana depois de cinco escritores espanhóis, alguns praticamente desconhecidos do grande público: José Echegaray (1904), Jacinto Benavente (1922), Juan Ramon Jiménez (1956), Vicente Aleixandre (1977) e Camilo José Cela (1989). Nos trinta e três anos que vão de 1956 a 1989, a Espanha teve três laureados com o Prémio Nobel da Literatura, o que me leva a pensar que Portugal e o Brasil mereciam ter pelo menos mais um ou dois escritores entre os premiados da Academia Sueca.
Já cerca de 1960, conforme leio no diário de José Régio, se agitava o nosso meio literário face às personalidades portuguesas indicadas para o prémio Nobel. Miguel Torga fora proposto pelo professor e historiador francês Jean-Baptiste Aquaronte, e os nomes de Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro eram igualmente falados nos jornais como nobelizáveis. De Régio, porém, nem sequer se lembravam, conforme nos revela o próprio em magoada nota naquele seu diário.
Hoje, doze anos depois de Saramago, ocorre-me o nome de Agustina Bessa-Luís para preencher um dos lugares do Nobel que temos em falta. A sua escrita é poderosa e paradoxal, de difícil assimilação, embora nunca deixe de nos surpreeender e estimular. Mas que pensará Agustina do prémio da Academia Sueca? Proust, James Joyce e Jorge Luis Borges nunca o receberam e não deixaram por isso de figurar entre os maiores. Sartre foi nomeado em 1964 e recusou. Prémios são prémios, fazem parte de um certo mundanismo que se estabeleceu na instituição literária e que nem sempre se afirma pelas melhores razões. Porém, além das inerentes vantagens materiais, eles constituem um reconhecimento de facto e fazem luz sobre escritores e literaturas que apesar das suas valias não lograram chegar até ao grande público. Por isso sou por Agustina para Nobel da Literatura, embora receie poder ser já demasiado tarde para se lhe fazer essa justiça.

2 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Vamos torcer pelo Lobo Antunes, que dos portugueses é o que terá mais hipóteses. sem esquecer os brasileiros, é claro, há muito merecedores.
Ab.

Manuel Nunes disse...

Se for o Lobo Antunes, que seja. Ele gosta de prémios, sobretudo da sua componente financeira. Então um Nobel...
Quem não os aceita é o Herberto Hélder, e mesmo assim foi apresentado pelo Pen Clube como candidato.
Abraço,
Manuel Nunes