domingo, dezembro 28, 2008

A IMPERTINÊNCIA DE SENTIR ( XIV)

E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria , ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignomínia crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico. – Isto é dito por Almeida Garrett nas Viagens, cuja história decorre em Julho de 1843, em pleno período da ditadura de Cabral. Dito por Garrett e não por um seu narrador, pois há suficientes provas, ao longo de toda a narrativa, da identificação do autor com o narrador e protagonista. A crítica costuma enfatizar a complexidade da obra, os seus diferentes níveis (narrativa de viagem, novela, carta) e o hibridismo formal típico do Romantismo, mas raramente se detém nas suas marcas autobiográficas. Uma verdadeira autoficção, dizemos nós, muito antes de o termo ter sido inventado, em 1977, por Serge Doubrovsky.

3 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Também comecei uma série de posts Garrett, lá na Caverna.
Abraço.

Ricardo António Alves disse...

Caro Manuel, esqueci-me de lhe pedir o mail, no outro dia. Aproveito aqui o seu blogue para lhe dizer para aparecer, se quiser e puder, lá no clube, no próximo dia 9 (O Velho e o Mar).
Um abraço.

Manuel Nunes disse...

Sim, Ricardo, estou a contar passar por lá. Obrigado.
Grande abraço
Manuel